quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quem Caim encontrou na terra de Node?



Recebi por email uma indagação do meu amado irmão Tairone Mamedes (irmão duas vezes), que faço questão de tentar responder, ou, pelo menos, desenvolver um raciocínio. Vamos a ela:

Olá, mano véio...

Eu gostaria de ter sua opinião (com fundamento bíblico), acerca de um ponto: Com quem teria se casado Caim? com quem teria se casado Sete (o terceiro filho de Adão)? É certo que não havia outras "famílias" espalhadas por aí, que não a de Adão e Eva... A bíblia afirma que foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas (Gênesis 5: 4). Portanto, é sabido que Adão gerou filhos e filhas, além de Caim, Abel e Sete. Teriam eles se casado com suas irmãs? você, estudioso que é, já se atentou pra isso? Aguardo seu posicionamento, via e-mail, ou no seu blog, que leio sistematicamente.

Abração do mano TAIRONE.

Reconheço que em uma época, há algum tempo, eu me fazia essa mesma pergunta, tentando uma resposta que me satisfizesse, mas apenas no campo das conjecturas. Tendemos a construir castelos em nossas mentes, mesmo com as verdades bíblicas, principalmente quando há lacunas no texto. E tais lacunas, tenho certeza, existem porque "Deus quis que assim fosse".

A interpretação bíblica tem como exigência lógico-exegética que nos mantenhamos dentro do próprio texto, evitando, pois, as fugas, os achismos, conjecturas e elucubrações. Nesse diapasão, vejamos o que diz o texto e o seu contexto lógico. Ou melhor, vejamos, inicialmente, o que o texto não diz:

1. o texto não diz que Caim "encontrou a sua esposa na terra de Node, ao leste do Éden, mas que a "conheceu" lá;

2. "Conhecer", no contexto bíblico, tem a ver especificamente com "coabitar", manter relações sexuais;

3. Portanto, o texto não diz implícita ou explicitamente que Caim encontrou uma civilização na terra de Node, ou pessoas, ou grupos.

Mantendo-nos estritamente no campo da hermenêutica e cuidando para não resvalarmos para os "achismos", podemos imaginar algumas possibilidades que não venham, obviamente, a obliterar o texto bíblico, tampouco subvertê-lo.

Há duas possíveis linhas de pensamento: Caim poderia ter levado uma de suas irmãs consigo, posto que tanto o texto como o contexto escriturísticos não eliminam a possibilidade de isto ter ocorrido. Por outro lado, não há como determinar o lapso de tempo entre a morte de Abel, a culpabilização de Caim por Deus e a sua eliminação do seio da família (fuga), o que possibilita perfeitamente que, quando da consumação da fuga o casal primevo poderia já ter gerado muitos outros filhos e filhas. A segunda possibilidade é que, entre a fuga e a chegada à terra de Node, pode ter decorrido um longo tempo, mesmo gerações, tendo em vista a longevidade daqueles povos (Adão viveu mais de oitocentos anos). A segunda linha, subproduto da primeira, leva em conta exatamente esse longo período decorrido entre a fuga de Caim e a sua chegada à terra de Node "onde 'conheceu' a sua mulher , tendo ela concebido.

Com efeito, se esse lapso temporal foi longo - o que é perfeitamente plausível - novas gerações provenientes da semente de Adão e Eva podem ter sido formadas, habitando todas aquelas terras, povoando os arredores e promovendo ajuntamentos de pessoas. E, ali chegando Caim, escolheu uma das mulheres , com a sua mesma herança genética, para coabitar com ela. Esse raciocínio não encontra qualquer óbice escriturístico. E digo mais, tem até respaldo científico, uma vez que as ciências naturais reconhecem que todas as pessoas provém de um "tronco comum".

O que não é possível conceber , como querem os liberais e até mesmo uma facção "cristã", é que o texto em referência (genesis/criação/ Adão e Eva) seja apenas uma "alegoria", não significando que efetivamente toda a criação tenha se originado do casal primeiro, mas, ao contrário, de um 'único indivíduo". Eis , pois, segundo essa teoria, que o substantivo "Adão" , longe de se caracterizar como nome próprio, figuraria na verdade, entre os diversos termos para designar o gênero humano. Esta é uma falácia extra-bíblica que sequer vale a pena refutar pelos motivos em epígrafe citados e que ofendem a boa hermenêutica.

