sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Soberania de Deus, vontade e responsabilidade humanas



Thomas Paul Simmons, D.Th.



1. O DECRETO DE DEUS CONCERNENTE AO PECADO NÃO É CAUSATIVO SENÃO PERMISSIVO, DIRETIVO, PREVENTIVO E DETERMINATIVO.


Deus decretou que o pecado viesse ao mundo por motivos que são inteiramente conhecidos somente dEle, mas Ele decretou que o pecado viesse pela própria livre escolha do homem. Deus não compele o homem a pecar, mas permite-o. O homem, e não Deus, é a causa eficiente do pecado e por essa razão o homem é responsável.

Antes de passar adiante, é preciso ser observado que nenhumas objeções podem ser trazidas contra a afirmação que Deus decretou o pecado, viesse ao mundo, que não possa ser trazida contra a permissão atual do pecado por Deus, a menos que o objetor assuma a posição que Deus foi impotente para impedir a entrada do pecado. Isto seria uma negação da onipotência e soberania de Deus e renderia o objetor indigno de consideração aqui. A onipotência e soberania de Deus nos ensinam que o que quer que Deus o permita Ele o permite porque Ele quer fazer assim. E desde que Deus é imutável, sua vontade tem sido sempre a mesma: o que Ele quer em qualquer tempo Ele tem querido desde toda a eternidade. Portanto, Sua vontade iguala ao Seu propósito e o Seu propósito iguala ao Seu decreto.

2. A LEI DE DEUS E NÃO O SEU DECRETO FIXA O DEVER E A RESPONSABILIDADE DO HOMEM.


A Lei de Deus é o guia e o padrão do homem. Isto é, à vontade revelada de Deus. O decreto de Deus é a Sua vontade secreta. O homem nada tem a fazer com isto, exceto saber e reconhecer os fatos concernentes. As coisas secretas pertencem a Jeová, nosso Deus, mas as reveladas a nós pertencem e aos nossos filhos para sempre, para que façamos todas as palavras desta Lei(Deuteronômio 29:29).

3. O MOTIVO ANTES DE O HOMEM PECAR FÁ-LO RESPONSÁVEL.

Porque o homem peca? É porque ele quer, porventura, fazer a vontade de Deus? Não, nunca assim. Porque os homens crucificaram a Cristo? Porque creram que Deus O mandara para morrer como um porta-pecados? Não. Foi porque eles O odiaram. Crucificaram-NO através de motivos ímpios. É assim sempre que o homem peca. O pecado procede do amor do homem às trevas (João 3:19).

II. A RESPONSABILIDADE HUMANA E A INABILIDADE ESPIRITUAL DO HOMEM


Uma outra pergunta concernente à responsabilidade do homem é: Como pode o homem ser responsável por não obedecer inteiramente à Lei de Deus e por não receber o Evangelho, quando o ouve, se ele por natureza não pode fazer ambas as coisas?

A resposta a esta pergunta é que o homem pode ser responsável pelo que ele não pode fazer somente na suposição de ele ser culpado por sua inabilidade. E é um fato que o homem é culpado por sua inabilidade espiritual. Não é que ele, individualmente, por seu próprio ato pessoal, deu origem à inabilidade, porque ele nasceu com ela; mas todo homem pecou em Adão e assim deu origem à sua inabilidade espiritual. Que todo homem pecou em Adão é o verdadeiro ensino de Romanos 5:12: "Portanto, assim como por um homem entrou o pecado no mundo, pelo pecado a morte, assim a morte passou a todos os homens porque TODOS PECARAM". Pecaram? no grego está no aoristo, o qual expressa ação passada distinta. A passagem fá-lo referir-se à participação de todos os homens no pecado de Adão.

4. MINHAS CONCLUSÕES

O motivo desta minha postagem se vale por uma discussão que tive ontem, junto a vários amigos reformados sobre predestinação vs vontade e responsabilidade humana (aqui), e aproveito agora para reconhecer , publicamente, que cometi alguns erros de entendimento. O que não significa que eu concorde com tudo que lá foi dito.

Pois bem, partindo do pressuposto de que tudo é ditado por Deus, tudo é determinado antes da fundação do mundo ( e eu concordo que Deus elege e predestina, chama, justifica e glorifica - Rm 8:29,30), inclusive os pensamentos e todas as ações humanas, também a vontade, como podemos ter responsabilidade? Essa é a antinomia: como podemos ter responsabilidade sem qualquer grau de liberdade? E nesse prisma, o que é a livre agência, que a grande maioria dos calvinistas concebe, em contraposição ao livre arbítrio?

Dentre várias definições, A. H. Strong diz: "Livre agência é a faculdade de autodeterminar-se em vista de motivos ou poder de o homem (a) escolher entre motivos e (b) dirigir sua atividade subseqüente conforme com o motivo assim escolhido" (Systematic Theology, pág. 176) (negritos nossos).

Como então, segundo a livre agência, se Deus determina tudo - até mesmo os nossos pensamentos - podemos ter a nossa vontade preservada? Uma das opiniões é que essa resposta se encontra na soberania de Deus, porque Ele quis assim e assim decretou. Essa resposta não me satisfaz, não porque eu não admita a soberania de Deus, mas porque elmina completamente a vontade do homem e, como consequência, a liberdade de escolha e de autodeterminar-se. Se não há compulsão, arbitrariedade e nem constrangimento externos, como se processa isso? Eu discordo exatamente em um ponto de alguns amigos reformados: Deus não decreta pecados individualmente, senão seminalmente através do pecado original: Ele permite o pecado para a consecução dos Seus santos desígnios. E aí, eu entendo, há sim, um certo grau de liberdade - sem que com isso possamos modificar os decretos divinos, ficando isto bem entendido.

