segunda-feira, 31 de maio de 2010

"Testemunhos" ao púlpito: Deus ou mamom?



A igreja evangélica tem passado por inúmeras transformações nos últimos tempos, de tal maneira que, grosso modo, não se tem mais como caracterizar as diferenças que há entre as tradicionais, pentecostais e neopentecostais, salvo raríssimas exceções. Na maioria das vezes elas se confundem, não em razão da "liturgia" , mas pela falta de qualquer liturgia: pura balbúrdia, verdadeiro caos.

Quem prima pelo estudo das Escrituras tem facilidade em comprovar uma série de desvios doutrinários que vem ocorrendo nessas igrejas. E são tantos que se torna difícil enumerá-los, ou mencioná-los em uma certa ordem de importância.

Neste texto quero avaliar um fato que ocorre nos púlpitos das "igrejas emergentes" e que muito me incomodou há pouco tempo e ainda incomoda. Antes, devo confessar, incomodava mais, visto que eu assistia "tête a tête" ao triste espetáculo. Hoje, pelo menos, Deus agraciou-me com a dádiva de ser poupado do triste "teatro do absurdo", posto que estou frequentando uma igreja presbiteriana voltada exclusivamente para o estudo das Escrituras, e a sua completa observância, inclusive no que concerne a uma rígida liturgia, onde não se aceita qualquer forma de desvio doutrinário, ainda que "disfarçado de luz" (parafraseando as próprias Escrituras).

Estou a falar dos tais "testemunhos" dados ao púlpito, geralmente provocados pelo pastor sob o pretexto de "enaltecer" a Deus ( ou quem sabe lhe dar uma ajudazinha através de um marketing gospel). E então o tom apelativo tem lugar: "- algum irmão tem uma bênção para testemunhar à igreja?" Ou então: "- Deus não fez nada para ninguém, que fé é essa?". E eis que logo aparece um, dois, três, normalmente a exaltar as "maravilhas do Deus que tudo faz em prol dos seus "adoradores", o dono do "ouro e da prata". E dá-lhe ouro e prata!!!

E os tais testemunhos são recheados de mal disfarçada vanglória. Eles exaltam a Deus? Sim, dirão os "evangélicos" de agora. Todavia, não é o que demonstra o contexto escriturístico: o Evangelho é simples e não precisa de qualquer complemento para convencer quem quer que seja da sua eficácia. Deus é Todo-Poderoso, Soberano e Senhor de todas as coisas (não somente do ouro e da prata), por isso mesmo não necessitando de marketing. Aliás, quem precisa das "técnicas de convencimento" são aqueles com sérias dificuldades para crer no Deus Invisível propagado e anunciado pela Bíblia (Hb 11).

Testemunhos em tom apelativo como se veem por aí, inclusive nas denominações históricas, salvo exceções - e aqui quero fazer justiça à Igreja Presbiteriana que não costuma se valer dos referidos "expedientes" - servem exclusivamente para "fazer propaganda da igreja", do pastor, da liderança, ou de todo o conjunto. Eles querem anunciar que "a minha igreja faz milagres"; ou que "Deus atua nesta igreja".

Uma marca dos tais "testemunhos" é a apologia ao "ter", ao invés do "ser". Aqueles que já assistiram aos malfadados testemunhos urdidos nessas igrejas sabem a que me refiro. São automóveis conquistados, doenças curadas, terrenos que num piscar de olhos foram adquiridos como que num passe de mágica ( e olha que o sujeito não tinha dinheiro algum), casas presenteadas, etc. Normalmente o ápice do testemunho se dá no momento em que o incauto diz: "- antes de vir para a igreja eu estava assim (pobrezinho, sem casa, sem carro...), mas agora, o dono do "ouro e da prata..." (discorre então sobre todos os ganhos que lhe foram acrescentados depois que se "converteu" na tal igreja).

É o "deus" do ter, e o nome dele não é Yaweh (Jeová), mas mamom. Essas pessoas, muitas delas levadas ao engano por uma liderança avarenta , mentirosa e oportunista, são desviadas da sã doutrina, ou doutrinadas erradamente. O Apóstolo Paulo nos lembra que "nos foi concedida a graça de padecermos por Cristo e não somente de crermos nele" (Filipenses 1:29).

A fé não se mede por "coisas", ou acúmulo de bens materiais, uma vez que o próprio Cristo nos admoestou a "não acumularmos tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam "(Mateus 6:19), mas que devemos trabalhar para juntar tesouros no céu (v. 20).
Onde está o seu tesouro, nas riquezas de Mamom, ou nas riquezas celestiais de Deus ? Reflita bem, pois "onde estiver o seu tesouro, lá estará também o seu coração" (v. 21).

Devemos ter em Deus o nosso Senhor e não o nosso serviçal. O "dono do ouro e da prata" é antes de tudo o 'dono da nossa salvação". O "Senhor e consumador da nossa fé". E esta, para ser verdadeira, prescinde de obras, de marketing, de testemunhos sobre riquezas materiais, de curas, milagres... O maior milagre é a transformação de vidas, presente de Deus em nós (Fl 2:13). O próprio Apóstolo Paulo jamais buscou riquezas ou fez apologia do "ter", antes, enaltecendo as suas próprias fraquezas, para exaltar a força de Deus em sua vida (2 Coríntios 12:10). Fé verdadeira, nesse diapasão, é exercitada muito mais nos tempos de 'escassez', 'angústia' e 'perseguições', do que propriamente em época de abundância.

Portanto, diz o Apóstolo, "Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna" (Gálatas 6:7-8).

E que fique bem claro, a fim de que não deturpem as minhas palavras, o texto, e, tampouco o Evangelho de Cristo, pois não digo que é pecado "ter". Pecado é "amar o ter"; amar primeiro as "coisas", antes do Criador. Pecado é "usar o ter" como técnica para "chegar ao ser", como se Deus precisasse de uma 'ajudazinha'.

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quinta-feira, 27 de maio de 2010

Deus, o autor



Por Vincent Cheung *


Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus, a Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. (2 Timóteo 1.1-2)


Deus é soberano – a vontade de Deus é suprema. Isso significa não somente que ele pode controlar algo se desejar fazê-lo, mas significa que nada pode acontecer a menos que ele decida que isso deveria acontecer e então faça com que isso aconteça mediante um poder ativo e invencível. A distinção é crucial. A falha em reconhecê-la tem resultado em absurdo e inconsistência mesmo naqueles que se consideram defensores da soberania de Deus. Deus não somente pode ativa e diretamente decidir e controlar tudo – como se fosse possível ele metafisicamente deixar algumas coisas funcionarem por si mesmas – mas Deus de fato ativa e diretamente decide e controla tudo, incluindo todos os pensamentos e ações humanas, quer boas ou más. Isso é verdadeiro por necessidade lógica, pois Deus é o único e universal poder metafísico que existe.