Veja que tanto uma como outra, das duas opções expostas acima, são absolutamente plausíveis, especialmente se considerarmos a longevidade dos descendentes de Adão, que foram citados na Bíblia (uma vez que somente alguns constaram no texto bíblico): Set chegou a 912 anos, Enos a 905, Cainã a 910 e Matusalem aos 969 (Gênesis 5:8 - 27). Todos eles tiveram filhos em idades avançadas: Enos aos 90, Cainã aos 70, Malalael aos 65, Matusalem aos 187. Noé, por seu turno, gerou seu primogênito aos 500 anos de idade(Gênesis 5:32), não sendo superado por ninguém (pelo menos daqueles citados na Bíblia).

Portanto, espero ter respondido à sua indagação, mas reconheço que a certeza é impossível. A única certeza, pelo menos para mim, é que uma das duas opções é a verdadeira, partindo do princípio que a Bíblia não mente, tampouco as suas verdades podem ser consideradas "alegorias".

Grande abraço, querido irmão!


Continue lendo >>

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Prometo...




Hoje é dia 24 de junho de 2010. Esta data me faz recordar outra data: 24 de junho de 1995. O dia me remete a um grande e profundo sentimento de alegria incontida... A história das nossas vidas é pontuada por datas, os momentos são gravados e "salvos" no HD da nossa memória.

Quinze anos se passaram e tranquilamente eu poderia demarcar a minha existência entre antes e depois. Até 24 de junho de 1995, havia um Ricardo buscando se encontrar nos prazeres passageiros, na realização fugaz dos sentidos, nas experiências transitórias da vida jovem. E permeando tudo isso, um profissional em início de carreira tentando se fazer conhecido nos meios forenses, na região de atuação.

Ainda não havia qualquer cicatriz na alma, nada que fizesse rememorar um passado a ser lembrado. Faculdade terminada, pequenos aprendizados, adaptação à vida verdadeiramente adulta. E mais nada...

Porém, em 24 de junho de 1995, começa uma história nova, agora a dois. Eu e a minha namorada/noiva resolvemos nos fazer marido e mulher. Aquela garotinha que eu havia conhecido há quase cinco anos, menina-moça de apenas 16 anos, agora uma mulher, deu-me o ultimato: ou casa ou desocupa (rsrsrsrs)!

Não havia outro jeito, coração fisgado, mentes unidas, risos simultâneos, éramos já um quase complemento de nós mesmos. O "eu" já passara a ser "nós", e mudado o pronome não há mais como transigir. Desistir de ir em frente seria como mutilar a alma... melhor casar e continuar inteiro, completo.

E era um grande negócio, afirmo categoricamente. Minha alma gêmea era uma linda loiraça de 1.70, cabelos esvoaçantes, e tantos outros predicados que somente a mim interessam. Além dessas virtudes visíveis, outras tantas eram-lhe peculiares, como um caráter sólido, personalidade firme e valores familiares valiosos.

Casamos há exatamente 15 anos. Hoje é nosso aniversário de casamento. Uma vida dividida, praticamente 20 anos de convívio entre namoro e casamento. Afinidades , percepções de mundo extremamente semelhantes; a mesma apreensão do Divino. Tornamo-nos então parceiros incondicionais. Momentos de rusga, brigas, descontentamentos? Muitos. Crises? Muitas outras. Amor? Sempre.

Caminhamos até aqui de mãos dadas. Juntos e cúmplices, a despeito das "intempéries".

Hoje a nossa relação é muito mais sólida, adulta, não somente porque temos duas filhas maravilhosas (Sarah e Isadora) que vieram de nós, presenteadas pelo Eterno, mas também porque o tempo, tal qual faz com o vinho, tornou mais precioso o sentimento que nos une. Eu diria que ficou bem mais "saboroso".