No mesmo diapasão, acredito que o pecado existe em razão da natureza caída do homem, não somente porque Deus o decrete (mas também porque o decreta). Porém, não acredito que Deus decrete desde a eternidade "todas as ações e pensamentos do homem individual e detalhadamente", tornando a própria Lei Moral um faz-de-conta e o homem um autômato. Deus , a meu ver, decreta o final, predestina e elege, mas a existência do homem é autodeterminada segundo a boa vontade de Deus , mas com um certo grau de liberdade.

A questão é a seguinte: o fato de Deus nos conceder essa livre agência, interferindo apenas para garantir os Seus desígnios (decretos eternos), não diminui a Sua soberania, uma vez que Ele (Deus) não fica adstrito à vontade do homem, mas este sim, fica sob a égide da Sua vontade. O Eterno ainda controla, governa e dirige a sua criação.

Concordo com o mesmo autor em epígrafe quando assim assevera:

"Quando os homens dizem que a soberania absoluta de Deus não pode reconciliar-se com a livre agência por mentes finitas, indicam um mal entendido quer da livre agência, quer da soberania de Deus, ou de ambas. A livre agência está em harmonia perfeita, completa e manifesta com a soberania absoluta de Deus. O laço de união entre ambas jaz no fato que a vontade está sujeita ao caráter do seu possuidor. Deus determinou o caráter de cada homem por meio de qualquer dos Seus decretos, positivo ou permissivo, positivo no caso de todo o bem e permissivo no caso de todo o mal. E Deus, tendo determinado todas as circunstâncias, controla os motivos que influenciam a vontade. Assim Deus controla as ações humanas e todavia os homens agem em todos os tempos livremente como Deus mesmo faz. Se não houvesse Deus, o homem não podia agir mais livremente do que age."

É isso, Deus decreta, elege, todavia não precisa ditar pensamentos e ações (e a meu ver não o faz) para preservar a Sua soberania, pois determinou subjacentemente o caráter de cada homem, cuja vontade está sujeita a ele.

Se de fato Deus determinou e ditou todos os nossos pensamentos e ações sou forçado a concordar com um arminiano amigo: o calvinismo é muito sem graça (mas Ele interfere sempre, embora sem mudar o final, senão para alcançar o final, não deixando de ser imutável, tampouco soberano).



[Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004 Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/04Fonte: www.PalavraPrudente.com.br - link )



30 comentários:

Heitor Alves disse...

Olá Ricardo.

Quanto à responsabilidade do homem, não acredito que ele precisa ser livre para ser responsável. Precisamos, primeiro, definir "responsabilidade".

Eu procurei definir "responsabilidade" e aplicá-lo à idéia de liberdade. Voc~e pode ver o artigo no link abaixo:

O Conflito Entre Livre-Arbítrio e Responsabilidade do Homem

Quanto ao pecado ser ou não decretado por Deus, reconheço que essa é uma questão que me requereria muita leitura. Mas acredito que, como todas as coisas foram decretadas por Deus, então o pecado foi sim decretado por Ele.

Helder Nozima escreveu algo muito interesante sobre o decreto do pecado. Acho que vale a pena ler o artigo dele no link abaixo:

Deus Decreta Pecados?

Um abraço.

Ricardo Mamedes disse...

Olá Heitor,

Quanto a isso eu concordo com você: não é preciso ser livre para ter responsabilidade. E eu aceito plenamente que não somos livres, uma vez tendo sido criados por Deus e sendo governados por Ele. E mais, o fato dEle decretar já determina a Sua autonomia.

Mas a questão posta em discussão não é essa, mas se Deus determina TODOS os nossos pensamentos e ações, ou apenas o fim. O que eu não consigo aceitar é isso, pois me parece que nos coloca na condição de autômatos. Mesmo aceitando o decreto final de eleitos e reprovados, como tambéma predestinação (e eu aceito), penso que Deus, para preservar a Sua soberania, não necessitaria decretar TODOS OS NOSSOS PENSAMENTOS E AÇÕES. Entendeu?

Porque se realmene isso ocorreu eu não vejo utilidade e nem realidade em qualquer coisa que fazemos, como orar, ler a Bíblia, observar os seus ensinamentos, educar nossos filhos, etc. É isso.

Mas nesse ponto podem me dizer que isso não importa para nós, pois ainda teremos a "sensação de que fazemos escolhas". Acontece que eu sei que há essa possibilidade, então quero buscar a resposta - se houver. E não simplesmente aceitar porque me disseram.

Ademais, eu sinto que Deus não precisa ter dito pra eu escolher entre ir para a direita ou esquerda, pensar isso ou aquilo, levantar ou não levantar. Porque isso é irrelevante em todo o processo.

Em Cristo,

Ricardo

Heitor Alves disse...

Ok Ricardo.

Entendi a questão. Ela é pertinente!

"Se Deus determina TODOS os nossos pensamentos e ações, ou apenas o fim" é um caso que requer muito estudo! A leitura de escritores divergentes neste assunto parece-me bastante proveitosa.

Bom, como eu não estou em casa neste momento e não disponho de tempo para escrever alguma coisa agora (tenho que dividir o pc com 3 pessoas!!! rsrsr).

Deixe-me chegar em casa e ainda hoje escreverei alguma coisa.

Leonardo Bruno Galdino disse...