Sem dúvida, isso significaria que Deus é o autor metafísico do pecado e do mal. Ele foi aquele que criou Satanás bom e perfeito, e então inclinou o seu coração para o mal. Ele foi aquele que criou Adão bom e perfeito, e então fez com que Satanás o tentasse (a Escritura diz que Deus mesmo não tenta ninguém, visto que tentar é persuadir a praticar o erro, e Deus persuadir diretamente alguém a fazer algo torna esse por definição um ato justo; portanto, é logicamente impossível Deus tentar alguém diretamente), fez Adão sucumbir, e fez com que o seu coração inclinasse para o pecado. Teólogos ficam horrorizados por essa ideia, e quase sempre tentam distanciar Deus do pecado. Contudo, se distanciamos Deus do mal metafisicamente, isso significa que há outro poder metafísico que causa o mal. E isso significa que Deus não está no controle de tudo, que por sua vez significa que esse “Deus” não é Deus coisa alguma. Em outras palavras, contrário à noção popular que é blasfêmia sugerir que Deus é o autor do pecado e do mal, é blasfêmia dizer que ele não o é. Deus deve ser o autor do mal, ou o mal jamais poderia vir à existência. Deus deve ser o autor do pecado, ou o pecado jamais poderia ter acontecido.

Isso é muito diferente de dizer que Deus é mal. Uma coisa não implica a outra. Antes, Deus é aquele que define bom e mal, e mal é aquilo que viola seus preceitos morais. Embora o mal tenha vindo à existência, a Bíblia ainda chama Deus de bom. Isso necessariamente significa que Deus nunca impôs um preceito moral sobre si mesmo declarando que ele nunca deve fazer com que criaturas violem os seus preceitos morais.

Portanto, não é mal Deus fazer com que suas criaturas violem os seus preceitos morais, mas é mal para as criaturas, causadas por Deus, violar esses preceitos morais.Quanto a porquê Deus criaria o mal, e fazer com que suas criaturas violem seus preceitos, e então redimir algumas delas, é surpreendente que mesmo aqueles teólogos que se vangloriam de se referir à história bíblica como o “drama” da redenção não podem ver a resposta para isso. Pergunte ao escritor porquê há tanta oposição ao herói em sua própria história. O escritor não tem pleno controle sobre o que acontece em seu mundo? Se seguirmos as teorias absurdas de quase todos os teólogos, teríamos que dizer que os vilões aparecem e escrevem espontaneamente suas próprias linhas no manuscrito do escritor, e esse tem que dirigir seu herói para vencê-los. Ou, talvez o escritor de alguma forma “permita” que os vilões apareçam e causem destruição, mas eles aparecem sem o envolvimento direto do escritor escrevendo sobre eles na história. Os vilões dentro da história tomam controle da caneta para se inscreverem na história, mesmo antes que eles existam na história! Ou, personagens justos dentro da história tomam controle da caneta e inserem o mal neles, mesmo antes que haja qualquer mal dentro deles para movê-los a fazer isso! Alguém pode se perguntar se os personagens são infinitamente mais poderosos que o escritor. Quanta coisa sobre o decreto “passivo” de Deus e a “permissão” do mal! Em todo caso, se a Bíblia registra o “drama’ da redenção, e se Deus é o escritor e diretor, então a razão, propósito e significado da existência do mal num mundo onde Deus possui controle direto e completo é automaticamente abordada, exceto para aqueles que não tenham nenhuma compreensão do drama. Romanos 9 diz que Deus deseja “tornar conhecidas as riquezas de sua glória” (v. 23).

Suponha que um escritor pense que é o momento de Richard, um personagem em sua história, morrer. Ele pode fazer isso acontecer de muitas formas. Ele pode escrever, sem nenhuma explicação, “Richard morreu”. E Richard morreria. Ele pode lançar uma pedra do céu e esmagar Richard no chão. Ele pode simplesmente parar de mencionar Richard, e embora os leitores e outros personagens na história poderiam não estar cientes disso, ele estaria morto na mente do escritor. Mas já que estamos num drama, tornemos isso mais interessante. O escritor pode introduzir Tom na história. Ele cobiça a esposa de Richard, e no decurso de uma trama complicada e improvável, Tom dá um tiro na cabeça de Richard e o mata.

Seria absurdo distanciar “metafisicamente” o escritor do mal nesta história usando Tom para explicar a coisa toda. O escritor é aquele que concebe Tom em sua própria mente e o introduz na história. O escritor é aquele que o faz cobiçar a esposa de Richard e então atirar na cabeça de Richard. Além disso, o escritor é aquele que faz Richard morrer. Essa é a parte que muitos teólogos e filósofos esquecem quando lidando com metafísica. Na verdade, não é Tom quem mata Richard. Na realidade, não é a bala que mata Richard. Numa história onde o escritor detém poder onipotente, Richard não precisa morrer simplesmente por alguém ter acertado um tiro na sua cabeça. E se Richard morre, o escritor pode ressuscitá-lo dentre os mortos. De fato, o escritor pode ressuscitar Richard dentre os mortos e fazê-lo matar Tom simplesmente mediante um olhar desaprovador.

Esse é o porquê, como explicações metafísicas, as chamadas causas secundárias não têm sentido. Quando a discussão é limitada às relações dentro da história, então é aceitável dizer que Tom mata Richard. Mas quando uma explicação metafísica é necessária, devemos dizer que o escritor faz Tom puxar o gatilho, faz a bala ser arremessada do revólver, e faz Richard morrer. Esses eventos são metafisicamente independentes, e estão relacionados somente no contexto da história. Isto é, a relação entre essas pessoas e eventos existe somente na mente do escritor, e é então registrada na história. Qualquer evento ocorre somente pela causa direta do escritor. Um objeto dentro da história não pode escrever suas próprias linhas e então produzir um efeito sobre outro objeto dentro da história.