E há um fato especial nessa nossa história: eu conheci Deus de uma forma que antes não houvera conhecido. Conheci o Deus da graça, e esse Deus me completou, fazendo de mim um novo homem. Antes "conhecia" Deus, mas lutava para alcançá-lo, para merecê-lo, qual um navegante em "mares nunca dantes navegados": mar de incertezas. Esse conhecimento se transportou para o meu casamento, fazendo com que o amor de ontem, ainda trôpego, claudicante, se transformasse na rocha sólida de hoje, alicerçado na outra Rocha que é Cristo Jesus, o nosso Salvador.

Por isso, hoje é um dia especial em todos os sentidos, pois há 15 anos eu me casei com a Luciana, minha eterna companheira, minha musa, meu amor. Sem medo de ser piegas e talvez até sendo (quem liga?) eu repito: você é o grande amor da minha vida.

Que Deus nos mantenha unidos para sempre, sob os Seus cuidados e a Sua proteção. E que "não seja apenas eterno enquanto dure". Mas que seja eterno além do tempo, "posto que é chama... mas chama inextinguível".

Ps: Posso afirmar que a loira de hoje é ainda mais bela que aquela de ontem.



Continue lendo >>

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Recomeço


Há um aforismo bem conhecido segundo o qual "depois da tempestade vem a bonança". De fato, sempre depois das lutas e até ao longo delas, Deus guarda os seus, apascentando o rebanho e mantendo-o sob a sua santa proteção (João 6:37,39).


Não é segredo que passei por lutas, juntamente com a minha família, ao combater práticas estranhas que assolaram a igreja onde congregávamos. Práticas advindas do neopentecostalismo: triunfalismo, misticismo, falsa espiritualidade, exibicionismo, tudo "firmado" em outro evangelho, absolutamente contradizente com o Evangelho Bíblico. Todavia, não quero me estender mais neste triste assunto. É passado. Aliás, neste post, quero falar do presente e do futuro!

Em um momento de tristeza e impotência , quase sucumbindo ao desespero e à dor; completamente amargurados, saímos da comunidade onde congregávamos. Era "nossa", porque havia uma longa história de amor por aqueles irmãos e aquela denominação, conforme já demonstrei aqui neste blog outrora (o amor ainda continua pelos irmãos). Porém, fomos forçados a deixá-los, em razão dos desvios que se instalaram naquela igreja por uma liderança sedenta de crescimento e firmada em "experiências místicas".


Buscamos então nos manter firmes, vendo a necessidade de congregar em outro local porque cremos na necessidade de ter comunhão com irmãos, mas onde a Palavra de Deus seja pregada de conformidade com o que está exposto na Bíblia: sem desvios doutrinários, Evangelho simples de Cristo - e Ele crucificado.

Fomos recebidos pelos irmãos da Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a liderança do Reverendo Abceil Luiz da Silva Filho. Quanto carinho nos foi demonstrado! Sentimo-nos "abraçados" sem desconfiança por irmãos firmes na fé, sem jamais condicionar a nossa presença em seu meio a explicações cansativas e desgastantes e a justificativas de qualquer gênero. Trataram-nos como irmãos , como iguais. Enxergaram que precisávamos de acolhimento, carinho, amor cristão.

Eis que a dor, a tristeza e amargura foram transformados em transbordante alegria. A cada culto éramos mais e mais "abraçados" por aqueles irmãos. Nada mais havia, se não o contentamento de servir a Deus junto a irmãos sóbrios, participando de um culto racional e firmado exclusivamente na Palavra de Deus, sem buscar a "nova revelação", ou o "agir tremendo"; sem transes, gritarias, unções, cai-cai. Somente a prática do Evangelho de Cristo - este, o único que transforma e vivifica.

Em dois meses de constante participação nos cultos, aprouve a Deus tocar os nossos corações de uma forma calma mas indizível, levando-nos a solicitar a adesão como membros comungantes à Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a liderança do Reverendo Abceil Luiz da Silva Filho.

Foi ontem o grande dia! Apenas dois meses nos levaram da tristeza ao mais transbordante contentamento.

O salmista não mentiu ao afirmar que "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Salmos 30:5).

