terça-feira, 29 de março de 2011

Cessacionismo, carisma, novo calvinismo e a "crítica"



Queridos irmãos e amigos que leem este blog. Eis-me aqui novamente a falar do que muito tenho falado ultimamente. Contudo, penso ser necessário esclarecer algumas posições. Vamos lá, sigamos a ordem do tema. Falemos então de cessacionismo. Não, eu não sou cessacionista. E também não sou carismático, posto que o "adjetivo", ou melhor, este rótulo me causa verdadeira urticária.

Não pretendo lançar nenhuma tese sobre o assunto, uma vez que sequer tenho a qualificação necessária: nem teólogo, nem filósofo e nem mesmo pretensioso. Sou apenas um cristão que aprecia sobremaneira as Escrituras sagradas e tenta compreendê-las, ainda que limitadamente. Feita a ressalva, vale dizer que não sou cessacionista porque imagino que Deus usa providencialmente a sua criação inteira. E providencialmente Deus usa pessoas, em especial aquelas que lhe são caras, que são amadas desde a fundação do mundo.

Outrora aqui mesmo já disse e agora repito: não creio em profetas, atualmente, como Jeremias, Ezequiel, Habacuque, Joel, etc. Mas creio que Deus pode usar alguém para dizer algo a outrem e que tal palavra faça parte dos seus desígnios eternos. Não sei se a tal coisa pode se dar o nome de profecia. Acredito que a pessoa usada por Deus para um momento específico e particular sequer saiba que está sendo instrumento d'Ele. Aqueles, porém, que ainda hoje se intitulam de profetas, a mim estão mais para charlatões.

Em linguas estranhas também descreio. Mas acho possível que o Evangelho possa ser pregado entre pessoas de diferentes idiomas e ainda assim ser compreendido, mesmo que os interlocutores não conheçam os idiomas entre si falados. A Palavra, a meu ver, vai além dessas limitações linguísticas. Se a isso se der o nome de dom de línguas, creio então neste dom.

A tais dons se convencionou denominar de miraculosos ou extraordinários - não que a nomenclatura venha ao caso, mas parece que para alguns sim.

Com relação ao "Novo Calvinismo" pouco sei. Apenas e tão somente escrevi um pequeno texto sem grandes ou nenhuma pretensão, na esteira de outros anteriormente escritos (aqui). Pelo jeito, ao escrevê-lo, cometi um grande "pecado", haja vista algumas reações.

E a crítica. Há críticos e críticos. Há aqueles que criticam por não concordarem com o criticado , há ainda os que não compreendem o que foi escrito e aqueles que apenas criticam. Sempre. Criticam, por exemplo, se concordo com o "novo", mas também criticam se eu discordo. Estes tais criticam porque estão acima de tudo e de todos: são mais inteligentes, perspicazes, sábios; denodados cristãos.

Esses seres policialescos acham-se no direito de criticar, mas sem dar nomes. Talvez assim possam atingir a todos que não participam da sua confraria, da sua tribo, do seu grupo "acadêmico", da "rodinha do brilho fulgurante". E eis que criam as suas "teses", os seus arrazoados, os seus "decretos" - e os seus devaneios.

Eu apenas estou aqui para tentar compreender, sem aspirar reconhecimento algum. Porém, não me contento com prefixos do tipo "novo" ou "velho", tampouco limito-me à superficialidade dos termos.

A tais ombudsman da confraria reformada peço, humildemente: deixem-me escrever. E se eu estiver errado, me ensinem. Aliás, estou aqui para aprender com os sábios. Se a crítica, todavia, não é direcionada a mim, nem a "A" ou "B", deem o nome do criticado para que não sejam suscitadas dúvidas.

Eu porém, quando critico, prefiro dar nomes.

Não sou tão velho a ponto de ser ultrapassado e nem tão novo que não possa compreender os enunciados. Sou apenas um amante do Evangelho, e este, coincidentemente, foi tão bem compreendido e explicado por calvino. Assim, sou calvinista - prescindindo de qualquer prefixo ou rótulo do tipo "novo" ou "velho".