Ricardo,

Recebi o seu e-mail sobre o presente debate. Infelizmente, no momento não disponho de tempo para te responder apropriadamente. Mas, de início, apenas digo que a passagem em Romanos 9 é crucial para a questão: "Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?" (v. 19,20). Ponto. O Roberto já falou algo sobre ser determinista. Também o sou. Sugiro que você leia Vincent Cheung sobre essa questão (não que eu concorde com absolutamente todas as sus assertivas, mas o fato é que ele é convincente em muitas coisas).

Abraços!

Ricardo Mamedes disse...

Leonardo,

Muito obrigado pela resposta. Porém, de fato não é suficiente. A passagem em Romanos 9 - que eu já estudei demorada e reiteradamente - foi exatamente a que me modificou. Ela me salvou do arminianismo de outrora. Ser determinista não é a questão em debate, pois, se bem verificar o texto, verá que eu aceito essa verdade como absoluto que é.

Na verdade eu penso não ser tão radicalmente determinista quanto você e o Roberto (aliás hoje eu consegui ser suficientemente claro nesse ponto com ele). Sobre especificamente esta questão li Cheung.

A resposta que eu buscava já encontrei - e sei que não vou conseguir avançar mais do que onde cheguei - visto que ela me satisfaz. E satisfaz porque, até onde conheço, não é contrária à Bíblia. Pra dizer a verdade, penso que TODOS nós, nessa questão, partimos do mistério, logo, nos situamos no pantanoso campo das conjecturas.

De qualquer maneira, um grande abraço e obrigado pela consideração.

Em Cristo,

Ricardo

Ricardo Mamedes disse...

Para ficar claro o meu entendimento sobre a questão (até onde consegui ir) vou reproduzir um comentário meu ao Clóvis, que talvez mostre melhor o meu pensamento:

"Olá Clóvis,

Oopa! Aqui parece que pensamos parecido mesmo! Até que enfim, pois pensei que as minhas reflexões não fossem ter uma resposta:

"... entendo que necessidade difere de certeza, não quanto ao resultado, mas quanto aos meios."

Esse é o nó górdio que tento desatar. Jamais duvido que o resultado ocorrerá de outra forma que aquela determinada por Deus, mas há uma certa liberdade quanto aos meios para se atingir o fim. Por exemplo: Deus criou o universo e instituiu as leis naturais. E Deus determinou os eventos, assim, inclusive, o tsunami (mesmo o Gondim não aceitando). Porém, Deus não determinou MINUCIOSAMENTE todo o encadeamento da natureza para se chegar ao evento/fim, uma vez que já havia criado as "leis" que dariam origem ao evento/fim.

É aí que eu me coloco: Deus predestinou, elegeu alguns e reprovou outros: sim! Ele decretou tudo para atingir esse fim: sim! Ele determinou o caráter de cada homem bem como a sua natureza para a consecução desse fim: sim! A nossa vontade está atrelada ao nosso caráter inexoravelmente, logo, Deus controla a nossa vontade (mediatamente). Portanto, Deus não precisa determinar TODOS os nossos pensamentos e TODAS as nossas ações para garantir a consecução do fim, pois o fim está previamente determinado e garantido (ufa!).

Eu digo isso, não porque exija uma liberdade que não tenho (o fim foi decretado, logo, não havendo possibilidade de mudança não há liberdade), mas para dar sentido a tudo, à própria existência humana interagindo com Deus, ao relacionamento pessoal que temos com Ele, à observância da Lei moral, etc. Caso contrário, não sendo assim, de fato estaremos num teatro onde todas as ações já foram ditadas e a vida é apenas um faz-de-conta. Aí então caberia a pergunta, símbolo do desespero de alguns filósofos: existo mesmo?"

Anônimo disse...

Olá Ricardo, graça e paz seja contigo!
Meu irmão venho fazer um convite, a ter sua preciosa opinião em uma temática
Que vem se alastrando em uma forma de câncer, dentro de um conceito malicioso,
E maligno dentro da blogsphera Cristã nacional, que tem um tema Irmão falando mal de Irmão, gostaria muito de ter sua opinião ou até mesmo sua critica após a leitura do texto no blog Amigo de Cristo.
Graça e paz sejam contigo e família.
Cordialmente Amigo de Cristo.

Heitor Alves disse...

Olá Ricardo,

Escrevi alguma coisa sobre "vontade" lá no meu blog (blogdoseleitos.blogspot.com). Durante a leitura, talvez você sinta falta de algumas questões, mas que irei abordar as questõs de soberania, liberdade e responsabilidade nas minhas próximas postagens.

Um abraço.

Anônimo disse...

Ricardo meu irmão graça e paz seja contigo!
Meu irmão quero felicitá-lo e agradecer o comentário magistral que colocaste na postagem.
Digo a verdade em Cristo Jesus, que hoje pela primeira vez encontrei um verdadeiro atalaia, de Deus, com unção de Paulo e esse atalaia e você!
Louvo a Deus pela sua vida, e bendigo a Deus a sua vida, que Deus possa sempre estar renovando essa unção para que há em ti para a honra e a gloria do Santo nome de Jesus.
Deixo aqui meus sinceros apreços, e estou levando o seu link, sera uma honra em divulgar um blog onde o Espirito de Deus atua com tamnaha maneira visivel.
Graça e paz seja em contigo e com tua famlia.

Jorge Fernandes Isah disse...

Oi Roberto!

Deixei um novo comentário no Cinco Solas, mas acho que a discussão se daria melhor no seu blog, já que você abordou o mesmo tema.
Dê uma lida, e se quiser podemos continuar aqui.
Fica a seu critério.
No mais, desejo-lhe uma boa noite!
Cristo o abençoe!

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricado,
desculpe-me, onde disse oi Roberto! é oi, Ricardo!
Ato falho.

Abraços.

Ricardo Mamedes disse...