Creio que era necessário passar por tudo que passamos, que experimentássemos o que experimentamos, para que, no futuro, tenhamos uma fé imorredoura, exclusivamente firmada na Rocha eterna. O Apóstolo Paulo afirma que "Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Romanos 8:28). E eu creio nisso. Sim, o Eterno usa a providência para nos forjar e nos preparar para a vida futura, quando não mais haverá dor e nem sofrimento.

Destarte, necessário salientar que não remanesce qualquer amargura, mágoa ou ressentimento com a antiga denominação e seus líderes. Oramos para que Deus os reconduza à sã doutrina.

Aos irmãos da Igreja Presbiteriana de Araputanga, presbíteros e diáconos, e ao Pastor Abceil Luiz da Silva Filho, o nosso agradecimento. Que Deus os abençoe rica e abundantemente!

Tudo para honra e glória de Deus!


Continue lendo >>

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago: "post mortem"




Morre José Saramago. Chegou ao fim a saga do escritor lusitano em sua "cruzada" ateia contra Deus. Ao que tudo indica, a morte se deu calmamente em sua residência nas Ilhas Canárias, aos 87 anos de idade.

Há algum tempo, mais especificamente no dia 22 de outubro de 2009, escrevi um post neste mesmo blog comentando sobre o lançamento da sua última obra,"Caim", em que mais uma vez o escritor faz apologia ao ateismo colocando em dúvida não somente a existência de Deus, como também, elevando Caim, o irmão homicida, à condição de herói. Seja nessa obra, ou na sua mais famosa, "O evangelho segundo Jesus Cristo", Saramago sempre usou de uma ironia ferina , um sarcasmo ácido contra a fé cristã.

Lembro-me que no post acima citado, terminei com uma frase: "uma coisa é certa, o "acerto" de José Saramago com Deus ainda não é definitivo".

Embora sabendo que se tratava de um homem incrédulo, um ímpio que levou a vida a imprecar contra Deus, ainda assim sinto uma tremenda pena do grande escritor. Qual não terá sido a surpresa ao descobrir que a sua luta era completamente sem sentido. E, em um momento de solidão, medo e desespero, todas as certezas nutridas nesta vida se tornam em nada, e eis que surge Deus em toda a sua glória para julgar o homem.

Tudo isso prova a grande longanimidade de Deus com os vasos de ira. A vida humana, já disse o salmista, é apenas um sopro. E Deus tira o sopro de vida quando lhe convém.

José Saramago travava uma luta contra a morte, demonstrando medo, incerteza do que viria após a cessação da vida, mesmo afirmando a não-existência de Deus. O mesmo terror, o mesmo desespero que sempre acometeu os existencialistas com a sua eterna incerteza a respeito do Criador.

No entanto, aquele que crê verdadeiramente em Cristo tem a vida eterna, o que não crê, porém, "já está condenado".

Ao fim deste curto texto quero finalizar com uma frase, diferente daquela com a qual finalizei o outro post: "uma coisa é certa, o acerto de José Saramago com Deus agora é definitivo".

Bendito seja o nome do SENHOR em toda a sua glória.

Continue lendo >>

terça-feira, 15 de junho de 2010

Cheung, Agostinho e o poeta intruso (I)


Venho acompanhando com grande interesse e uma certa "apreensão" a uma discussão "encarniçada" envolvendo, de um lado, uma crítica feita a Cheung (Vincent Cheung, teólogo) por um "admirador" e, por outro lado, a sua defesa, também feita por admiradores. Não sei porque cargas d'água a altercação entre os irmãos , todos meus amigos, fez-me lembrar daqueles conhecidos versos do Fernando Pessoa:

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Sei lá por quê, mas me fez lembrar... Talvez seja porque todos, no fundo, gostam do Cheung, mas uns fingem não gostar, enquanto outros gostam e o defendem intransigentemente.

Ou talvez, um gosta, finge não gostar e critica, porque outros gostam e somente ele pode gostar; mas como ele gosta, então diz não gostar, porque quer gostar sozinho. Que confusão!!!! O que me fez lembrar outros versos do mesmo poeta:

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

E no meio dessa tremenda "confusão" entra Agostinho para entornar todo o caldo! O bispo de Hipona dá um tremendo direto em Cheung quase o levando à lona por knock down. Porém, Cheung se levanta trôpego e combalido e revida com golpe certeiro.

