sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Reminiscências rurais

Este texto foi originalmente produzido em meu blog e eu aproveito para reproduzi-lo aqui, uma vez que foram momentos inesquecíveis passados ao lado do irmão e seus filhos.


O César é um sujeito que lida com a terra, com gado e ama essa sua atividade; cabra caprichoso, cuja propriedade rural faz brilhar os olhos. Pois bem, a narrativa começa quando juntamos a família e fomos para o seu sítio, já munidos de algumas suculentas picanhas, fraldinhas e outras coisinhas gostosas. Saindo da cidade pegamos uma estrada de terra batida ladeada de árvores ralas, pastagens e arbustos, tudo de uma beleza rústica evocando vida e pujança: natureza esplendorosa! Seguindo pela estradinha, o caminho foi se estreitando cada vez mais, as pastagens dando lugar a algumas árvores mais frondosas, uma pequena plantação de seringueiras que algum desavisado ainda acreditava ser rentável (embora a existência da borracha sintética), tudo envolto por uma atmosfera de brilho e pureza, fazendo-me lembrar uma paisagem barroca daquelas do leste europeu. Afunilando-se a estradinha e pouco antes de chegar ao sítio do meu irmão fomos "abraçados" por um pequeno arvoredo, reserva de mata quase fechada cujo cheiro penetrava pelas narinas lembrando os mais variados e sutis aromas: flores silvestres, folhas secas, mato verde e tantos outros cheiros que não pude identificar, talvez dada a magia do momento. Passado esse momento mágico, quase místico, onde a imagem do Criador se espelhava em tudo, demos com uma porteira, daquelas bem simples - e olhando para o lado direito no ato de abri-la, vi uma pequena mata a "subir" teimosamente um morro, de um verde-esmeralda tão mais "valiosa" que a própria pedra preciosa. A trilha continuou, agora avançando para dentro das terras do César e então, embasbacado, olhei para o lado esquerdo e enxerguei uma linda montanha "salpicada" de arbustos, pequenas e esparsas árvores e belíssimas pastagens, enquanto lá no cimo, divisei pequenas figuras quadrúpedes que identifiquei como vacas, bois e equinos. Figuras desfocadas pela distância, parecendo um quadro impressionista: Deus, mais uma vez retratado na sua criação. A estreita trilha um tanto sinuosa já deixava divisar, perto, um curral, algumas outras porteiras, árvores frutíferas e mais nada, por enquanto... mas ao atravessar esse espaço eis uma casinha rústica construída para guardar arreios, aves, ferramentas, etc, e , logo à frente, uma bela casa branca com uma grande área em um dos seus flancos. À volta dezenas de pés de jabuticabeiras, todas carregadas, cujos frutos mais pareciam com grandes bolas de tênis, pois se trata de frutos originais e nativos do Paraná - frutos bem maiores. Imediatamente colhi algumas e senti como que um néctar doce a escorrer garganta a dentro, deixando escapar um pouco do seu sulco pelos lábios... maravilha das maravilhas! Mangueiras de várias qualidades se multiplicavam naquele espaço, cada fruto com um sabor único e especial. Abaixo da casa, em um pequeno acidente de terreno, um pequeno córrego, ribeiro de nada, de águas límpidas e cristalinas onde se podia ver peixinhos, lambaris e acarás, os que pude identificar. Água bem fria a cobrir os pés e a acalmá-los depois de um dia de muita atividade. 

As conversas foram temperadas com risos, o sol a se por no horizonte todo escarlate, venturoso, banhando a todos nós com o seu brilho opaco a anunciar o lusco-fusco que precede a noite. Estrelas, naquele céu livre, cada uma a seu modo, a anunciar o seu brilho e a grandiosidade do universo, cujas mãos que o criou sempre deixa entrever a sua sombra. Senti-me são. Já não havia limitação física, tristeza, dor, sofrimento, preocupações. Nada, apenas risos e alegria. E uma grande e profunda paz...

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terça-feira, 21 de agosto de 2012

A (minha) síndrome




Mais uma vez o sumiço. Quando eu disse que estava retornando, o retorno se fez fictício, já que nada mais foi escrito aqui no blog.  Pura ausência, nadica de nada.


Mas passemos aos fatos, posto que hoje é preciso escrever alguma coisa. Algo atual que está acontecendo comigo e  que eu faço questão de compartilhar com irmãos e amigos. Não há o que esconder, muito pelo contrário, vejo que em tudo o nome do SENHOR está sendo engrandecido. Não se trata de qualquer testemunho também, eu os abomino.