É verdade que o escritor mata Richard usando Tom, e é verdade que Tom atira voluntariamente em Richard. Tom age sob o desejo mais forte do momento, e não é coagido por nenhum outro fator dentro da história. De fato, ele não é coagido nem mesmo pelo escritor, mas isso não significa que ele tenha livre-arbítrio, e seria tolo mencionar que seu desejo e ação são “compatíveis” com o controle do escritor, pois o escritor é aquele que, em primeiro lugar, insere o desejo e ação. O compatibilismo não é apenas falso mas também irrelevante, pois não compreende a questão. Ele não é coagido pelo escritor porque coerção requer resistência naquele que é coagido, mas Tom nem mesmo tem a liberdade para exibir qualquer resistência à vontade do escritor. Seu desejo é escrito em sua mente pelo escritor, e então uma ação que é consistente com esse desejo é escrita na história. Dizer que o desejo, escolha e ação de Tom são compatíveis com a autoria do escritor é dizer nada mais que o escritor é compatível consigo mesmo, ou que o exercício de seu controle é compatível com sua posse desse controle. Isso é irrelevante e inútil para a agenda do compatibilista.

A menos que Tom seja livre do escritor, Tom não é livre em nenhum sentido significante da palavra. Ele poderia ser livre de outros personagens da história, mas mesmo isso se dá somente porque o escritor decidiu assim. Dentro da história, há de fato uma relação aparente entre a ação de Tom, a física da arma e a bala, e a morte de Richard. Mas repetindo, isso acontece somente porque o escritor torna isso verdadeiro nessa ocasião particular. Em outras palavras, não existe nenhuma relação necessária entre a ação de Tom ou a bala, com a morte de Richard. A relação é estabelecida, aparentemente se você desejar, para o propósito da história, ou drama. Na realidade, a vontade do escritor é a única explicação para qualquer condição ou evento no romance.

Tom possui uma liberdade relativa – ele é livre do controle ou interferência de outros objetos e personagens na história na extensão em que o escritor decide que ele seja livre deles. Essa liberdade relativa não tem nada a ver com a responsabilidade moral de Tom para com o escritor. Se Tom é considerado responsável por algo, é porque o escritor decide mantê-lo responsável, não porque Tom possui algum tipo de liberdade. O escritor é capaz de mantê-lo responsável precisamente porque Tom não é livre. Se Tom fosse inteiramente livre, mesmo do escritor, então Tom não prestaria contas a ninguém. A responsabilidade moral de Tom reside inteiramente na soberania e decisão do escritor. Dessa forma, o escritor pode expressar sua desaprovação para com o adultério e assassinato arrumando um final extremamente sangrento para Tom. Se desejar introduzir uma dimensão espiritual, o escritor pode até mesmo enviar Tom direto para o inferno na história.

Embora o escritor seja a causa direta e ativa do adultério e assassinato de Tom, dificilmente seria correto acusar o escritor desses crimes, visto que o escritor mesmo não cometeu adultério e assassinato, e não existe nenhuma lei no mundo (fora da história) do escritor declarando que um escritor não pode narrar um adultério e assassinato em seu romance. Tom, contudo, cometeu ambos, visto que o mundo da história desaprova ambos e reforça leis contra ambos.

Você pode se queixar que tudo isso soa verdadeiro quando diz respeito a escrever um romance, mas nós não somos meros personagens numa história. Bem, Deus não é homem, e quando escreve uma história, ele não está limitado a tinta e papel. Todavia, se você resiste à minha analogia, você pode lidar com aquela usada por Paulo em Romanos 9, onde somos meros montes de barro. Isso te ajuda de alguma forma, ou nos compromete ainda mais à minha visão? Ele diz que Deus introduz pecado, mal e conflito contra si mesmo e o seu povo (v. 17-18), pois ele deseja “mostrar” (v. 22-23). Você diz: “O que? Tudo isso para uma demonstração? Por que Deus ainda nos culpa? Que personagem pode resistir à vontade do escritor?”. Mas quem é você para questionar a Deus? Acaso um personagem pode dizer ao escritor: “Por que me fizeste assim?” (v. 20). O escritor tem o direito e o poder para demonstrar seus valores e talentos da forma que desejar (v. 21).

Estou lhe dizendo o que aconteceu a Paulo. Ele escreve que era um apóstolo de Cristo Jesus “pela vontade de Deus”. A frase em si pode se referir ao decreto ou preceito de Deus. Isto é, pode se referir à decisão eterna de Deus que Paulo seria um apóstolo, ou ao mandamento temporal de Deus que Paulo deveria ser um apóstolo. Parece que a frase em nossa passagem refere-se ao decreto de Deus. Deus decretou todas as coisas antes da criação do mundo, e ele concebeu Paulo e pré-ordenou que ele seria um apóstolo. Paulo escreve que foi separado no nascimento (Gálatas 1.15), mas ele não nasceu um cristão. João o Batista foi cheio do Espírito enquanto ainda estava no ventre da sua mãe, mas Paulo viveu uma vida de assassinato até o Senhor Jesus confrontá-lo. Ambos foram ordenados pela vontade de Deus, mas Deus decretou vidas diferentes para eles.

Não é que Deus “permitiu” Paulo correr solto até Atos 9. Deus tinha tanto controle de Saulo o Fariseu como de João o Batista. Seu plano demandou que Paulo estiver no caminho que estava antes de sua conversão. E Paulo nos diz pelo menos parte da razão: “Mas por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna” (1 Timóteo 1.16). O drama da conversão de Paulo serve ao drama maior da redenção. Deus tinha pré-ordenado que Paulo se tornaria um exemplo de um grande pecador que receberia misericórdia, de forma que “Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência”. Repetindo, isso foi em prol da demonstração, do drama. Mas para isso acontecer – para Paulo se tornar um grande pecador que recebe misericórdia – ele deve primeiro viver como “o pior dos pecadores”. Não foi um acidente que Paulo tornou-se uma demonstração da misericórdia divina, nem podemos explicar isso mediante alguma teoria ridícula de concorrência ou compatibilismo. Nem, esse foi seu destino pré-ordenado. Deus planejou e Deus fez acontecer – tudo isso.

