Calma: conselheira dos sábios
Houve uma vez, há alguns anos, que participei de um julgamento pelo Tribunal do Juri, na qualidade de advogado de defesa. Terminado o julgamento, nem a minha tese e nem a do Ministério Público foram inteiramente vitoriosas, posto que, enquanto eu defendia a absolvição do acusado, o Promotor de Justiça lutava pelo seu libelo , pela condenação, por homicídio duplamente qualificado. Por que não houve vitória para qualquer dos lados? Porque houve condenação por excesso culposo. Essa figura jurídica, grosso modo, se caracteriza pelo uso excessivo da legítima defesa. Vale dizer que o sujeito está com a razão, mas usa de força desproporcional no intuito de se defender. É mais ou menos por aí.
A lembrança do fato jurídico me veio ainda hoje, ao ler um post muito bem escrito, refutando um outro. Acompanho o raciocínio do articulista, dou-lhe inteira razão quanto ao conteúdo e fundamentos do escrito, mas discordo do tom. Seria perfeito se o tom fosse menos belicoso. Reafirmo que a hostilidade gratuita, desnecessária, enfraquece os fundamentos do escrito, ainda que não possa ser considerado ofensivo.
Discordo dessa conversa tão em voga nos meios acadêmico-teológicos, especialmente usada por intelectuais belicosos, no sentido de que na argumentação tudo é permitido, desde que circunscrito a certos aspectos morais e éticos. Antes que me acusem de defender uma falsa camaradagem cristã, falsa humildade ou falsa piedade, quero me antecipar aos supostos detratores afirmando veementemente que não! Acredito que a verdade pode e deve conviver bem com a boa educação, com a civilidade e com o respeito ao próximo, especialmente com os domésticos da fé.
Começo a sentir "urticária" logo que vejo uma pretensa casta a se afirmar em tudo. Na superfície, eles defendem a completa liberdade de expressão e crítica, porém, os seus argumentos são sempre irrefutáveis... Como que se arrogam a donos da verdade, já que todo e qualquer argumento contrário tecido contra aquela postura é reputado como nada!
É, de tudo isso também me canso.
Confesso que sou avesso a grupelhos. Mesmo cristãos, quando se unem em "pacto de mútua proteção", tornam-se cansativos e pretensiosos.
Penso ser possível e salutar refutar o interlocutor com uma certa sobriedade, mais ainda quando se trata de um irmão cristão. A truculência, ainda que respaldada em argumentação bem elaborada , continua nociva ao desenvolvimento do diálogo. E não perde aquele caráter de truculência.
Obviamente que não defendo a hipocrisia disfarçada de amor cristão como obstáculo à defesa da Verdade escriturística. Isso é balela, falácia de fraudadores! Assim como também me posto diametralmente contra o endurecimento gratuito, a palavra desnecessariamente rigorosa, a dureza excessiva. O que se ganha com isso entre cristãos? Onde levará essa disputa?
Amedrontam-me os que citam as palavras de Jesus contra os fariseus para justificar o seu tom, qualquer que seja. Acho a postura no mínimo temerária. O contexto em que Jesus disse aquelas duras palavras (raça de víboras) pode não se aplicar ao exemplo citado, tampouco os autores se confundem...
O certo é que por vezes todos nós erramos, seja na argumentação ou no tom. A crítica é salutar, desde que postada nos limites do respeito e da civilidade - e do amor cristão, por que não?