Ainda estamos no segundo round, vamos ver o que o futuro nos reserva em fortes emoções!

Afinal, quem é de Cheung e quem é de Agostinho (rsrsrs)?

Continue lendo >>

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Evolução, teísmo e ateísmo: síntese do pensamento de Francis S. Collins ("A linguagem de Deus") - Parte II



No primeiro post falei sobre um universo que "clama" por um Deus, que "grita" a existência do seu Autor. Toda esta criação proclama o seu Arquiteto. A própria ciência, ainda quando cética com relação ao sobrenatural, com os seus cientistas ateus e agnósticos, não responde às indagações sobre o início de tudo. Há um vácuo quando o homem chega à origem do universo... A centelha da criação reclama a existência de uma vontade, uma inteligência por trás de tudo. O que vem por trás do átomo, do fóton, do bóson de Higgs?

Há um quase preconceito por parte da maioria dos crentes, como se jamais pudéssemos ousar trilhar o caminho da ciência, ou pelo menos do entendimento acerca do mundo natural. A confusão entre o santo e o profano impede que se compreendam os mistérios da criação. Até onde podemos chegar? As leis naturais, os fenômenos, são tabus para aqueles que creem no Invisível? Há, porventura, incompatibilidade entre saber e crer?

O autor deste livro trilha o caminho da ciência e expõe as teorias aceitas sobre evolucionismo exclusivamente à luz do naturalismo; as suas possibilidades e impossibilidades; os vácuos, as certezas. No mesmo "pacote" nos induz a considerarmos outras possibilidades, como o 'design inteligente' e a 'evolução teísta' - esta , a que mais lhe agrada sob o ponto de vista científico e teológico.

Portanto, caros amigos e irmãos, tentarei, na medida do possível , sintetizar o pensamento do autor condensando-o no menor espaço possível e, ao mesmo tempo, convidando-os a uma análise racional dos fatos à sombra do Inexaurível e guardados pela fé.

Evolução sob a ótica exclusivamente naturalista: origem da vida - É a teoria que exclui Deus da criação; o universo é autoexistente; de alguma forma incompreensível ele se fez de uma partícula de energia, gerando uma explosão conhecida por big bang. Calcula-se que esse universo tenha a idade de 14 bilhões de anos pelo critério científico de datação aceito: radioatividade, degradação natural de determinados isótopos químicos proporcionando um meio eficiente e "quase" exato para determinar a idade das várias rochas da terra. A terra, por seu turno - mediante o uso do mesmo critério, tem a idade de 4,5 bilhões de anos. Repentinamente, há alguns milhões de anos surgiram diferentes tipos de 'vida microbiana', organismos unicelulares capazes de armazenar informações, "talvez" pelo uso de DNA, com capacidade de se auto-reproduzir e evoluir em "inúmeros tipos diferentes". Não vamos nos estender muito nesses pormenores, mas o fato é que tais organismos, segundo a ótica naturalista, podiam fazer um intercâmbio rápido de DNA entre as várias células minúsculas existentes, interagindo por completo. A pergunta teimosa: como surgiram esses organismos que se auto-reproduziam? O que prova o naturalismo? Não se sabe. Há apenas "hipóteses", incapazes de "responsabilizar" o próprio ambiente de 'per se' pelo desenvolvimento da vida.

É necessário considerar que, se o naturalismo não apresenta prova contundente sobre a origem da vida, qual a certeza que possuem os seus defensores? Se não se comprova o principal, como crer no acessório? Vale dizer que, se não há demonstração científica quanto à origem da vida, como crer na evolução das espécies pela seleção natural?

Sigamos em frente. Diz o autor: "Parece totalmente improvável que uma molécula como o DNA, com sua estrutura de açucar-fosfato e bases orgânicas dispostas de forma complexa, empilhadas umas sobre as outras e emparelhadas em cada degrau de uma hélice dupla e retorcida, tenha "apenas acontecido" [1]. Tampouco o RNA munido da sua capacidade de "fazer as coisas acontecerem por conta própria" possui igual capacidade de "se copiar". Não há experimentos nesse sentido comprovando essa possibilidade.