Estou trazendo os comentários do Jorge e os meus do "cincosolas" para cá, a fim de que a discussão continue por aqui:


Jorge Fernandes Isah respondeu,
10 de janeiro de 2010 11:08
Ricardo,

é a primeira vez que nos falamos diretamente, mas acho que há um erro em seu pensamento (corrija-me, por favor, se estiver enganado). Você considera o determinismo bíblico antinômino, quando, na verdade, não há antinomia. Antinomia existe quando propomos liberdade=responsabilidade. O problema está na equação: Deus é soberano e o homem livre; jamais nas Escrituras vemos tal proposição, pelo contrário, o que se vê de capa a capa é o Deus soberano determinar, preordenar e realizar tudo segundo a Sua vontade (no que você acredita, graças a Deus).
Quando a equação é soberania de Deus=responsabilidade humana, a antinomia se desfaz. Somos responsáveis porque Deus assim o determinou. Ao ordenar no Éden que Adão e Eva não comessem do fruto da árvore do bem e do mal, Deus estabeleceu uma lei que, se desobedecida, implicaria na morte do infrator: "a alma que pecar, essa morrerá" (Ez 18.4). Não há nenhuma referência à liberdade, como exigência para se ser responsável. Mesmo a vontade não é livre de Deus, pois ela agirá segundo a nossa natureza que é determinada por Deus. Não escolhi nascer pecador, nem ser regenerado, mas nasci pecador em Adão, e fui regenerado em Cristo. Independeu de eu conseguir fugir do pecado, e me aproximar da santidade.
A Bíblia é muito clara em afirma que Deus opera em nós tanto o querer como o efetuar segundo a Sua vontade (Fp 2.13).
Mas alguns dirão: isso se refere apenas à salvação! É mesmo? Será que a enxurrada de exemplos bíblicos em que Deus determina ações e situações alheias à pretensa "liberdade" humana não são suficientes para nos mostrar o Seu completo e pleno controle sobre o universo e suas criaturas?
Se Deus não controlar até os mínimos detalhes no universo, sejam os átomos ou os meus pensamentos, o que assegurará que eles ocorrerão segundo a Sua vontade? Já imaginou um átomo se rebelando à revelia de Deus? Ou uma célula? Ou um dos meus pensamentos? Pode um cabelo ou uma folha cair sem a vontade divina?
Para mim, o mais difícil é entender que eu possua alguma liberdade (seja mínima, insignificante) e Deus ainda seja soberano. E não vejo como meios "livres" (causas secundárias) podem chegar ao fim desejado. Se são livres, ou seja, fora do controle de Deus, podem frustrá-lo. Isso sim é antinomia, pois, até mesmo os meios têm de ser certos e determinados para que o fim desejado seja obtido.
O que considero diferente é a perspectiva: se humana, temos a impressão de que somos livres sem sê-lo; se divina, Ele reina sobre tudo, sejam os meus atos ou pensamentos. E nesse esquema, não há antinomia.

Grande abraço!

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Ricardo Mamedes respondeu,
10 de janeiro de 2010 20:32
Caro Jorge,

Bem, eu concordo em parte com você. E você há de concordar comigo que eu não neguei o determinismo, mas apenas considero que Deus, exatamente pelo seu poder e soberania, não necessita ditar todos os pensamentos e ações, porque já ditou o final através dos seus decretos eternos. Então, a meu ver, a Sua soberania fica absolutamente preservada. Eu diria que nós concordamos em essência e discordamos quanto aos meios.

Sim, nada pode ocorrer sem o controle e governo de Deus, e isto se confirma pelo Salmo 104 (maravilhoso, por sinal). Porventura eu neguei isso? Nem o àtomo, nem a molécula, podem ter o seu desenvolvimento à margem da vontade de Deus, assim como as cachoeiras descem as montanhas tal qual ordenado por Ele; assim como o nosso fôlego é mantido e cessado até o momento em que Ele decidir. Sim, nem mesmo um cabelo cai da nossa cabeça sem que Ele saiba. Concordo com tudo isso.

Só não concordo que Ele, pela Sua grandeza e poder tenha que ter decretado TODOS OS NOSSOS PENSAMENTOS E AÇÕES, tendo antes decretado o final. Eu diria que o seu poder está acima desses detalhes. Ele governa o meio através dos Seus atributos, através da eternidade que é ontem, hoje, amanhã e sempre.

Posso estar errado nessa análise, assim como você também pode. Nos movemos no terreno escorregadio das conjecturas e não venha negar isso. Caminhamos pela tênue linha da incerteza. O mistério reside aí. Exatamente em sabermos como Deus concilia a nossa "aparente" liberdade com a Sua soberania. Eu existo, estou aqui, faço escolhas. Há regras de conduta na Bíblia determinando o que fazer; há busca de santificação. Está escrito que há "diferentes galardões. Como? Deus escolheu alguns para um gozo superior no céu dentre os eleitos (esse apenas um exemplo)?

O apóstolo Paulo, em suas Cartas, faz inúmeras admoestações à Igreja. E foi Ele mesmo quem mais reforçou as doutrinas da graça. Ora, se inclusive os nossos pensamentos e ações estivessem preordenados, qual a necessidade da Lei Moral? Para que orarmos? Repito, não nego as doutrinas da graça, mas imagino que Deus tem sim um segredo oculto nessa "quaestio", que foge ao nosso entendimento, colocado entre a realização da nossa vontade e o determinismo dEle. Ainda assim resguardando a Sua soberania e nos mantendo sob a Égide da Sua vontade.