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Uma igreja carismática?


É possível que o tema colocado neste post possa despertar a curiosidade de alguns, especialmente dos protestantes, sejam eles pentecostais ou tradicionais - e aí permito-me não usar a nomenclatura "evangélico".

Muito se debate sobre o vocábulo carisma e o seu derivado carismático. Igrejas se denominam carismáticas ou não. Membros de seitas, igrejas, movimentos, igualmente defendem uma ou outra postura no que se refere aos dons espirituais.

De um lado temos as igrejas históricas e tradicionais como, por exemplo, a presbiteriana e batista a se definirem mais pela pregação da Palavra, dando pouca ênfase aos dons miraculosos ou extraordinários citados pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12:8-10, e, de outro lado, aparecem as igrejas pentecostais e neopentecostais dando forte enfoque a tais dons.

Porém, a indagação que ecoa é: é necessário que a igreja seja carismática e que os crentes também o sejam? A meu ver, depende. E a casuística toda é sobre o real significado desse carisma.

É possível, por um lado, afirmar que a igreja é carismática, tendo em vista a figura de Cristo a exercer forte carisma sobre as pessoas, os crentes em geral, por vários motivos e circunstâncias, uns bons e outros nem tanto, especialmente se olhamos para o evangelicalismo atual com as suas propostas para lá de espúrias. Por outro lado, causa polêmica e espécie entre os próprios evangélicos a questão do carisma vinculado aos dons espirituais miraculosos, tais as profecias, curas, línguas 'estranhas' e interpretação. Não que não haja respaldo escriturístico, pois, conforme citamos no início, há (1 Coríntios 12:8-10). A questão que emerge é sobre a manifestação dos ditos dons na igreja, a causar a divisão bem definida entre as igrejas tradicionais/históricas e as pentecostais e neo.

É notório que o movimento pentecostal surgiu no início do século XX em decorrência da grande ênfase nos dons miraculosos, fundados em uma atuação sobrenatural do Espírito Santo , cuja cognição se dá pela manifestação, sobretudo, das línguas estranhas. Nessa esteira mística, seguiram-se as novas profecias , curas e revelações de toda ordem. E é este o aspecto mais conhecido e usual do termo carismático. Logo, carismáticos são aqueles que defendem a manifestação de tais dons revelados no segundo batismo (segundo entendimento corrente).

Pessoalmente eu não tenho nada contra os movimentos carismáticos, desde que delimitados em seu espaço. Todas as pessoas devem ter liberdade para cultuar segundo as suas crenças, ainda que sejam rituais não bíblicos, como vemos em muitos movimentos e seitas neopentecostais. A liberdade de culto determinada pela própria Constituição Federal defende práticas religiosas de todos os matizes, até as mais bizarras.

Sou contra violentar princípios e doutrinas abraçados pela denominação, uma vez que a liberdade de culto a que fiz referência em epígrafe, impõe igualmente obrigações. Desde que eu me filie a determinada igreja, vinculada a uma denominação, faço um pacto de aceitação com os seus princípios. Assim, se tradicional/histórica, a exemplo da Igreja Presbiteriana, não haverá a ênfase nos dons miraculosos , tais as línguas estranhas, o segundo batismo, curas e profecias. E quem lá se filia faz um compromisso moral de defender os princípios constantes da declaração de fé.

A desonestidade, a meu ver, consiste em que um membro, um pastor, ou líder, se rebele dentro do movimento impondo o que lhe é estranho. Seja negar os dons miraculosos no seio do movimento de viés pentecostal, ou incluí-los da maneira como são entendidos pelo movimento pentecostal dentro da igreja histórica/ tradicional. Os desentendimentos, desvios doutrinários e divisões surgem daí. Portanto, não consigo vislumbrar qualquer razão nesses líderes, ou em suas ações, a não ser a mais cristalina desonestidade.