No tempo determinado, o Senhor Jesus apareceu a Paulo e o confrontou. Paulo finalmente percebeu que ele estava errado o tempo todo, e que Jesus era de fato o Cristo predito por todos os profetas. Então Cristo ordenou que ele mudasse todo o curso de sua vida, e o comissionou para se tornar um apóstolo. A vontade de Deus era que ele se tornasse o representante mais eficaz e prolífico da fé na igreja primitiva. Ora, o escritor não tem nenhuma necessidade de Tom se deseja matar Richard, mas a história é sua e ele pode escrevê-la da forma que desejar. No mesmo sentido, Deus não precisa de nenhum homem para cumprir os seus desejos, mas agradou-lhe em seu plano, sua “demonstração” se desejar, empregar instrumentos humanos e ordenar relações humanas neste drama de redenção. E quando algo é dito ser “a vontade de Deus” no sentido de decreto de Deus, então isso será feito, pois sua vontade não pode ser frustrada na história que ele mesmo escreve. Portanto, embora Paulo tenha sido criticado, abandonado e aprisionado durante o seu ministério, os propósitos de Deus em sua vida foram cumpridos. Ele deveria ser o instrumento chave em estabelecer a presença do evangelho de Cristo na Terra, em assegurar sua perpetuidade mediante extensas explicações escritas da fé. Isso ele realizou, e ainda temos os seus escritos hoje, pois a vontade de Deus nunca falha.


* Fonte: Este texto faz parte do livro "Reflexões sobre 2 Timóteo", que está atualmente em fase de tradução por Felipe Sabino, que gentilmente autorizou a reprodução, e que será publicado brevemente pela Editora Monergismo



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sábado, 22 de maio de 2010

Sob as amarras do pecado



A pergunta é: "como saber se a pessoa é realmente convertida?". A resposta é clara e cristalina: não temos como saber, uma vez que não possuímos o conhecimento capaz de sondar a profundidade da alma. Todavia, eu diria que há muitos sinais a indicar se sim ou não.

A conversão traz regeneração, logo, haverá sempre algo indicando uma certa transformação, ainda que ela seja um processo dinâmico e contínuo. A regeneração que se opera na alma diretamente pela influência do Espírito Santo traz aversão ao pecado, que antes era não somente praticado como cultivado. Não significando que não pecaremos mais, ou que tenhamos alcançado a plenitude da santificação como que num passe de mágica. Continuaremos ainda pecadores, brigando com a carne. E esse conflito se manifestará na medida em que, mesmo querendo fazer o bem", somente aquilo que agrada a Deus, ainda faremos o mal (Romanos 7:14-20).

Somos seres limitados pelo pecado original; limitados pela natureza decaída, ainda quando convertidos e regenerados. A única diferença do ímpio é, como afirmado em epígrafe, que abominamos o pecado. Contudo, essa ojeriza que temos contra o pecado não é algo capaz de produzir soberba, ou que nos engrandeça em relação ao próximo que reputamos ímpio. Essa qualidade de "não mais amar o pecado" é dádiva de Deus, é operação d'Ele; "é Ele quem efetua em nós o querer e o realizar" (Filipenses 2:13).

Como admitir um crente que, malgrado a sua "conversão", continue a cometer os mesmos pecados que lhe eram "peculiares" outrora? Como se fosse uma marca permanente, uma tatuagem indelével na alma...

Continuamos pecadores, mas abominamos o pecado, repito. E esse mesmo pecado não se pode tornar marca em nossas vidas, não pode nos fazer "conhecidos" dos nossos semelhantes. Escapamos daquela "homogeneidade", adquirindo, por assim dizer, um novo DNA insuflado em nós pelo Espírito Santo, a partir de agora residente em nossas almas. Eis que a Palavra nos diz:

"Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade, mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros , a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça." (Romanos 6:12-14).

Somos pecadores, mas agora regenerados, e o pecado não mais pode ser imputado contra nós, "porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6), e "agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8:1).

Adquirimos, não por mérito, mas por graça, o que nos separa e individualiza: passamos a fazer parte da comunidade dos salvos. Somos reconhecidos como eleitos, rebanho de Cristo, ovelhas do seu aprisco.

Todavia, ao olhar para a igreja de hoje, o evangelicalismo atual, não há como ter otimismo. Aquele que ontem professava uma fé verdadeira, agora se embrenha por caminhos tortuosos, desviando-se da Palavra. Volto então à pergunta inicial: como saber se ele é convertido? A resposta ainda é a mesma: não saberemos, pois tal conhecimento compete unicamente ao Pai. Outrossim, aquele que trazia os "sinais" visíveis e aparentes de Cristo, "começou a falar por si mesmo, buscando a sua própria glória"; e somente "o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça "(João 7:18). Eu afirmo categoricamente que esta é uma marca do convertido, pela qual nós podemos avaliá-lo: as suas atitudes exaltam e glorificam a Deus (1 Co 10:31), ou ele apenas busca a sua própria glória?

Porque há homens que se dizem cristãos, que se mostram como cristãos, que verbalizam em alto som a sua crença, mas, no entanto, se desviam da Palavra de Deus, guiando-se por estranhos caminhos advindos de outra revelação. Revelação esta vinda do mais recôndito da sua própria mente, incapaz de ser "autenticada" pelo soberano Senhor das nossas almas e da nossa salvação. Cristo disse que, embora 'ouvindo a sua mensagem não compreendem a sua linguagem, sendo incapazes de ouvir a Sua palavra' (Jo 8:43). E por que eles não compreendem , por que seguem outros caminhos fora da Palavra, quando a ouviram? Disse Cristo:

"Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade" (Jo 8:44).

É terrível ter de admitir isso, mas aquele que não permanece firme na Palavra, buscando algo visível em que acreditar - mesmo anunciando esta "coisa" como sendo "deus" - não crê verdadeiramente, porque a Palavra de Deus manifestada pela Bíblia é a exclusiva autenticação não somente da Sua existência, como também da Sua vontade Santa. As Escrituras são suficientes em si mesmas. Deus se anuncia por intermédio desta Palavra; exclusivamente ali.

Por que se desviam dessa Palavra tais "homens de deus", buscando novas revelações, novos moveres, novas regras de fé? O que acontecerá a eles? A Palavra inerrante e eficaz novamente profetiza:

"Portanto, se depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: o cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal" ( 2 Pedro 2:20-22).

Não se enganem aqueles que professam e propagam "novos costumes" provenientes de "outra revelação", pois Deus, a seu tempo, lhes cobrará na medida das suas culpas, do seu conhecimento e do dolo ou avareza pelos quais se conduziram.

Ainda é tempo de voltar à velha, boa e sagrada Escritura (Bíblia).