Compartilhei no facebook meio que en passant um problema que acometeu com a minha saúde e que, resumindo, trata-se de uma deficiência visual no olho esquerdo que surgiu abruptamente, sem qualquer aviso: estava eu assistindo TV há mais ou menos 60 dias, quando, de repente, surgiu uma grande sombra na minha vista esquerda. Depois de três dias, a sombra se manteve, o que me obrigou a buscar especialistas na cidade de Cuiabá. Depois de cansativos exames, ultrassonografias, tomografias, etc, fui diagnosticado “provavelmente” com toxoplasmose ocular e imediatamente medicado com uma grande carga de corticoides.


No entanto, por precaução, resolvi ter um segundo diagnóstico e então fui até Goiânia, exatamente por ser hoje um dos melhores centros oftalmológicos do Brasil e do mundo. Com um excelente médico indicado junto ao CBCO, dirigi-me até lá com a minha família a tiracolo (como ficar sem elas, as minhas mulheres?). Ficamos então hospedados em uma belíssima cobertura de um primo médico (parte boa), cujos filhos também são médicos – e a mais nova, Cristiane, fazendo residência em oftalmologia. Aqui começam as “coincidências” divinas, as quais quero mais enfatizar neste texto muito pessoal. Encurtando a história, a Cristiane me pediu que consultasse com a sua professora, com especialidade em neuro-oftalmologia, exatamente a área em que minha visão se encontrava afetada. Assim fiz.


Fui atendido por uma excelente médica, pessoa de rara generosidade. Eu e a minha esposa, porém, sentimos naquela mulher uma grande tristeza e eis que ela nos confessou assim  repentinamente que estava passando por um difícil período, pois a sua irmã, advogada de 32 anos, havia sido acometida de uma raríssima síndrome e alcançada por um AVC quase fatal, ficando três meses internada no hospital (UTI), agora em casa com acompanhamento de enfermeiras em razão das limitações físicas advindas do acidente vascular. Fizemos as nossas considerações e desejos de melhoras, mas mais não foi dito. Examinado por ela, houve a constatação imediata de que não se tratava o meu problema de toxoplasmose ocular, considerando-se desde já a possibilidade de uma doença autoimune, como, por exemplo, a esclerose múltipla – e confesso que essa possibilidade me deixou atemorizado.


Fui então encaminhado pela profissional a outro médico, um excelente reumatologista, o mesmo que havia diagnosticado a síndrome da sua irmã (da médica) e que estava tratando-a (ainda está). Descartou-se também sumariamente a toxoplasmose ocular, ficando-se com a possibilidade dolorosa da esclerose múltipla. As coisas não estavam se encaminhando bem... contudo, por incrível que possa parecer, a calma e a serenidade me acompanhavam naqueles dias, assim como têm me acompanhado até agora. Sustenta-me o Senhor, tenho plena certeza.


Encaminhado a uma série de exames,  inclusive genéticos com punção do líquido espinhal (um negócio chato), no dia seguinte, um dia antes de retornar para casa, aquela médica me ligou meio preocupada dizendo que necessitava falar comigo de qualquer jeito, antes do meu retorno. Coincidentemente eu já estava abrindo o meu email para verificar resultados de exames que haviam me enviado do laboratório. Eram exatamente aqueles genéticos voltados para algumas síndromes,  como esclerose múltipla e outras mais. Vi, admirado, que um deles deu positivo, referente ao alelo B-51. Sem explicações complementares, fui ao bom google e descobri que estava com a síndrome de Behçet (http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Beh%C3%A7et), uma doença autoimune que ataca miseravelmente o organismo, fazendo muitos e muitos estragos nas articulações, veias, vasos sanguíneos, nervos, pulmões, coração e sistema nervoso central. No meu caso, o ataque foi, ao que parece até o momento, nas articulações e nervos, razão do ataque ao nervo ótico. Daqui pra frente terei de fazer um severo acompanhamento vascular, neurológico, etc.


A notícia causou muita dor à minha esposa e filhas, pois o impacto imediato realmente é grande. Conversamos muito e chegamos à conclusão de que Deus estava e está conduzindo todo o processo. Ele me levou aonde eu deveria ir, para consultar quem deveria ter consultado. Desviou-me do meu caminho inicial e conduziu-me ao Seu caminho. A serenidade então me acompanha desde aquele momento até o presente, e me acompanhará para sempre.


Com ou sem síndrome, afetados ou não por doenças, sejam elas as piores, estamos de fato nas mãos de um Deus Todo Poderoso, aquEle Oleiro que faz o que quer das suas criaturas (Romanos 9), querendo elas ou não! Creio, agora confrontado com a minha fé calvinista, tantas vezes criticada, que Deus controla todas as coisas; que no Seu Decreto Eterno o meu dia está marcado, assim como o de todos nós. E será um dia de Glória! Se eu temo a morte, que espécie de fé tenho? Mas, se ainda que tema, perca a serenidade e a alegria de viver, morrendo antecipadamente a cada dia e levando à morte aqueles que estão à minha volta e que me amam, que espécie de fé é esta que tenho? Que cristão serei eu?