Há não muito tempo eu mesmo vivenciei algo assim, quando membro de uma Igreja Batista. Nascido e criado naquela denominação tradicional, vi a igreja ser tragada por todo tipo de bizarrice, especialmente as revelações, línguas estranhas e cair no espírito. E vi a igreja ser implodida, exatamente pela desonestidade dos seus líderes que violentaram os princípios historicamente abraçados pela denominação. Hoje sou presbiteriano. Serei presbiteriano enquanto ver respeitada a declaração de fé da denominação; enquanto ela se mantiver dentro dos princípios bíblicos que eu entendo corretos, à semelhança do que prega.

Outrossim, repito: respeito todas as crenças, amo os meus irmãos pentecostais, arminianos ou não, embora sendo presbiteriano. Mas penso que cada um deve ficar dentro dos seus limites.

Vale lembrar que não sou cessacionista. Sou continuísta, creio nos dons, mas não exatamente como são apregoados pela maioria dos carismáticos.

E que todos vivamos em paz.

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domingo, 20 de março de 2011

Lembranças , lamentos e um novo dia


L


A vida é boa, bela e difícil. Assim como contraditórios somos todos nós. Ora somos bons, solidários e generosos e em outros momentos deixamos aflorar sentimentos dos quais não nos orgulhamos, fazendo-nos lembrar que a natureza pecaminosa está ali, latente, aparentemente "morta", mas bem viva, pronta a aflorar.

Quando acordamos para a vida cristã, quando somos efetivamente tocados por Deus por intermédio da sua maravilhosa graça, adquirimos a capacidade de enxergar os nossos defeitos e somos então confrontados com os nossos pecados, mesmo os mais íntimos. As nossas máscaras cuidadosamente desenhadas e meticulosamente cultivadas acabam por serem retiradas, instante em que nos deparamos com as nossas verdadeiras feições. E a transformação se inicia, a redesenhar uma nova criatura, a ser reconhecida pelo Eterno como filho adotivo em Cristo Jesus.

Entretanto, a contradição ainda se faz presente em nosso ser, porque, ainda que em processo contínuo de redenção, depois de alcançados pela graça salvadora, continuamos longe da perfeição. Ao invés de andarmos firmes e eretos, caminhamos ainda recalcitrantes, meio que trôpegos, caindo e levantando. Somos lembrados, com isso, que a força não está em nós mesmos, não é inerente ao nosso ser, mas emprestada daquEle que nos criou e depois nos salvou. Estamos no longo processo de reconstrução, cujo Construtor nos redesenha da forma que melhor lhe apraz. O barro vai sendo moldado conforme a vontade do Oleiro.

Em meio à difícil caminhada ganhamos e perdemos. Caímos e nos levantamos. Por vezes cambaleantes, outras novamente firmes. A promessa porém, a certeza maior e mais significativa é que alcançaremos a reta final e não ficaremos caídos pelo caminho. Isto porque somos alimentados pelo amor daquEle que nos salvou, introduzindo -nos esse combustível e alimento a nos impelir para a frente, sempre para frente, sem retroceder jamais...

Ganhamos, ao longo da caminhada, inúmeros irmãos, que se transformam em verdadeiros amigos. E eis que a trilha, antes palmilhada penosamente só, se enche de mais e mais pessoas, em cuja comunhão é possível enxergar a face de Cristo. À sombra do Salvador e por ele embalados entoamos, todos juntos, hinos de louvor e glória, e ação de graças.

Contudo, em algumas dessas vezes, enquanto caminhamos juntos , tentando aprender mais do Eterno, deixamos que a outra sombra se transforme em treva densa e somos eventualmente tragados. Mas a certeza é que seremos ajudados, pois as mãos que nos foram estendidas outrora ainda continuam a se oferecer, em constante auxílio.