Diante da lacuna, Collins faz a seguinte indagação: "Se Deus tivesse a intenção de criar o universo, a fim de chegar a criaturas com as quais pudesse ter uma afinidade, ou seja, seres humanos, e se a complexidade exigida para iniciar o processo da vida estivesse além da capacidade de automontagem da química do universo, não poderia Deus ter interferido para começar o processo?" A resposta dada pelo autor é a seguinte: "A fé que coloca Deus nas lacunas de uma compreensão dos dias de hoje sobre o mundo natural pode levar a uma crise se os avanços na ciência preencherem, posteriormente, tais lacunas" [2].

Os registros fósseis demonstram que "organismos unicelulares" aparecem em sedimentações com 550 milhões de anos, embora se argumentando que nesse mesmo período (cambriano) possam ter aparecido organismos mais sofisticados, posto que surgem também no mesmo período "arranjos de corpos de invertebrados" (explosão do cambriano). Mas também há controvérsias, não existindo provas incisivas. E também aqui não é de bom alvitre que se coloque o "Deus das lacunas" como elemento sobrenatural a originar a explosão da vida com base exclusiva em tais evidências. Outros registros demonstram que a terra permaneceu árida até cerca de 400 milhões de anos atrás, ponto em que "surgiram as plantas, derivadas de formas de vida aquáticas". Apenas 30 milhões de anos depois , os animais também se deslocaram para a terra. Porém, outra lacuna: é que aparecem "poucas formas de transição entre criaturas marinhas e tetrápodes, que habitaram a terra no registro fóssil".

Outro registro fóssil rico é o aparecimento dos dinossauros, que, segundo os mesmos estudos com base no mesmo critério de datação, sugere que eles surgiram há cerca de 230 milhões, dominando a terra, e chegando ao fim repentino e catastrófico há aproximadamente 65 milhões de anos, com a queda de um imenso asteróide onde hoje fica a península de Iucatã, ocasionando terríveis mudanças climáticas pela vasta quantidade de poeira na atmosfera.

Eis que surge Charles Darwin e, a partir de observações nas Ilhas Galápagos entre 1831 e 1836, observou pelos fósseis a "diversidade de formas de vida em ambientes isolados". Em 1859, redigiu e publicou as suas ideias em "A origem das espécies" . O maior argumento do naturalista inglês era que "todas as espécies vivas descendiam de um conjunto pequeno de ancestrais comuns, talvez apenas um", asseverando ainda que a "variação em uma espécie acontecia de modo aleatório e que a sobrevivência ou a extinção de cada organismo dependia de sua habilidade para adaptar-se ao ambiente, ao que deu o nome de "Seleção natural" [3].

Qual a posição, à época da publicação da obra, dos teólogos? "Na verdade , Benjamin Warfield, de Princeton, teólogo protestante notável e conservador, aceitou a evolução como uma teoria do método da providência Divina, embora defendesse a ideia de que a evolução teria um autor sobrenatual" [4].

Um fato interessante deve ser lembrado, se a "Teoria da Evolução" é tão nociva à ideia da existência de Deus, porque Darwin foi enterrado no Mosteiro de Westminster?

Ora, o autor descreve que o próprio Darwin tinha uma preocupação profunda com o efeito de sua teoria sobre a crença religiosa, e, em "A origem das espéicies" , esforçou-se para salientar uma possível interpretação harmoniosa:

"Não vejo nenhum bom motivo para os pontos de vista apresentados neste volume chocarem os sentimentos religiosos de alguém [...] um elogiado escritor e teólogo escreveu-me que "gradualmente aprendeu a ver que é uma concepção tão nobre dos deístas acreditar que ele criou umas poucas formas originais capazes de se autodesenvolver em outras, mais indispensáveis, quanto crer que ele precisava de um ato estimulante de criação para compensar os vazios causados pela ação de suas leis" [5].

Eis que Darwin conclui a obra (A origem das espécies) com o seguinte texto:

"Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus vários poderes, tendo ela sido lançada como o sopro da vida originalmente pelo Criador em poucas formas ou uma; e que, enquanto este planeta vinha orbitando de acordo com a lei da gravidade estabelecida, a partir de um início tão simples, inúmeras formas, cada vez mais belas e maravilhosas foram, e continuam, evoluindo" [6].

