Poeticamente Rute
Uma breve história bíblica não somente me toca como me emociona profundamente pela sua beleza poética: Noemi e Rute, especialmente o trecho narrado em Rute 1:16-17 , verbis: "Não me instes para que te deixe e me obrigue a não seguir-te, porque, aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti".
A meu ver, é inenarrável a beleza que transborda desse pequeno texto! Quanta lealdade, e ao mesmo tempo, quanta doçura. É possível sentir a imensa força erigida dessas palavras.
Tantas vezes li esse texto e em todas elas visualizei a cena nos seus detalhes: a sogra, velha e alquebrada, sem qualquer perspectiva na vida, a não ser sobreviver em uma época de grande escassez pela bondade e misericórdia alheias. A nora, provavelmente ainda bem jovem, em igual situação de desvalia, mas com alguma perspectiva, desde que retornasse à sua terra e à sua parentela.
No entanto, Rute não titubeia, não transige, se mantém irrevogável na sua decisão de seguir a sogra onde ela for, mesmo que seja para viver e morrer em terra estranha. Belo. Para mim esse texto é superlativo.
A lealdade de alguém para com outrem sem vínculo de consanguineidade; o amor que nada exige em troca, sacrificial, amor ágape. Sublime.
O mesmo amor que não teve Pedro para com o Seu mestre ao negá-lo três vezes.
Há em mim a certeza de que o Criador estendeu a sua graça para Rute, resgatando-a dos seus ídolos, das suas tradições pagãs e trazendo-a para o Seu seio; inculcando-lhe ainda grande bondade. Por si mesma, em razão das suas próprias escolhas e arbítrio, não poderia ela ter se disposto a tamanho sacrifício. Assim creio.
As nuances do texto, os dilemas íntimos que imaginamos ali, os sentimentos intrínsecos, as inseguranças, o medo, tudo a indicar e a fazer inferir o abandono por parte da jovem. É isso que vemos hoje. E é isso que sempre houve. As pessoas tendem a se proteger nas tribulações, nos momentos de aflição, se encapsulando, buscando o seu próprio escape.
Todavia, Rute se manteve firme e inarredável, peremptória na sua decisão de morrer, se necessário fosse, na companhia de Noemi. Pungente.
Quantas Rutes ainda há? Quantos de nós nos sacrificaríamos por alguém , ainda que não fosse a nossa sogra (não resisti)?
Concluo com o Apóstolo Paulo: "Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei" (1 Coríntios 13:2).
Em Cristo.
5 comentários:
Linda reflexão. Parabéns.Deus o abençoe!
Olá Ricardo, obg pela visita ao meu blog sobre o Congregacionalismo. Na verdade o blog que vc visitou é mais restrito a assuntos concernentes a minha tradição protestante, meu blog mais geral e onde posto sobre tudo é:
http://gracaplena.blogspot.com
Dê uma olhada, já são quase 45.000 visitas.
Deus lhe abençoe sempre.
Joelson
Ricardo meu amigo, o exemplo de Rute faz com que repensemos nossas atitudes de lealdade para com nossos semelhantes mesmo sem laços de consangüinidade como vc tão bem frisou. Penso que precisamos como Igreja de Cristo, aprender verdadeiramente estas lições. Para que sejamos exemplo a este mundo que gratifica os espertos e em nosso caso nacional, o famoso "jeitinho" brasileiro. Seu blog é muito bom, fica na paz!
O amor de Rute, a moabita, pra mim é um dos mais sinceros na história bíblica! Sem contar que esse amor não nasceu em solo israelita...veio de uma terra gentia...Deus faz brotar amor verdadeiro em todo o coração dobrável à Sua Vontade...o que vejo de fato caro Ricardo, é que o amor Agape, o incondicional amor se tornou para alguns cristãos algo que só vai se concretizar no céu...perdendo assim oportunidade de demonstrá-lo aqui na terra!
Ficando então só o amor-poético...
Que o Senhor te abençoe ricamente
Mário Celso
Não só o amor de Rute é impressionante, como imagino que tenha sido poderoso o testemunho de Noemi. Que mulher fantástica não devia ter sido ela, para que suas duas noras chorassem ao se despedir dela, e uma a tenha seguido para um outro país!
Que Deus nos torne mais parecidos com Rute e Noemi.
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