É doloroso perder a amizade de irmãos que se transformaram em amigos, porque deixamos aquela sombra tragar a beleza do relacionamento de outrora; a camaradagem erigida em longas e aprazíveis conversas. A má compreensão dos motivos do outro, o ser incompreendido nos próprios motivos; a conversa mal explicada, a convicção duramente afirmada; tudo impelindo para o rompimento. Junto, vem a tristeza e a incapacidade de recuperar algo perdido, porque não é possível identificar o motivo específico a quebrar a confiança e a levar à tristeza e ao distanciamento final.

Resta-nos agora usar a experiência que adquirimos ao longo da caminhada com o Mestre. O novo "ofício" aprendido nos capacita a reconstruir o que foi destruído. Construímos pontes sobre as valas abertas a fim de que o terreno seja religado, fazendo com que o fluxo seja novamente restabelecido. E o fluxo - que corre sob as pontes - é contínuo e calmo, formado por límpidas águas que fluem de um rio. E esse rio é Cristo.

A certeza final e imorredoura é que há tempo para tudo debaixo do sol: tempo para rir e tempo para chorar. Tempo para construir e tempo para reconstruir o que as intempéries destruíram.

Honra e glória a Cristo, e que estejamos aptos a aprender com ele hoje e eternamente.


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quinta-feira, 17 de março de 2011

O "velho" e o "novo" calvinismo



Um assunto tem chamado a minha atenção ultimamente, mas confesso não ter uma profunda compreensão dele: o chamado "novo calvinismo". Contudo, lendo um ótimo texto do Allen Porto no blog 5calvinistas resolvi dar um pequeno mergulho nesse movimento, até mesmo para ter capacidade para discuti-lo, a fim de rechaçá-lo ou abraçá-lo.

Não sou avesso ao "novo" como alguns o são. Não gosto de nutrir preconceitos sobre qualquer coisa e evito ter ideias pré-concebidas, que, nas mais das vezes, leva ao erro grosseiro induzido pela pressa. E é com este pensamento "liberal" que procuro entender o novo calvinismo, tendo como modelo um dos seus idealizadores, o Pr. Mark Driscoll.

Embora, como afirmei em epígrafe, não ser preconceituoso, confesso que a figura do Pastor Mark Driscoll causou em mim um certo impacto negativo, não pela teologia professada, mas pelo espalhafato da sua vestimenta - e aí tenho de reconhecer que o símbolo nem sempre define inteiramente a qualidade do objeto, da coisa ou mesmo da pessoa. Aquelas roupas descoladas, calças jeans rasgadas e desfiadas, camisetas coladinhas e decotadas, sei lá porque, me faziam imaginá-lo a la Marco Feliciano - e olha que eu tenho acompanhado ótimos blogs cristãos a defendê-lo.

Outra questão que causa um certo arrepio, não somente ligado à pessoa do Pastor Mark Driscoll é saber que o novo calvinismo, de certa forma, tem o seu berço na igreja emergente, esta, com cores pós-modernas. Entretanto, há de se reconhecer que tanto o Driscoll, quanto o movimento do novo calvinismo como um todo romperam com os emergentes, na medida em que estes, rumavam para o abandono da ortodoxia.

Obviamente, pretendo ler mais sobre esse novo calvinismo e ter substrato para compreendê-lo. É cedo ainda para fazer uma análise definitiva, que se mostraria apressada e até mesmo leviana. Porém, não posso deixar de expor um medo: o novo calvinismo não busca uma caricatura, ou estereótipo moderno para "alcançar" um nicho da sociedade, a juventude?

O marketing agressivo do evangelicalismo atual causa asco, o que explica o temor que tenho a respeito de um movimento que, de certa forma, pode estar associado a um marketing, ou estratégia de "crescimento", cuja direção pode ser que o novo calvinismo esteja tomando ou venha a tomar. Repito, é apenas o temor de alguém que ainda não compreende completamente o prefixo "novo" aplicado ao velho, honesto, bíblico e bom calvinismo...