Não consigo conceber que vivemos em um mundo de faz-de-conta - não que eu queira liberdade ou mérito para a salvação. Todavia, não penso que vivemos em um grande teatro formado por todo o universo, onde todos os atos foram preordenados pelo Criador. Portanto, o que eu tenho dificuldade em aceitar é o argumento sumário de que tudo foi decretado, para finalizar toda a discussão, pois isso equivale ao arminiano dizer que tudo depende do "livre arbítrio".

Assim, concordo que houve a eleição e reprovação antes da fundação do mundo, exclusivamente pela Vontade de Deus, mediante a graça, por intermédio da fé (sem méritos ou escolha humanos), mas os meios como Deus fez isso, ninguém pode afirmar, nem você, nem eu, nem qualquer teólogo. Temos apenas teorias, nenhuma definitiva, por melhor e mais fundamentada que seja.

Agora, caro amigo, eu considero possível que de fato possamos ter cada ação e pensamento determinados, e ainda assim ter a sensação de liberdade. Quem pode dizer que sim ou não? A Bíblia? Se eu não estiver enganado ela apenas diz que Deus elege, predestina, chama, justifica e glorifica (Rm 8:29-30), independentemente das obras (Ef. 2:8-9) e que tanto efetua em nós o "querer como o realizar (Fl 2:13). As Escrituras ainda asseguram que Deus controla e governa o mundo, mas não especifica como o faz, tampouco com que intensidade. Deus não deixou escritos "os meios" que usa para tal.

Certeza não tenho. Refletir, reflito muito. E não encontrei ainda alguém que tenha a resposta definitiva e irrefutável para essa equação. O que eu li até agora não me convenceu completamente.

Em Cristo,

Ricardo

Ricardo Mamedes disse...

Jorge Fernandes Isah respondeu,

10 de janeiro de 2010 23:03
Ricardo,

o que eu quis dizer é que, no determinismo bíblico, não há lugar para antinomia, visto não haver nenhum paradoxo. Tudo é por e para Deus. Não há espaço para liberdade ou vontade humana alheia à vontade divina. Se o irmão tem dificuldades com isso, em aceitar que até mesmo os meios são preordenados por Deus, não é culpa do determinismo, mas de sua visão dele.
Também entendo que a Bíblia não tem mistérios nessa questão da responsabilidade humana, como disse no comentário anterior. Alguns conceitos que o irmão tem são extrabíblicos e especulativos, como essa sua frase: "Só não concordo que Ele, pela Sua grandeza e poder tenha que ter decretado TODOS OS NOSSOS PENSAMENTOS E AÇÕES, tendo antes decretado o final. Eu diria que o seu poder está acima desses detalhes". O fato é que não há na Bíblia nenhuma inferência de que isso possa ser verdade. Do ponto de vista lógico, não vejo possibilidade em finais certos com meios incertos. Ou eles também são certos ou o final pode não dar certo. E isso nos levará inevitalmente à autonomia, à capacidade do homem de frustrar os planos de Deus, quer queira aceitar ou não.
Analisemos o caso da crucificação de Cristo. Há, se não me engano, mais de sessenta profecias cumpridas somente na crucificação. Elas foram profetizadas 500, 1.000 anos antes, e, em seus mínimos detalhes tudo se cumpriu conforme a vontade divina. No caso do vinagre dado ao Senhor, na sorte jogada em sua túnica e na ferida do seu lado, por exemplo, houve controle não somente dos fins, mas dos meios, ou seja, os homens tiveram suas mentes condicionadas e controladas para se obter os fins, exatamente como os profetas predisseram séculos atrás.
Então, faço a seguinte pergunta: onde está a liberdade humana? Somos livres apenas para cumprir a vontade de Deus?
Enquanto acreditarmos que há realmente paradoxos nas Escrituras, estaremos limitados em compreender a nossa fé, porque a revelação especial não vive de mistérios e paradoxos, mas da esperança certeira e infalível.
No fundo, a posição do irmão é a de muitos calvinistas que acreditam na soberania de Deus mas têm dificuldade de aceitá-la completamente porque estão apegados a um humanismo inconsciente, seja para defender Deus da criação do mal, seja para não perder a suposta liberdade humana. Com isso, não estou dizendo que o irmão e os demais que pensam igualmente são desonestos. Não é isso. Apenas têm dificuldade em aceitar aquilo que a Bíblia diz claramente, sem rodeios. Mas todos temos alguma dificuldade em uma coisa ou outra; porém, o certo é que, naquele dia, nada será perguntando, pois saberemos claramente toda a verdade. É uma promessa maravilhosa, assim como a de que seremos semelhantes ao nosso Senhor. No fundo, é isso o que importa; e importa saber que não haverá um milímetro de liberdade ou mérito humano nisso, mas tudo ocorrerá pelo soberano e infinito poder do Senhor; pois, de outra maneira seria possível termos certeza?

Grande abraço ao irmão!

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Ricardo Mamedes respondeu,

11 de janeiro de 2010 09:49

Jorge,

Aceito o seu convite de levarmos a discussão para o meu blog, já que lá o assunto é o mesmo. Porém, quero fazer uma última consideração em relação ao seu último comentário (e não é refutação, pois não estamos em lados opostos). Eu não tenho qualquer problema em aceitar a soberania de Deus, mas concordo que tenho que me aprofundar mais com relação à existência do mal. Que Deus cria tanto o bem quanto o mal eu sei, pois as Escrituras afirmam. Porém, você há de convir que esse é um assunto espinhoso até mesmo no meio calvinista.

