quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"De Thomas Mann a James Joyce, passando por Amós Oz até Guimarães Rosa"




A bem da verdade esse breve solilóquio quase que se restringirá a enaltecer a obra de Thomas Mann, toda ela espetacular, mas aqui me contentarei com o seu melhor trabalho mental, quiçá, um dos melhores livros já escritos em todos os tempos: "A montanha mágica"


Um livro magistral, com diálogos absolutamente primorosos. A trama (se assim se pode dizer), se desenvolve em um crescendo, iniciando-se com a ida do engenheiro Hans Castorp para o sanatório (Berghof) em visita ao seu primo, e o que era para ser uma visita rápida se tornou permanente. A tuberculose também acometeu o 'nosso herói' (assim se refere a ele o autor) fazendo-o permanecer no local em tratamento.


Ao ler o livro é possível visualizar as cenas, os diálogos, as paisagens geladas dos alpes suiços. As relações entre pessoas completamemente diferentes, mas todas com algo que as fazia lugar comum, por assim dizer: a tuberculose. Embora sendo um romance, pode muito bem ser considerado uma obra filósófica, tão profundos são os diálogos ali produzidos, como também os sentimentos mais recônditos dos personagens tão bem retratados pelo autor.


Ah, mas nada se compara nesse livro aos duelos verbais cortantes qual fio de afiada navalha, empreendidos por 'Setembrini', o patético italiano de roupas puídas, humanista quase 'crente' e 'Naphta', o jesuíta franzino que perdera a fé, mas não o amor à dialética. É quase inacreditável imaginar que aqueles personagens de fato não existiram com todo o seu brilho intelectual, sendo apenas e tão somente produto da imaginação do autor. O livro é absolutamente maravilhoso; rico, belo, o ápice da literatura alemã e mundial.


Amo ler. Aprecio a literatura como se fosse o alimento da alma (e não é?). Não há solidão mais doce como eu, o livro e o silêncio.


Dentre as grandes obras que li ao longo dessa existência não poderia deixar de citar "Crime e castigo" de Dostoyevski, um autor também magistral. Não sei porque essa obra sempre me faz lembrar "O processo" de Franz Kafka. Certamente não é pela sua construção linguística, ou pela estória. Penso que é pela extrema dor dos personagens, o sofrimento íntimo, a agonia. De Dostoyevski li mais recentemente "O idiota", um dos únicios que me faltavam. Uma obra interessante, quase autobiográfica. Um tanto fantástica, demonstrando o estado de espírito do autor, assombrado pelos fantasmas da epilepsia.


Ainda não conhecia Amós Oz, o grande escritor judeu, nobel de literatura. Adquiri "De amor e trevas", uma crônica da vida do autor, um livro pungente. Quase um grito de dor de um velho/menino recordando a sua infância em uma Jerusalém acossada pela guerra pós diáspora, com o retorno do seu povo à pátria. História de construção de uma vida. Retrato de morte. A marca indelével da perda da mãe destruída pela depressão. Triste e belo. Vale a pena ler.


Ulisses, de James Joyce é uma obra muito afamada, talvez por ser de difícil 'degustação'. É como um vinho que não se pode discernir exatamente o sabor. Certamente é uma revolução linguística. Adquiri a 15ª edição, com tradução de Antonio Houaiss. Uma beleza! Como o autor praticamente subverteu a língua inglesa nesse livro, era muito difícil traduzi-lo com fidelidade, uma vez que foram criados inúmeros neologismos e aglutinação de palavras 'fazendo-as perder algumas sílabas no ato de juntá-las. O autor efetivamente não obedeceu os "cânones da língua inglesa", conforme foi descrito na 'orelha' do livro.


Guardadas as devidas proporções , em referência ás diferenças dos idiomas e à fama dos autores, João Guimarães Rosa também inovou e revolucionou a língua e a literatura brasileira com o seu "Grande sertão: veredas", como o fizera Joyce. Nessa obra também é possível quase sentir a emoção dos personagens, os seus suores, medos e angústias. A linguagem dos matutos sertanejos é completamente diferente de tudo que já se viu. É obra pra se ler em voz alta mesmo. É maravilhoso ouvir as nuances e sons desse 'quase dialeto' inventado ou reproduzido pelo autor.


Um antigo professor me dizia em tempos de outrora, quando eu ainda esquentava os bancos da faculdade que, se não pudesse ler, pelo menos o deixassem folhear o livro. Concordo plenamente com ele.






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