A própria condição de Darwin era ambígua, pois, se em um determinado momento ele se reconheceu agnóstico, em outro, ele considerou a possibilidade de ser teísta:

"Pela extrema dificuldade, ou uma quase impossibilidade de conceber este universo imenso e maravilhoso, incluindo o homem com sua capacidade de examinar o passado tão distante e o futuro tão longínquo, como resultado de uma oportunidade ou necessidade cegas. Quando medito dessa maneira, sinto-me atraído a observar a Primeira Causa como tendo uma mente inteligente em algum grau análoga a essa dos homens; e mereço ser chamado de teísta" [7].

Concluo dizendo que a fé não necessita de provas da "existência de Deus" para existir ou se manter, pois, conforme cremos, nasce da revelação, mediante chamado do próprio Deus (Efésios 2:8-9; João 6:44, 65 e 15:16). Contudo, nada impede que busquemos nos informar até para que possamos defender a nossa fé - e não a Deus, posto que Ele não necessita ser defendido.

Quando nos acusam, porém, de não possuirmos as respostas baseadas em provas, da existência de Deus, os naturalistas também não as possuem , posto que jamais conseguiram se desvincular do calcanhar de Aquiles: Como tudo se iniciou, de onde viemos e para onde vamos?

No próximo falarei do design inteligente e teísmo evolucionista, se Deus permitir.


Fonte: Francis S. Collins, "A Linguagem de Deus", 6ª edição, Editora Gente, tradução Giorgio Capelli, 2007.

[1] Obra cit. p. 97
[2] Obra cit. p. 99
[3] DARWIN, C. R. , The Origin of Species. New York, Penguin, 1958, p. 456 - Obra cit. p. 103
[4]WAFIELD B. B. "On The Antiquity and the Unit of the Human Race". Princeton Theological Review, v. 9, 1911, p. I-25.
[5] DARWIN, obra cit. p. 452 - ibidem p. 104
[6] DARWIN, obra cit. p. 459 - ibidem p. 105
[7] In MILLER, R. "Finding Darwin's God". New York Harper Collins, 1999, p. 287 - obra cit. p. 105.




Continue lendo >>

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Evolução, teísmo e ateísmo: síntese do pensamento de Francis S. Collins ("A linguagem de Deus")


O livro é deveras interessante porque mostra em detalhes o pensamento de um grande cientista ateu levado à crença em Deus pelas evidências que observou quando chefiava o "Projeto Genoma". De onde viemos e para onde vamos, eram as perguntas que ele também fazia, já que as leis naturais não lhe ofereciam todas as respostas: "... ficara claro para mim que a ciência, apesar de seus poderes inquestionáveis para desvendar os mistérios do mundo natural, não iria me levar mais adiante na resolução da questão de Deus. Se Deus existe, deve se encontrar fora do mundo natural e, portanto, os instrumentos científicos não são as ferramentas certas para aprender sobre ele". [1]

BIG BANG - As mesmas considerações feitas pelo autor também em algum momento foram feitas por nós, leigos: o que veio antes do big bang? Como pôde surgir do nada um universo tão complexo, senão originado de uma "inteligência" por trás do nada (ex nihilo)? "A existência do big bang suplica por uma pergunta sobre o que veio antes e quem ou o que foi responsável. Na certa isso demonstra os limites da ciência como nenhum outro fenômeno" [2] assevera o cientista.

Citando o astrofísico Robert Jastrow na obra "God and the astronomers" (Deus e os astrônomos), a admiração diante dessa simples constatação se solidifica:

"Neste momento parece que a ciência nunca será capaz de erguer a cortina acerca do mistério da criação. Para o cientista que viver pela sua fé na força da razão, a história encerra como um sonho ruim. Ele escalou as montanhas da ignorância; vê-se prestes a conquistar o pico mais alto; à medida que se puxa para a rocha final, é saudado por um bando de teólogos que estiveram sentados ali durante séculos" [3]