Chegamos em um ponto importante, a crucificação. Eu também já pensei muito sobre esse evento, o mais importante de todos. Tudo foi de fato previsto, determinado, preordenado. Concordo. Mas exatamente aqui emerge a dúvida: onde está escrito que os pensamentos dos envolvidos foram determinados, como também todas as suas ações? Você diz que não é possível chegar a um determinado fim sem determinar os meios. Por que não? Deus não é soberano? Ele não tem os seus atributos, inclusive a onisciência? Ora, Ele viu de antemão que tudo estava certo, e mesmo assim não necessitou determinar "pensamentos e ações". Eis aí o ponto. Ele determinou a natureza dos homens, o seu caráter, viu tudo de antemão, o enredo estava correto, o script certo, os atos se valeram para alcançar o fim determinado. E ainda assim Ele não precisou determinar pensamentos e ações!

Ora, é claro que Ele interfere (iu) no enredo, mas não nos detalhes. Quando Deus decreta o caráter de um réprobo, certamente este será inclinado para o mal, para não buscar a salvação. Há um impedimento definitivo. Mas Deus não precisa decretar que ele seja um assassino, um monstro, um matador de criancinhas. Deus não decreta que alguém seja um pedófilo, sádico. Não!

A natureza determina a quantidade de maldade de cada um. E a natureza determinada por Deus determina a quantidade de bondade do outro, indicando, aí sim, o grau de merecimento de cada um para a eternidade (entenda-se, não merecimento para a salvação), tanto para o bem quanto para o mal ( pois você sabe que há gradação).

Deus não determina que alguém seja um assassino em série. Deus não determina que alguém seja homossexual, pois fez "homem e mulher", como está registrado nas Escrituras (assunto espinhoso). Jorge, a coisa é muito mais complicada, portanto, o que eu não aceito são respostas simples ou simplistas. Há paradoxo sim! Quando você diz que não há, jogando tudo para o determinismo você está sendo simplista, me desculpe! Equivale, repito, ao arminiano dizer que tudo é livre arbítrio.

Veja bem, o Roberto diz ( e você concorda) que o homem não tem qualquer liberdade, mas tem a vontade preservada, sem constrangimento ou compulsão. Como isso se dá humanamente falando? Filosoficamente? Ora, a partir do momento que alguém não tem qualquer grau de liberdade, tem a sua vontade determinada pelo seu caráter e ainda tem todos os seus pensamentos e ações determinados, cuja vontade não tem possibilidade de se consumar ante escolhas, como você pode afirmar que a "vontade está preservada"? Isso é apenas jogo de palavras, brincadeira semântica.

Te espero lá no blog. Vou copiar os nossos comentários e levar pra lá.

Um grande abraço meu irmão!

Ricardo

Filósofo Calvinista disse...

Bom texto, bom debate. Parabéns. Conviduo e a todos os seus leitores para lerem um artigo que publiquei sobre esse tema "Soberania de Deus e Liberdade humana na peerspectiva calvinista. In:
www.filosofiacalvinista.blogspot.com

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

em relação ao mal, que de certa forma está dentro do nosso debate, pergunto-lhe: como você vê o caso de Saul, ao qual Deus lhe deu um espírito mal, que o afligia? Como o irmão responderia à esta questão, já que não crê que Deus opera em nós a maldade? E se não é Deus, quem é?
Paralelamente, o irmão pode utilizar a minha pergunta para responder a mesma questão quanto ao Faraó em Êxodos. Deus endureceu ou não o coração do monarca?
Apenas para um começo em nossos posicionamentos.

Grande abraço.

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

De maneira nenhuma eu nego que Deus é o autor do mal. Se eu o fizesse negaria a inerrância das Escrituras. Ora, os "vasos de ira foram criados por Deus, que os suporta com muita longanimidade...

Com Saul eu vou mais longe ainda. A instituição do Reinado de Israel foi o resultado da desobediência do povo, uma vez que a ordem de Deus era que permanecesse a forma de governo por Ele instituída: Juízes (uma forma de teocracia). A meu ver, por isso mesmo Deus lhes deu um rei como Saul, fadado à desobediência. É claro que Deus endureceu o coração de Faraó. Eu não nego a origem do mal, vinculando a Deus.

Eu apenas tento entender a não necessidade de um determinismo total e detalhado, incluindo os pensamentos e ações dos homens por toda a sua existência. Para mim, se isso ocorresse, poderia, sim, em tese, retratar um deus de certa forma fraco. Eu penso que Deus (Jaweh) decreta o evento/fim, não tendo a necessidade - em razão do seu imenso poder - de decretar todos os eventos/meio. Repito, a natureza e o caráter de cada um é que vão determinar os eventos/meio (quantidade de maldade e bondade), sob o governo e controle (plenos) de Deus.

Em suma, eu não nego o essencial, somente reflito sob a instrumentalidade, compreende?

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Diga-me uma coisa: se tudo foi decretado, inclusive pensamentos e ações humanos (eu acredito que os eventos/fim foram decretados), desde antes da fundação do mundo, Deus agora está estático, não intervém em nada mais com o homem e toda a Sua criação?