Uma das características do Pastor MarK Driscoll - e me desculpem por citá-lo tanto, vinculando-o ao novo calvinismo - é afirmar-se culturalmente liberal, mas teologicamente conservador, como a sua própria igreja. E, de fato, as linhas dele são mesmo conservadoras, trazidas lá da 'old School', como a inerrância das escrituras, a solidez litúrgica no que se refere ao conservadorismo bíblico, etc.

Como eu disse no início, prefiro aguardar os acontecimentos a longo prazo. Olhar e avaliar, pois, como dizem os mineiros, "o tempo é que cura queijo". Eis que o tempo então mostrará se o "novo" se manterá com a pureza escriturística que se manteve o "velho".

Não há dúvida que o Evangelho, por ser transcultural (termo apreciado por eles), pode ser pregado de várias formas, desde que não descaia para a irreverência. É difícil aceitar um culto irreverente, pelo menos para mim. Nesse ponto, lembro-me do posicionamento de um pastor batista a quem admiro e aprecio, o Pastor Izaltino Gomes Colho, que, na sua igreja, não admite "gorros", "bonés" e coisas semelhantes, especialmente com aqueles jovens envolvidos com a música. Eu também não gosto de gorros e bonés a saltitarem no púlpito. Pela ótica do evangelicalismo atual, devo ser considerado chato, retrógrado e quadrado. Pois que seja.

Enfim, se o prefixo "novo" não significar rompimento com a verdade escriturística, irreverência e caos; foco demasiado em crescimento denominacional e ecletismo irracional, que venha o novo calvinismo.



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quinta-feira, 10 de março de 2011

Sobre teonomia e antinomistas



A discussão do momento nos blogs cristãos reformados é sobre uma certa "antinomia" erigida por alguns duros defensores dessa "facção" teológica, a combater inimigos cristãos imaginários, os tais "moinhos de vento".

Fundamentalismo é coisa que faz tremer porque nos remete aos muçulmanos e à sua sharia. O fundamentalismo, entretanto, quando remetido à firme observância dos preceitos bíblicos e à ortodoxia, é salutar - pelo menos na visão cristã, pois é evidente que um budista, maoísta ou ateu não terão a mesma visão que eu tenho. Contudo, costumo temer qualquer posição radical e extremista, ainda que bíblica, já que nas mais das vezes desagua em um oceano de intolerância.

Radicalismo e intolerância são os dois ingredientes a temperar os textos teonomistas que tenho lido. Não que eu não concorde com a teonomia, naquilo que se coaduna com a Lei de Deus, com a sua vontade determinante expressa na Bíblia. A discordância capital se refere a um termo cunhado por certas pessoas, a um rótulo capaz de implodir a fé daqueles que não aceitam o tal rótulo (ou pelo menos é esta a tentativa).

Discordo, repito, com a "teonomia" a significar a plena observância da Lei Mosaica como regramento e código judicial para a atualidade. Acho a ideia simplista, o raciocínio falho e o julgamento (dos teonomistas) urdido contra os seus "detratores" , oblíquo e de uma obtusidade alarmante.

Basta observar que a denúncia contra aqueles que discordam dessa tal visão teonomista proveniente do rótulo, agora erigida a verdade absoluta e inconteste, é de que são (somos) antinomistas. Já essa "qualidade" avança ao ponto de considerar os opositores (nós) como refratários à Lei de Deus. O fato de ter um entendimento contrário àquele que se cunhou como verdadeiro é o bastante para que os seus defensores sejam peremptoriamente defenestrados do solo sagrado da teologia reformada. E mais, por último, os que resistem à tal teonomia por eles engendrada estão mesmo relegados à triste condição de incrédulos.