Tudo indica que o universo surgiu de uma ação repentina determinada no tempo o que levou Collins a concluir que "o big bang grita por uma explicação Divina. Obriga à conclusão de que a natureza teve um princípio definido. E vaticina na sequência: "Não consigo ver como a natureza pôde ter se criado . Apenas uma força sobrenatural, fora do tempo e do espaço, poderia tê-la originado" .[4]

Discorrendo ainda sobre a formação do sistema solar que se deu após o big band, a sua expansão e a aglutinação da matéria para formar as galáxias regidas pela lei da gravidade compondo-se dos seus elementos químicos; tudo isso considerando-se o lapso de milhões de anos , porém, o sol, somente vindo a se formar tempos depois, sendo uma estrela de segunda ou terceira geração (5 bilhões de anos atrás). Parece que tudo isso implicaria em um universo formado em eras, ao contrário de dias, conforme relatado no gênesis (levando a crer que o relato não deve ser lido na sua literalidade).

Algo muito interessante frisado por Collins sobre o princípio antrópico é a assimetria que houve entre matéria e antimatéria, uma vez que para cada cerca de bilhão de pares de quarks e antiquarks, havia um quark a mais. E essa assimetria "aleatória" foi exatamente o que possibilitou a formação do universo, pois, do contrário, caso houvesse uma total simetria entre matéria e antimatéria, salienta o autor, "O universo rapidamente teria se desenvolvido em radiação pura; e pessoas, planetas, estrelas e galáxias jamais teriam existido" [5] . O que me leva a perguntar: será que essa assimetria surgiu mesmo aleatoriamente, fruto do imponderável apenas?

A verdade é que, consideradas todas as "constantes físicas" existentes ( quinze) e os seus valores tendentes e necessários a sustentar um universo estável, com formas de vida, pode se chegar quase ao infinito ( em termos de valores), provando que este nosso universo é muito improvável, segundo as palvras de Francis Collins. Improvável mas está aqui, com essas mesmas constantes fixas e com os seus valores definidos, mantendo-o. Por quê? É ainda a pergunta que teima em aflorar...

O autor cita o também cientista Stephen Hawking (físico) em "Uma breve história do tempo" , confirmando a existência de uma vontade divina por trás de tudo: "Seria difícil explicar porque o universo teria começado desta exata maneira, a não ser como o ato de um Deus que quisesse criar seres como nós" [5].

Depois de citar em sua obra inúmeros cientistas considerando a improbabilidade do surgimento do universo e do planeta terra com as suas "particularidades" tendentes a sustentar vida em toda a sua diversidade, como conhecemos, o autor cita Arno Penzias, cientista ganhador do Prêmio Nobel, que descobriu em paralelo a radiação cósmica de microondas em segundo plano e que possibilitou sólido respaldo para o big bang , afirmando: "Os melhores dados que temos são exatamente aqueles que eu havia previsto, e eu não tinha com o que prosseguir a não ser os cinco livros de Moisés, os Salmos, a Bíblia como um todo" [6). E então Collins completa: "Talvez Penzias estivesse pensando nas palavras de Davi no Salmo 8: "Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem para que te lembres dele?" [7].

Collins chega à conclusão de que " O próprio big bang aponta fortemente para um Criador, já que, caso contrário, a pergunta sobre o que veio antes fica suspensa no ar" [8].

No próximo post sobre o assunto, e ainda com base no livro e autor, descreveremos sob Cosmologia e Deus, Vida na terra, Teoria da evolução, Teoria do design inteligente e Teoria da evolução teísta.


Fonte: Francis S. Collins, "A linguagem de Deus", 6ª edição, Editora Gente, tradução Giorgio Capelli - 2007.


[1] obra cit. p. 38
[2] obra cit. p. 74
[3] obra cit. p. 74, Jastrow R. "God and astronomers". New York: W W Norton, 1992, p. 107
[4] obra cit. p. 75
[5] obra cit. p. 82, Hawking, obra cit. p. 63
[6] obra cit. p. 82/83, In Browne , M. "Clues to the Universe". New York Times, 12 march.
[7] obra cit. p. 83
[8] obra cit. p. 83, fine.

Continue lendo >>

  ©A VERDADE LIBERTA, O ERRO CONDENA - Todos os direitos reservados.

Template by Dicas Blogger | Topo