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segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jesus e o Cristo Kerygmático



O liberalismo é mais um 'fermento' que veio confundir as mentes dos homens, não sendo, porém, um evento moderno, uma vez que no final do século XIX muitos autores já começavam a esmiuçar a existência do Cristo divino, dissociando-o do Jesus histórico. Afinal, perguntam eles, o Jesus dos Evangelhos existiu mesmo, ou foi apenas um mito, uma ideologização dos seus discípulos? Dizem eles que não, pois 'o Jesus histórico serve apenas para obscurecer a nossa visão com relação ao Cristo vivo encontrado na Bíblia". Afinal, a pergunta que teimava em aflorar (e ainda teima para alguns liberais de hoje) é se o Jesus histórico é o mesmo Cristo Kerygmático (divino), ou se isso foi apenas uma "transformação feita pelos seus seguidores".

A partir desse pensamento liberal e agnóstico, relativiza-se os escritos neotestamentários a respeito do nascimento virginal de Jesus (encarnação) , a filiação divina, a sua morte e posterior ressurreição ao terceiro dia. Muitos sábios do liberalismo colocam nessa "dúvida crônica" , sobre a descontinuidade histórica de Jesus e do Cristo Kerygmático, a culpa sobre o 'estágio oral da tradição do Evangelho". Em razão disso, dizem eles, foi possível construir o mito do Jesus histórico como sendo o Cristo Divino, messiânico, o Filho de Deus. Em suma, aquele Jesus descrito no Evangelho não seria o Cristo messiânico. Vejamos o que diz um dos mais "brilhantes" expoentes do liberalismo,

A ESCOLA BULTMANNIANA - "Os expoentes da escola "Kerygmática", assumem que o Cristo proclamado no Kerygma manifesta continuidade com o Jesus histórico (fato no qual eu creio convictamente). O fator Kerygmático é o elemento interpretativo que necessariamente acompanha o evento. Esta posição tem sido radicalmente rejeitada pelo mais destacado alemão e erudito na área do Novo Testamento - Rudolf Bultmann. Bultmann também pode ser classificado como um teólogo Kerygmático, mas ele usa o conceito de Kerygma e Geschichte de um modo bem diferente de outros teólogos da mesma linha. O Jesus histórico, para Bultmann, tem sido bem obscurecido pela influência formativa da tradição da fé, a qual reinterpretou o significado do Jesus histórico em termos de mitologia. Historicamente, Jesus foi considerado como sendo apenas um profeta judaico que proclamou o fim apocalíptico iminente do mundo e advertiu o povo a preparar-se para a catástrofe presente no dia do juízo. Ele não se imaginava nem como Messias nem como Filho do homem. Entretanto, ele possuía um surpreendente sentido acerca da realidade de Deus , e compreendeu que era o portador da Palavra de Deus para os últimos dias, cuja palavra confrontava os homens para a exigência da decisão. Sua morte foi uma tragédia incomparável, a qual, no entanto, foi salva da ameaça de perder o seu significado pela fé cristã em sua ressurreição. A igreja primitiva reinterpreta a pessoa de Jesus primeiro em termos da concepção apocalíptica judaica do Filho do homem, e posteriormente em termos de uma junção da concepção apocalíptica do Filho do homem e do ser celestial gnóstico. Todos estes elementos, entretanto, constituem-se no Kerygma mitológico, através do qual a igreja primitiva reinterpretou o significado de Cristo para os seus adeptos. O Kerygma, ou seja a proclamação de Cristo feita pela igreja primitiva é um fato histórico na vida do cristianismo primitivo, e, consequentemente, verifica-se uma continuidade entre o Jesus histórico e o Kerygma. Foi Jesus quem deu origem ao Kerygma. Se Jesus não tivesse existido, não haveria Kerygma. No entanto, o Cristo proclamado no Kerygma é uma elaboração puramente mitológica, e não teve existência na história, pois a mitologia, por definição, não é histórica. Consequentemente, não pode haver continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo do Kerygma. O Kerygma é a expressão do significado que Cristo teve para os cristãos primitivos, formulado em termos mitológicos" [1].

Em suma, esse tal Bultmann, expoente do liberalismo, declara que o Jesus que foi descrito pelos apóstolos, especialmente pelo evagelista Marcos no Novo Testamento, era apenas um embuste urdido pelos seus seguidores. Portanto, segundo a sua visão distorcida, não há continuidade entre o Jesus do Novo Testamento e o Cristo (Messias) Kerigmático. Jesus era apenas um homem, instrumentalizado por Deus para trazer a Palavra escatológica, porém, não o Filho de Deus; não o Cordeiro que possibilita a salvação de tantos quantos neles crerem. O Evangelho mente: Jesus é apenas uma "figura mitológica" construída pelos cristãos do primeiro século. Não houve ressurreição. Eles não conseguem apreender ou imaginar a figura da justificação. Perguntam eles: como pode a morte de um somente, salvar a tantos? Os liberais, secundados pela teoria de Bultmann, não admitem a morte substitutiva de Jesus Cristo na cruz, tampouco a sua ressurreição.

Uma coisa é certa, o liberalismo 'teológico' capitaneado pelo alemão Bultmann apenas reforça ainda mais fortemente a obra de Cristo na Cruz, na medida em que somente pela fé se chega a Ele. Segundo Hebreus 11, a fé é a crença naquEle que não se vê. É a certeza de que Jesus de fato veio a esta terra e morreu pelos seus, tornando-os aceitáveis ao Pai. Sem isso, não haveria qualquer possibilidade de salvação.

Sim, eu creio firmemente que Jesus não é uma figura mitológica qualquer, urdida por mentes humanas, mas o Filho de Deus feito carne, morto e ressurreto pelos meus e pelos seus pecados. Jesus é o maior presente que Deus-Pai nos ofereceu a fim de que pudéssemos aspirar a Sua presença após a ressurreição. Somos escolhidos, eleitos de Deus e justificados por Cristo na cruz do calvário. Logo, não há dúvida de que o mesmo Jesus retratado nos evangelhos é o Cristo, o Messias a que Isaías fez menção em seu Livro, no Capítulo 53: 1-12.

Eis que a partir do momento em que se relatiiviza a existência de Jesus como sendo o Cristo de Deus, relativiza-se toda a Bíblia. E assim, não há como se pressupor a existência nem de Cristo, e tampouco de Deus, pois ambos se revelam exclusivamente pela Bíblia, através da graça, mediante a fé (Efésios 2:8-9).

Mediante tal assertiva, não consigo enxergar os liberais como sendo cristãos, mas uma espécie de ateus, ou agnósticos, que não foram agraciados com a Revelação salvífica.

Que Deus tenha piedade deles, pois a Palavra servirá para a sua condenação no dia do Juízo, quando todas as obras dos homens serão reveladas, tanto as boas quanto as más.