A acusação maior é que resistimos à ética cristã proveniente da Lei Moral e por isso abraçamos uma ideia libertária: nos negamos ao pleno Senhorio do Criador evidenciado pela "Lei Mosaica". Somos quase párias, ou um arremedo de cristãos. É a ideia que subjaz inclusive em textos de irmãos queridos que tenho lido nos últimos dias. Não há argumento capaz de convencer os assim denominados "teonomistas" no sentido de que não nos negamos ao padrão ético proveniente da Lei Moral que se extrai da Bíblia, antes "nos alegramos na Lei do Senhor". E eis que somos tachados pejorativamente de antinomistas, cujo sentido (menor) indica aquele grupo ou pessoa contrário à Lei de Deus.

Há algo errado nessa luta quixotesca: eu não sou nem incrédulo e tampouco resisto à Lei de Deus, mas defendo-a, luto por ela, remo contra a maré de um sistema podre que rege essa sociedade caótica e pobre de valores cristãos verdadeiros. Logo, não sou antinomista coisa nenhuma! Não aceito o rótulo e nego-me a considerar a afirmação como substancial ou propositiva, mas pura estultícia. Tal proceder faz os defensores xiitas da teonomia retrocederem à bruma da insensatez, que repousa sobre a mais densa ignorância.

Eu não desejo fugir ao cumprimento da Lei moral, dos preceitos éticos condensados na Bíblia, tampouco desejo ser escravizado pelos mesmos preceitos, tendo a ótica de que não serei julgado pela dureza da mesma lei. Paira em meu humilde entendimento a certeza de que as leis que temos a dirimir os conflitos deste mundo em cada nação ou Estado estão sob a égide de Deus e que os governantes igualmente estão, o que nos obriga a obedecê-los por ordem do próprio Cristo (ainda que essa lei não seja exatamente como a de Deus). Portanto, ao rejeitar essa tal teonomia eu não estou a rejeitar a Lei de Deus, que fique bem claro.

Ainda hoje li uma citação interessante, a qual desejo transcrever abaixo que, embora não tendo correlação direta com o assunto em tela, retrata algo sobre a obediência à norma (Lei):

"...Não há falta ou mal na mera ausência que consiste na atual consideração da norma, pois a alma não está obrigada, nem disto é capaz, constantemente, no ato, de levar a norma em consideração. O que é requerida da alma não é que deva sempre observar a norma ou ter a norma constante na mente, mas que deva 'produzir um ato' enquanto considera a norma. Ora, no momento metafísico que estamos analisando, aqui, ainda não existe um ato produzido; há meramente uma ausência de consideração da norma, e será apenas no ato que será produzido, em termos desta ausência, que o mal existirá. Reside, aí, um ponto de doutrina extremamente sutil, de importância capital. Antes do ato ato moral, antes do 'bonum debitum', o 'devido bem' que produz a qualidade do ato e cuja ausência é uma privação e um mal, há uma condição metafísica do ato moral, o qual, tomado em si mesmo, não é um bem devido, e a ausência dele, por conseguinte, não será privação nem mal, mas uma pura e simples negação (ausência de um bem que não é devido), e tal condição metafísica é uma livre condição." [1]

De tal maneira que não fazemos o bem por imposição da norma, mas porque a graça oriunda do Criador nos habilita a fazer o bem. Daí a considerar, como Tiago, que a fé deve ser acompanhada das obras, mas não pela força coercitiva da norma em si mesma (que é apenas uma abstração), mas pela habilitação que nos é titulada, por assim dizer, pela graça. E é nesse momento que os teonomistas nos acusam de confundir Lei, justificação e graça. A obliquidade do entendimento, a falta de capacidade analítica é que os leva a tal antítese, especificamente ao nos rotular de antinomistas em razão da sua "teonomia".

Por enquanto, fico por aqui. Há muito a dizer, mas os textos longos cansam, especialmente neste espaço.


[1] Maritain , Jacques, St. Thomas and the Problem of Evil (Milwaukee, 1942), pag. 06, extraído do livro "Pastor Reformado e o Pensamento Moderno", Van Til, Cornelius, 1ª edição, 2010, Ed. Cultura Cristã, pag. 97.

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