Ricardo

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

A Bíblia diz que Deus sustenta tudo pelo poder da Sua palavra. Portanto Ele está a sustentar o universo e suas criaturas, sem o que nada existiria, e se Ele "desistisse" tudo estaria acabado. Entendo que, ao mesmo tempo em que Deus criou tudo, tudo é mantido continuamente por Ele. Há aquela discussão de Deus no tempo, fora do tempo. Mas, de qualquer forma, o tempo tem de ser sustentado, já que não é autocriado. Ou seja, Deus preordenou e determinou todas as coisas até o fim desejado, mas enquanto elas acontecem, Ele está a sustentá-las pelo Seu poder. E sustentar aqui quer dizer pôr o Seu plano em ação.
Contudo, o nosso foco é: os meios são ordenados ou não por Deus? Se Ele ordena o princípio e o fim, o que o leva a entender que os meios não são determinados? De que forma a minha natureza pode garantir que o objetivo seja o mesmo pretendido por Deus? Há vários tipos de pecadores entre todos nós pecadores, uns matam, outros furtam, outros mentem, outros adulteram, outros embebedam-se, outros praticam abortos, outros são pederastas, etc. De qualquer forma, o pecado está em todos nós, mas o que determina se, por exemplo, não sou estuprador ou ladrão, mas sou adúltero e mentiroso? Por que não sou estelionatário ou assaltante de bancos? Dizer que a minha natureza é que determina leva-me a crer que o que não sou é ela que não determina, logo, não seria ela que poderia frustrar os planos de Deus? No sentido de que, se Ele preordenou que eu fosse um engenheiro mentiroso, a minha natureza me levou a ser um personaltrainner traficante? E isso pode influenciar todo o fim...
Bem, não sou muito bom em filosófia, e muitas das minhas analogias se perdem, mas do ponto de vista bíblico, não vejo como Deus poderia controlar os fins sem controlar os meios. Se sou livre para "escolher" os meios, ainda que segundo a minha natureza pecaminosa, como Deus poderá assegurar que aquilo que Ele preordenou ocorrerá?
Acabamos por cair no mesmo "beco-sem-saída" dos arminianos que creem que Deus predestinou tudo através de uma cópia roubada do filme que ainda não passou. Isso é vidência, é adivinhação, não é ordem nem controle. E fica a pergunta: quem produziu o filme? Ou se cai no dualismo, seja através do acaso, sorte, azar, o diabo, o próprio autonomismo humano, ou Deus é quem opera tudo.
Como disse ou Deus faz tudo do início ao fim, ou então Ele não tem controle total sobre nada, e as coisas acontecem à Sua revelia; umas dando certo, outras não.
Mas sabemos que as coisas não são assim, e de que tudo aquilo que Deus planejou e preordenou acontecerá infalivelmente.
Continua...

Jorge Fernandes Isah disse...

[...]
Para mim, Ricardo, você está lutando uma luta que não pode ganhar. Você aceita biblicamente a soberania de Deus, a predestinação, a eleição, a rejeição, o determinismo (ainda que parcial), a providência, a graça, e falta-lhe o quê? É como o naúfrago no mar: chega o resgate, colocam-lhe a bóia em volta da cintura, a corda o iça, você está dentro do navio, agasalhado, tomando uma boa xícara de chocolate quente, mas quer acreditar que está no mar em meio a tubarões. Tudo o leva a crer no determinismo total, mas por algum fator que não consigo entender (ainda que você se esforce em explicar), você não aceita.
Acho que, de certa forma, o Roberto está certo: é momento de você relaxar, esquecer um pouco este assunto, ler sobre outro tema, e meditar sobre este sem pressa. Foi mais ou menos isso que eu fiz quando fui confrontado em meu compatibilismo pelo Cheung. Chegou um momento em que eu estava quase ficando louco (rsrs), porque há certas coisas que apenas o Espírito pode nos revelar. Então, orei, orei, meditei, orei, e esperei no Senhor. Valeu a pena! Fui vencido.
Com isso não quero dizer que não estou disposto a conversar consigo, mas de que acho pouco provável, neste momento, você entender algo que é realmente difícil para qualquer um (foi uma luta de meses para mim), e da qual muitos desistiram.
As vezes as coisas mais simples são as mais difíceis de se entender, e para justificar nossa posição, construímos um monstrengo gigantesco que, quando faz o primeiro movimento, desaba e se desfaz completamente.
Grande abraço!
Cristo o abençoe!

Pr. Silas Figueira disse...

Graça e paz Ricardo.
Esse debate deixa muita gente de "cabeça quente" (rs), mas ele é salutar, pois diante dos debates nós podemos apender com quem tem a nos ensinar. Eu, por exemplo, estou sempre aprendendo algo novo através dos comentários, mais do que na postagem propriamente dita. Com relação a sua postagem eu creio que o homem é livre nas suas escolhas e terá que responder por ela prante Deus. Mas, nunca a vontade de Deus deixará de se realizar em nós por causa da nossa vontade, principalmente se a nossa vontade for contrária a Sua. Vou tentar deixar mais claro o meu pensamento. Eu sou pai, tenho dois filhos, meus filhos tem vontades e eu as respeito e até permito que elas sejam realizadas, desde que elas não firam os padrões que nós estabelecemos para eles. Assim é Deus conosco. Somos eleitos, mas livres como disse Gesler.
Fique na Paz!
Pr. Silas

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

A minha posição é praticamente idêntica à do Pr. Silas. Eu fiz a analogia do barquinho à deriva para o Roberto. Qualquer dia eu te mostro.

É isso aí, eu penso que Deus realmente ESTÁ no controle de tudo. Ele não ESTEVE apenas quando promulgou os decretos. Ele decretou todos os eventos/fim e agora controla o universo, como disse o Pastor Silas. Ele controla, é soberano, por isso não precisa decretar TODOS OS PENSAMENTOS E AÇÕES das suas criaturas, pois, da eternidade, Ele controla, sustenta e mantém TODA a sua criação, colocando-a no caminho outrora preordenado.

É só uma questão de tempo e eternidade a nossa "querela" (rsss).

Mas uma coisa vou te confessar: gosto muito da maneira como você expõe o seu pensamento.

Ah, eu já quase enlouqueci há alguns meses, agora estou tranquilo, somente fazendo o que mais gosto: pensar e indagar.

Grande abraço.

Em Cristo.