Ps: Pois é meu caro amigo Pr. Adriano, como vê, já usei o seu presente (livro) nesta pequena postagem.



[1] LADD, George Eldon, "Teologia do Novo Testamento", 2ª edição, Ed. JUERP, 1986, RJ.


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domingo, 16 de maio de 2010

Misticismo evangélico




Por: John MacArthur


Os crentes em Colossos estavam sendo intimidados por pessoas que alegavam ter uma mais elevada, ampla, profunda e completa união com Deus do que aquela que somente Cristo pode conceder. Esses eram os místicos. Eles alegavam haver tido comunhão com seres angelicais através de visões e outras experiências místicas. Paulo disse sobre eles:

Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal, e não retendo a Cabeça, da qual todo o corpo, suprido e bem vinculado por suas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus. (Colossenses 2.18-19)

O misticismo ainda está bem vívo e continua usando a intimidação espiritual para rebaixar os inexperientes. Com freqüência, as pessoas que hoje dizem ter tido visões celestiais ou experiências fascinantes estão simplesmente inchadas com vãs noções, usando suas alegações para intimidar os outros a exaltá-las. Como escreveu o apóstolo Paulo aos crentes em Colossos, esse tipo de misticismo é o produto de uma mente orgulhosa e não-espiritual. Aqueles que o abraçam apartaram-se da suficiência que possuem em Cristo, o qual produz a verdadeira espiritualidade. Não seja intimidado por eles.

Aparentemente, os místicos de Colossos alegaram que qualquer um que não tivesse semelhantes visões esotéricas ou que não abraçasse semelhantes doutrinas estava desqualificado para obter o prêmio da espiritualidade verdadeira. Na realidade, eles mesmos eram os desqualificados (1 Coríntios 9.27).

O misticismo é a idéia de que o conhecimento direto acerca de Deus ou da realidade máxima se consegue através da intuição ou da experiência pessoal e subjetiva, à parte de ou até mesmo em contradição ao fato histórico ou a objetiva revelação divina — a Bíblia. Arthur Johnson, um professor na Universidade West Texas State, afirma o seguinte:

Quando falamos de uma experiência mística nos referimos a um evento que está completamente dentro da pessoa. Esta experiência é totalmente subjetiva... Embora os místicos possam experimentá-la como tendo sido desencadeada por ocorrências ou objetos fora de si (com um pôr-do-sol, uma música, uma cerimônia religiosa, ou mesmo um ato sexual), ela é um evento totalmente interior. A experiência mística não contém aspectos essenciais que existam externamente no mundo físico... Uma experiência mística é primariamente um evento emotivo, e não um evento cognitivo... Suas qualidades predominantes têm mais a ver com a intensidade emocional, ou seja, com o "tom do sentimento", do que com os fatos avaliados e entendidos racionalmente. Embora esta explicação seja verdadeira, em si ela é um modo inadequado de descrever a experiência mística. A força da experiência é freqüentemente tão abrangente que a pessoa que a experimenta vê toda a sua vida transformada por ela. Meras emoções não podem efetuar tais transformações.

Além do mais, é dessa qualidade emocional que resulta outra característica, a saber, sua natureza "auto-autenticadora". O místico raramente questiona a virtude ou o valor de sua experiência. Conseqüentemente, se ele a descreve como lhe dando informação, ele raramente questiona a verdade de seu conhecimento recém-adquirido. Reconhecer sua alegação de que as experiências místicas são "maneiras de conhecer" a verdade é essencial para a compreensão de muitos movimentos religiosos que vemos hoje.

Prevalecendo especialmente no movimento carismático, o misticismo moderno abraça um conceito de fé que de fato rejeita completamente a realidade e a racionalidade. Declarando guerra à razão e à verdade, ele está assim em direto conflito com Cristo e a Escritura. Ele cresceu rapidamente porque promete o que tantas pessoas estão buscando: algo mais, algo melhor, algo mais rico, algo mais fácil — algo rápido e fácil para se substituir por uma vida de cuidadosa e disciplinada obediência à Palavra de Cristo. E, uma vez que tantos carecem da certeza de que sua suficiência está em Cristo, o misticismo pegou muitos cristãos despercebidos. Assim, ele tem carregado boa parte da igreja a um perigoso mundo de confusão e falso ensinamento.

O misticismo criou um clima teológico amplamente intolerante quanto à doutrina exata e à sadia exegese bíblica. Observe, por exemplo, como se tem tornado popular falar sarcasticamente a respeito da doutrina, do ensino bíblico sistemático, da cuidadosa exegese ou da ousada proclamação do evangelho. Verdade absoluta e certeza racional estão atualmente fora de moda. A pregação bíblica autoritária é criticada como muito dogmática. É raro hoje em dia ouvir um pregador desafiar a opinião popular com um ensinamento claro da Palavra de Deus e sublinhar a verdade com um firme e resoluto "Assim diz o Senhor".

Ironicamente, surgiu uma nova classe de profetas que nomearam a si mesmos. Estes charlatões religiosos apregoam seus próprios sonhos e visões com uma frase diferente: "O Senhor me disse..." Isso é misticismo, e ele vitima pessoas que buscam alguma verdade secreta que será acrescentada à simplicidade da Palavra de Deus, que é toda-suficiente e que nos foi dada uma vez por todas.

Um bem conhecido pastor carismático disse-me que uma vez ou outra, de manhã, quando está a se barbear, Jesus entra em seu banheiro e põe seu braço em redor dele e conversam. Ele acredita mesmo nisso? Eu não sei. Talvez queira que as pessoas pensem que ele tem mais intimidade com Cristo do que a maioria de nós. Seja qual for o caso, sua experiência está em grave contraste com os relatos bíblicos das visões celestiais. Isaías ficou aterrorizado quando viu o Senhor e imediatamente confessou seu pecado (Isaías 6.5). Manoá temeu por sua vida e disse a sua esposa: "Certamente morreremos, porque vimos a Deus" (Juízes 13.22). Jó arrependeu-se no pó e na cinza (Jó 42.5-6). Os discípulos ficaram petrificados (Lucas 8.25). Pedro disse a Jesus: "Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador" (Lucas 5.8). Cada um deles ficou perplexo com um senso de pecaminosidade e temeu o juízo. Como alguém poderia casualmente falar e se barbear enquanto na presença de um Deus tão infinitamente santo?