Decidi ter dias serenos e alegres, porque estou me sentindo assim. E sei que a paz que sinto diante de uma situação tão difícil excede todo entendimento, porque é a paz que vem de Cristo. Não sei o que acontecerá no futuro, pode ser que o meu organismo seja constantemente atacado, ou não. Uma coisa é certa, repito, não anteciparei qualquer sofrimento que possa vir.


Enfim, consegui compreender de maneira factível (se assim posso me expressar), ou melhor, de maneira concreta, real, dura e inexorável, que a minha fé está mesmo de acordo com aquela retratada em Hebreus 11:1, cuja certeza e convicção prescindem da sua materialização. Deus não precisa e não deve ser provado. A minha fé, hoje confrontada, não exige a cura da minha doença. Nem sequer espero tal cura.


A síndrome, em si, está a cooperar comigo, na medida em que fortalece a minha fé, me aproxima mais e mais dos meus queridos e me traz calmaria ao espírito, serenidade e equilíbrio.


Em tudo, que seja Honrado e Glorificado o Senhor.

Ps: A minha síndrome é a mesma da irmã da médica e estou sendo tratado pelos mesmos médicos que dela tratam: reumatologista e neurocirurgião. Coincidência?

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

O retorno



O título desta postagem nem deveria ser este, já que não sei se estou de fato retornando. O blog, como podem ver - se é que leitores ainda por aqui vêm - se encontra em abandono quase que completo. Nada de textos novos, nada de reflexões íntimas; ausência de conversas teológicas que tanto estimo.


Problemas? A resposta à  pergunta retórica certamente deveria ser positiva, mas não é  - pelo menos em seu sentido cru e visceral e com a significação que  é peculiar ao vocábulo. De fato, não posso  atribuir o meu alheamento a problemas que estejam acontecendo comigo. Contudo, há momentos em que nos faltam motivação e vontade...  Nada de um pessimismo crônico, embora o mundo, tal como se direciona, nos leve indubitavelmente a um certo distanciamento daquilo que lhe move.


Pode ser que eu esteja passando por um período de autoanálise tão profundo a ponto de requerer de mim um necessário desapego ao outro, ou àquilo que se exterioriza dele.  Não me entendam mal, pois não é algo que se assemelhe a um inescusável  egoísmo, ou àquela horrorosa pretensão dos que se sentem no direito de ganhar sempre, independentemente dos meios usados. Nada disso... 


Há ainda em mim o amor ao próximo, conformado ao mandamento primeiro,  o mais importante estabelecido pelo Criador e Senhor da minha vida. O meu semelhante ainda é capaz de me causar emoções boas ou más; as suas ações podem mover o meu cotidiano. Mas vejo nele, como em mim, um certo ranço daquela natureza decaída e má, capaz de vindicar o seu preço em alguns momentos ( ainda que seja o meu irmão). Aquela velha luta da carne a militar contra o Espírito, tão bem delineada pelo Apóstolo Paulo... 


Os amigos de ontem já não são os de hoje, as interações pessoais mudam ao sabor das emoções, quando não da pura 'estética'  da escrita, especialmente ao lidarmos com o mundo virtual, os tais facebook,  twitter, os grupos virtuais, etc. E, nesse ponto, parece que nos tornamos criaturas invisíveis, apenas algo no imaginário do interlocutor. A partir daí, pessoas que nos conhecem há tão pouco tempo se sentem no direito de fazer inferências e juízos apressados, emitindo por vezes as suas sentenças , obtidas em decorrência de arrazoados os mais simplórios...


Ah, eu amo o meu semelhante, mas às vezes ele me cansa tanto...  


O pior é que estou consciente das minhas próprias limitações, sabendo que devo causar o mesmo efeito em tantos dos meus semelhantes. Enfim, penso que ao fim e ao cabo essas abstrações devem nos levar à certeza de que o  objetivo é mesmo Cristo, e a nossa vitória está nEle. Exclusivamente em servi-lo.


O cansaço do dia a dia que por vezes se reflete na intolerância que sentimos do outro  não deve obnubilar a imagem de Deus que está em mim e no meu semelhante, sob pena de nos tornarmos endurecidos, retornando àquela velha natureza corrompida e não redimida de outrora. 


Que Deus, na Sua infinita misericórdia nos sustente e nos mantenha firmes em direção ao caminho da redenção, sem retroceder jamais.  Jamais!

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