Ricardo

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

mais que tudo, alegra-me a sua última afirmação, porque pensar, realmente, tem sido algo difícil entre os cristãos, e do qual muitos de nós têm fugido.
Graças a Deus pelo irmão estar a pensar e indagar (sem nenhum tipo ou tom de ironia no que digo). Especialmente se sua reflexão for bíbica.
Ao seu tempo, Cristo o convencerá ou não, segundo a Sua vontade.
Grande abraço ao irmão!
Cristo o abençoe!
PS - um detalhe: Geisler é arminiano, mesmo que ele não se assuma como tal.

Roberto Vargas Jr. disse...

Ricardo,
Pelo visto demorei demais para me chegar até aqui! rsrsrs
Seguinte, não posso mesmo acrescentar nada. Não lembro se no RVJ ou CS, eu disse que tentaria explicar a complicação referente à imutabilidade e onisciência. Isto tem a ver com esta ação mediata que você construiu e é complicadíssima. Mas é difícil pacas de explicar e acho que vou te confundir mais que te esclarecer. Assim, ficamos por aqui, por enquanto, meu irmão. Se a coisa me vier de um jeito que eu pense poder te ajudar, volto à carga, ok?
De todo modo, Ele é o Senhor Soberano a nos maravilhar por Ser o Deus que É! Seja Ele para sempre louvado! SDG!
Roberto

Ricardo Mamedes disse...

Caros amigos que com tanta paciência se submeteram a este debate. Encontrei a resposta que desejava , através do blog "o tempora, o mores", pelo Reverendo Mauro Meister. Embora falando o mesmo que o Roberto e o Jorge, a linguagem do Mauro conseguiu me alcançar melhor. Vamos ao comentário, que ora transcrevo abaixo:


Mauro Meister disse...

Caro Ricardo,

Deve ter acontecido algum problema técnico, seja com o blogger ou com meus dedos... ontem mesmo liberei a publicação, mas o comentário não apareceu por aqui.

Verificando o seu blog, entretanto, e observei que vc postou um texto de Thomas Paul Simmons exatamente sobre o assunto da sua questão aqui: sobre a extensão do decreto divino. Li o texto no seu blog, a discussão com os colegas e as suas conclusões.

Sobre isto, Solano já publicou em nosso blog: http://tempora-mores.blogspot.com/2009/07/o-que-os-reformados-entendem-por-livre.html, acompanhando nossa subscrição confessional e a posição da Confissão de Fé de Westminster. Perdoe-me responder com os textos prontos, mas são a expressão do que creio.

CFW
CAPÍTULO III
DOS ETERNOS DECRETOS DE DEUS


I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.

II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.

CAPÍTULO V
DA PROVIDÊNCIA


I. Pela sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor.


II. Posto que, em relação à presciência e ao decreto de Deus, que é a causa primária, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente, contudo, pela mesma providência, Deus ordena que elas sucedam conforme a natureza das causas secundárias, necessárias, livre ou contingentemente.

III. Na sua providência ordinária Deus emprega meios; todavia, ele é livre para operar sem eles, sobre eles ou contra eles, segundo o seu arbítrio.

IV. A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, de tal maneira se manifestam na sua providência, que esta se estende até a primeira queda e a todos os outros pecados dos anjos e dos homens, e isto não por uma mera permissão, mas por uma permissão tal que, para os seus próprios e santos desígnios, sábia e poderosamente os limita, e regula e governa em uma múltipla dispensarão mas essa permissão é tal, que a pecaminosidade dessas transgressões procede tão somente da criatura e não de Deus, que, sendo santíssimo e justíssimo, não pode ser o autor do pecado nem pode aprová-lo.

12/1/10 09:41

Roberto Vargas Jr. disse...

rsrsrsrs
Sério isso, Ricardo?! rs. Acho a linguagem da CFW um tanto empolada e, especialmente quanto a este ponto, um tanto confusa!
Mas, na verdade, minha ignorância é o que me faz confuso. Eu não sei exatamente o que "nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas" quer dizer. O Jorge acha que o texto é compatibilista. Eu não estou certo. Certamente me debruçarei sobre isso em tempo oportuno.
De todo modo, se isso vai lhe aclarando o assunto, ótimo!
Abraço, no Senhor,
Roberto

Ricardo Mamedes disse...

Roberto,

rsrsrs

Talvez a resposta me satisfez porque é exatamente como penso, mas não consigo explicar a vocês sem parecer compatibilista. Dentro de mim eu sei que não sou, mas para os outros sei que pareço que sou (rindo mais).

É o seguinte: Deus de fato determina tudo. Mas não nos é tirada a liberdade sobre as causas secundárias porque elas não mudarão o evento/fim. E mesmo que não fosse determinado, provavelmente faríamos do jeito que foi determinado (as causas secundárias). Mas mesmo que fizéssemos diferente, seria essencialmente semelhante.

Ou seja, Deus continua sendo soberano e justíssimo, mesmo determinando. De alguma forma desconhecida Deus consegue as duas coisas aparentemente contraditórias, através de uma instrumentalidade por nós impossível de alcançar.

É difícil explicar, mas eu te asseguro que compreendo.

Abraços,

Em Cristo,

Ricardo

Heitor Alves disse...

Olá Ricardo.

Escrevi um artigo sobre a relação entre a Soberania de Deus e a vontade do homem. Você pode ver no link abaixo.

A Soberania de Deus Sobre a Vontade do Homem

Poderia escrever aqui, mas seria muito grande. Por isso resolvi publicá-lo no site. Leia lá e poderemos manter o debate aqui mesmo, ok?

Leia e depois me diga o que ahca.

Um abraço!

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