Um jornal local recentemente falou de um bem conhecido tele-evangelista que, disse ele, ao tirar uma soneca em sua casa, de repente, o próprio Satanás apareceu, pegou-lhe pelo pescoço com as duas mãos e tentou estrangulá-lo até morrer. Quando ele gritou, sua esposa veio correndo à sala e espantou o diabo. Através dos anos, esse mesmo homem tem relatado outras experiências bizarras.

Francamente eu não creio em relatos como esse. Além do fato de quase sempre não se alinharem com a verdade bíblica, eles afastam as pessoas da verdade de Cristo. As pessoas começam a buscar experiências paranormais, fenômenos supernaturais e revelações especiais — como se nossos recursos em Cristo não fossem o bastante. Elas tecem suas perspectivas a respeito de Deus e da verdade espiritual baseadas em seus sentimentos que elas mesmas geram e autenticam, os quais se tornam mais importantes para elas do que a própria Bíblia. Em suas mentes, criam experiências a partir das quais desenvolvem um sistema de crença que simplesmente não é verdadeiro, se expondo ainda mais à decepção e até mesmo a influências demoníacas. Esse é o legado do misticismo.

O misticismo também destrói o discernimento. Porque as pessoas pensariam por si mesmas ou comparariam o que lhes é ensinado com a Escritura, quando seus professores alegam receber a verdade diretamente do céu? Assim o misticismo se torna um instrumento através do qual líderes inescrupulosos podem extrair dinheiro e honra do rebanho, por meio de experiências fabricadas, tirando vantagem da ingenuidade das pessoas.

O pastor de uma grande igreja em nossa cidade queria mudar a igreja para um outro lugar. A idéia não era muito popular entre alguns membros da sua congregação, mas ele lhes convenceu de que era a vontade de Deus, ao apelar para o misticismo. Ele lhes disse que em três diferentes ocasiões o Senhor mesmo lhe havia falado, instruindo-lhe a mudar a igreja para certa localização. O pastor declarou que na terceira ocasião o Senhor lhe disse: "Chegou a hora. Deixe o problema comigo. Eu vou agir em muitos corações. Alguns não entenderão. Alguns não vão seguir. A maioria irá. Vá, cumpra minha ordem". Esta é uma citação textual do boletim da igreja.

Quando o pastor apresentou o plano à sua congregação, ele o comparou ao desafio que Caleb e Josué fizeram aos israelitas para entrarem na Terra Prometida (Números 13.30). Depois ele acrescentou:

Se você não consegue ter a visão do belo plano de Deus, eu entenderei, mas é essencial que nossa igreja enfrente esta oportunidade de seguir o plano de Deus. Se você não for conosco, eu entenderei. Eu não vou pensar de você como mau ou destrutivo... eu quero que marchemos em frente com o plano de Deus e quero que cada um de vocês venha comigo. Você vai se alegrar de ter feito assim, e Deus vai lhe abençoar por isso.

Essa é a clássica intimidação de um apelo ao misticismo! Este homem com efeito renunciou a toda responsabilidade por seu plano e a colocou sobre Deus. Fazendo isso, ele retirou a decisão do seu povo e de outros líderes da igreja e a baseou em seus próprios sentimentos inconfiáveis. Ele sugeriu que qualquer um que discordasse do seu plano estaria se opondo à vontade de Deus e correria o risco de incorrer no mesmo destino que os incrédulos israelitas sofreram, quando se recusaram a entrar em Canaã!

Talvez Deus quisesse que aquela igreja mudasse — essa não é a questão. Porém, o apelo do pastor a seus próprios sentimentos místicos, subjetivos e autenticados por ele mesmo estava errado. A Escritura é clara em que tais decisões devem ser feitas com base em um acordo sábio, unânime e regado com orações, entre anciãos cheios do Espírito que buscam a vontade de Deus na Escritura, não em caprichos místicos de um homem.

Lembram-se de Oral Roberts e sua famosa alegação de que Deus o mataria, se os ouvintes não enviassem milhões de dólares para sua organização? Através dos anos, ele tem feito semelhantes apelos fantásticos, indo desde promessas de um milagre por uma determinada soma de dinheiro, até a afirmação de que Deus revelaria a ele a cura do câncer, se todos enviassem várias centenas de dólares. Esse tipo de extorsão se torna possível porque muitos cristãos não reconhecem o erro do misticismo. Eles querem apoiar o que Deus está fazendo, mas não sabem discernir as coisas biblicamente. Conseqüentemente, eles são indiscriminados no dar. Alguns enviam enormes somas de dinheiro na esperança de comprar um milagre. Ao fazerem isso, eles pensam estar demonstrando grande fé, mas na realidade estão demonstrando grande desconfiança na suficiência de Cristo. Aquilo que eles pensam ser fé em Cristo é, de fato, dúvida em busca de provas. Deste modo, pessoas fracas são presas fáceis das falsas promessas do misticismo.

Pregadores que confrontam os ensinos místicos sempre são estigmatizados como críticos, sem amor ou causadores de divisão. Assim, o misticismo tem fomentado uma tolerância ao falso e negligente ensino. Mas a ordem bíblica é clara: nós devemos ser apegados "à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem" (Tito 1.9).

Não existe plano mais alto — nenhuma experiência sobrepujante ou vida mais profunda. Cristo é tudo em todos. Agarre-se a Ele. Cultive seu amor por Ele. Somente nEle você é completo!





Breve comentário do autor do blog: A despeito de ser um teólogo renomado, o autor deste maravilhoso texto consegue ser também claro, objetivo e preciso. Na simplicidade e clareza das suas palavras, a essência do texto pode ser apreendida por qualquer pessoa alfabetizada. E ainda assim, muitos teimam em continuar alimentando esse misticismo estranho. Por quê? A meu ver, duas razões guiam esses evangélicos místicos: desconhecimento da Palavra de Deus, o que possibilita aglutinarem à doutrina verdadeira um monte de fábulas; e, intervenção direta de demônios. Uma coisa é certa, esse tipo de "adoração" não chega ao Trono de Deus.

Tenho combatido essas práticas nefastas neste blog desde a sua criação. Penso até que tenho sido repetitivo às vezes. E ainda assim, muitos daqueles aos quais dirijo as minhas críticas, no afã de que retornem à verdade, preferem se manter no erro, endurecidos e voltados para si mesmos, para a sua própria glória. Os tais são como "fonte sem água, impelidos por temporal. Para eles está reservada a negridão das trevas" (2 Pedro 2:17). Porque, ao se desviarem da são doutrina, não têm a Deus , e nós não devemos ser "cúmplices deles" (2 João 1:10-11). Por isso combato-os em amor.

