O livramento da ira de Deus
J. I. Packer
Nos três capítulos de Romanos, Paulo está determinado a nos impor a pergunta: "se do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens", e "o dia da ira virá" quando Deus "recompensará cada um conforme as suas obras", como podemos nós escapar a tal desastre? A questão nos pressiona porque estamos todos "debaixo do pecado, "Não há justo, nem sequer um"; "Todo mundo" é culpável perante Deus" (3:9; 10:19). A lei não nos pode salvar, pois seu único efeito é estimular o pecado e nos mostrar como estamos longe de cumprir a justiça. A pompa exterior da religião também não nos pode salvar, assim como a circuncisão não pode salvar o judeu. Haverá então algum livramento da ira futura? Há, e Paulo sabe disso. "Sendo justificados pelo seu sangue", Paulo proclama, "Seremos por Ele salvos da ira" (de Deus) (5:9). Sangue de quem? O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado. E o que quer dizer "justificado"? Significa ser perdoado e aceito como justo. Como somos justificados? Pela fé, isto é, pela confiança total na pessoa e obra de Jesus. E como o sangue de Jesus, sua morte sacrificial, se constitui na base para a nossa justificação? Paulo explica isso em Romanos 3:24 onde ele fala da "redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue". Que é propiciação? É o sacrifício que afasta a ira pela expiação do pecado e cancelamento da culpa.
Isto, como veremos mais completamente adiante, é o verdadeiro núcleo do Evangelho; que Jesus Cristo, pela virtude de sua morte na cruz, como nosso substituto, levando nossos pecados, "é a propiciação pelos nossos pecados (1. Jo 2:2). Entre nós, os pecadores, e as nuvens carregadas da ira divina, se levanta a cruz do Senhor Jesus. Se somos de Cristo, pela fé, então estamos justificados pela sua cruz, e a ira não nos atingirá, quer aqui ou no futuro. Jesus "nos livra da ira vindoura" (1 Ts 1:10)
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A ira de Deus, escreveu A. W. Pink, é a perfeição do caráter Divino sobre o qual precisamos meditar frequentemente. Primeiro, para que nossos corações possam ficar devidamente impressionados com o ódio de Deus pelo pecado. Temos a tendência de dar pouca atenção ao pecado, encobrir sua hediondez, desculpá-lo; mas, quanto mais estudamos e pensamos no horror que Deus tem pelo pecado e sua terrível vingança sobre ele, estaremos mais aptos a compreender a sua infâmia. Segundo, criar o verdadeiro temor a Deus em nossas almas para que "retenhamos a graça pela qual sirvamos a Deus com reverência e piedade, porque o nosso Deus é um fogo consumidor" (Hb 12:28-29). Não podemos servi-Lo "aceitavelmente" a menos que haja "reverência" por sua impressionante Majestade e "temor" por sua justa ira, e tudo fica mais fácil quando nos lembramos frequentemente que "nosso Deus é um fogo consumidor". Terceiro, levar nossas almas a um fervente louvor (a Jesus Cristo) por ter nos livrado da "ira vindoura" (1 Ts 1:10). Nossa presteza ou relutância em meditar sobre a ira de Deus torna-se um teste seguro para saber se nossos corações estão realmente dedicados a Ele."
Pink está certo. Se nós quisermos conhecer verdadeiramente a Deus e ser conhecidos por Ele devemos pedir-Lhe que nos ensine a considerar a solene realidade de Sua ira.
(In "O conhecimento de Deus", Editora Mundo Cristão, 1973, São Paulo)