Mais uma vez insto a você, acostumada(o) a acessar este blog a fim de criticar quem propaga a Palavra Verdadeira, a doutrina de Cristo, a repensar as suas loucas ações, retornando à sã doutrina e "abandonando as fábulas e a coceira nos ouvidos" (2 Tm 4:3-4). Faça isso, ao invés de se colocar na condição de perseguida(o). E deixe de policiar aqueles que aqui vêm , reconhecendo nestes textos a perfeita manifestação da Doutrina da Verdade. Faça(m) isso, pois não desejo mais lançar "pérolas aos porcos" (Mateus 7:6), tampouco se mantenha(m) nas "fábulas profanas e de velhas caducas" e alimente(m)-se das verdades bíblicas (1 Tm 4:6-7). Não continue(m) com a "mente cauterizada, nem apostate da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a ensinos de demônios" (1 Tm 4:1-2).


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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entre a Palavra e a incredulidade



"Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? (...) (2 Coríntios 6:14-16)

Me encanta a profundidade dos escritos de Paulo, tanto a beleza que ele extrai das palavras, como, igualmente, a verdade contida nelas. Em tudo, porém, o apóstolo demonstra grande equidade.

Os versos acima citados retratam uma quase contradição, mas somente aparente. Afinal, devemos ou não nos relacionar com os incrédulos? Eles estão ou não na igreja, travestidos de crentes?

Na verdade, Paulo está vivenciando uma realidade difícil naquele momento na igreja de Corinto: uma igreja problemática, mas ao mesmo tempo necessitando de cuidados. Havia no meio daqueles irmãos lobos vestidos de ovelhas, servos de satanás enfeitados com vestes alvas, conforme podemos observar pela leitura do capítulo 11, versos 14 e 15, da mesma Epístola.

Portanto, ao mesmo tempo que nos é lícito sentarmos à mesma mesa dos incrédulos, uma vez que eles estão em nosso meio, não devemos "nos colocar em jugo desigual com eles". Vale dizer que não podemos nos deixar levar pelas suas decisões, na medida em que temos selado em nossos corações os ensinamentos de Cristo. As más influências deles não devem nos cegar, desviando-nos da verdade do Evangelho - embora convivamos com eles.

Afinal, não sabemos quais são os eleitos, sendo a nossa missão pregar o Evangelho indistintamente. O próprio Cristo nos deixou essa lição ao comer com pecadores e publicanos (Mc 2:16). Todavia, o mesmo ensinamento difere daquele que nos diz para não nos assentarmos "na roda dos escarnecedores, tampouco andarmos no conselho dos ímpios, nem no caminho dos pecadores" (Salmos 1), pois o nosso prazer real e genuíno é estarmos "na lei do Senhor" (Salmos 1:2).

Em muitos momentos retine em nossas mentes a indagação sobre o que fazer... Fugir? À maneira dos antigos puritanos nos ausentarmos do mundo para que não sejamos afetados pelo pecado indiscriminado? Seria esta uma opção viável?

Penso que se nos tornássemos apenas eremitas do Evangelho isso não nos acrescentaria nada como cristãos. Não nos transformaríamos em "sal e luz" (Mateus 5:13-17), conforme nos determinou o Salvador. É preciso que façamos a diferença, mesmo neste mundo corrompido.

Como mergulhar em um rio poluído e ainda sair limpo? Como cear com ímpios, "pecadores e publicanos" sem que nos respinguem as suas imundícies? Há uma única resposta para tal indagação: guardando a Palavra da Verdade. Seguindo fielmente as Escrituras e estabelecendo nelas o nosso limite.

Mas é tudo tão semelhante, o próprio apóstolo Paulo nos nos admoesta que os "ministros de satanás se transformam em anjos de luz (2 Co 11:14-15)! Como separar o joio do trigo? Não cabe a nós separá-los, mesmo porque, se o fizéssemos, correríamos o risco de arrancar o trigo e deixar o joio.

Sim, há muitos enganos dentro da igreja visível. Há uma enormidade de pregadores 'propagando' "outro evangelho" . E ainda há aqueles que praticam a espiritualidade da aparência, do vozerio, das grandes performances. Sobre estes o próprio Cristo disse, citando o profeta Isaías: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15:8-9).

Somente pela obediência à Palavra de Deus poderemos discernir o mal travestido de bem, o joio do trigo. Analisando as Escrituras e nos debruçando em seu estudo seremos capazes de filtrar o que nos 'oferecerem', sorvendo apenas o melhor alimento espiritual. Vivemos dias difíceis, onde o mal encontra morada nos corações empedernidos dos homens...

A Palavra viva é por si mesma capaz de nos fazer discernir o que é genuinamente bom, daquilo que parece bom, mas que verdadeiramente é alimento satânico. "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daqueles a quem temos de prestar contas" (Hebreus 4:12-13).

Lendo esses versículos que têm a "força da fé", reforçamos a certeza de que a Bíblia é a revelação do Deus vivo invisível. Como então podem dizer que a "letra fria mata", descontextualizando a propria palavra de Deus no afã de enfraquecer esta mesma Palavra? Que Deus servem esses tais, que necessitam de "algo mais"?

Letra fria é a palavra que apenas se lê, mas sem fé. A culpa não está definitivamente nas Escrituras Sagradas, mas no incrédulo que lê as verdades lá inseridas sem a revelação do Deus Vivo.

Sou capaz de tremer de emoção ao ler a Bíblia no silêncio do meu quarto (tenho certeza que muitos duvidarão disso...). Posso sentir a presença viva de Deus ao orar silenciosa e ocultamente em locais em que me encontro só (ou quase), eu e o Pai Celestial. Não trato o Criador por "paizinho" e nem digo que Ele "sonhou algo para mim" (Ele não sonha, Ele realiza - Fl 2:13). A Palavra de Deus expressada pela Bíblia Sagrada deve ser suficiente para nos remeter ao Criador, completamente rendidos pelo seu grande poder, que vem diretamente do Santo dos Santos. Se não for assim, algo está errado.

Afirmo categoricamente que aquele que necessita de algo mais do que a Palavra (de Deus) não tem Deus! Porque Deus se revela exclusivamente por intermédio da Sua Palavra Inerrante, Imutável e Verdadeira. Logo, o que é "revelado" fora da Palavra, certamente não vem de Deus.


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