segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pequena reflexão sobre moral - por C. S. Lewis






C. S. Lewis



Conta-se a história de um garoto a quem perguntaram como achava que Deus era. O garoto respondeu que, como era capaz de compreender, Deus era " o tipo de pessoa que está sempre xeretando a vida dos outros para ver se alguém está se divertindo e acabar logo com isso". Infelizmente, parece-me que é essa a ideia que um número considerável de pessoas faz da palavra "Moral": algo que se intromete em nossas vidas e nos impede de ter momentos agradáveis. Na realidade, as regras morais são como que instruções de uso da máquina chamada homem. Toda regra moral existe para prevenir o colapso, a sobrecarga ou uma falha de funcionamento da máquina. É por isso que essas regras, no começo, parecem estar em constante conflito com nossas inclinações naturais. Quando estamos aprendendo a usar qualquer mecanismo, o instrutor vive dizendo "Não, não faça isso", porque existem diversas coisas que, embora pareçam muito naturais e até acertadas na forma de lidar com a máquina, na verdade não funcionam.


(Texto retirado da obra de C. S Lewis, "Cristianismo puro e simples", Martins Fontes, São Paulo, 2005, p. 91/92)


Comentário: A pergunta que teima em aflorar é: "qual a diferença entre a moral intrínseca do homem e a moral cristã, cujas regras são determinadas pela "Lei moral"? Há convergência entre ambas? Esses dois vetores podem conviver harmoniosamente?


3 comentários:

Hélio Pariz disse...

Obrigado pela retribuição da visita, irmão Ricardo! vejo que além de irmãos em Cristo, batistas, também somos nobres colegas!
Dê-me a honra de sua visita também no meu outro blog, onde sou, digamos, mais contundente... rsrs... e falo até sobre, imagine, Cuiabá (é só clicar na tag da barra lateral):

http://ocontornodasombra.blogspot.com/

Já divulguei o seu texto e o seu blog a outros irmãos batistas preocupados com os rumos da denominação.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós!

Graça e paz,

Hélio

Danilo Neves disse...

Em relação as suas perguntas, irmão, tanto o cristão quanto o não cristão possuem o senso de moral. É bem verdade que os ateus estritamente materialistas negam rapidamente essa idéia. Segundo eles, por exemplo, roubar e não roubar/matar e não matar, são princípios contruídos pela sociedade em uma cultura de acordo com o tempo. Portanto, não é intrínseco, mas histórico-cultural toda a prática de uma ética. Bem, a validade de tal argumento é posta em dúvida quando observamos que em diversos períodos e sociedades da história da humanidade,o homem possuiu princípios comuns em seus documentos religiosos, éticos e morais. Lewis em sua obra "A abolição do homem" fez uma objeção consistente mostrando que é falacioso o argumento contra a existência de uma moral universal. Os conceitos de certo ou errado, de verdadeiro ou falso, não são convenções arbitrárias. Qualquer argumento que tenta provar a luz das filosofias naturalistas e materialistas que a moral não é instrínseca e universal, precisa antes dizer como pulamos de átomos e moléculas para os conceitos de certo ou errado ou como o elétron começou a dizer o que temos que fazer ou o que não fazer.

Partindo do pressuposto de que então existe a moral intrínseca no homem, uma lei moral no coração de cristãos e não cristãos, a próxima pergunta que nos deparamos é: quem é o Legislador dessa lei? A resposta cristã teísta a ela é que o Legislador é Yahweh, o Deus que criou o homem a Sua imagem e semelhança. O homem não é moral por uma razão de convivência e ordem entre os seus semelhantes que o capacita a sobreviver em bando, mas por ele ser criado conforme um Ser moral. Se formos suficientemente claros e honestos ao abordarmos essa questão, também diríamos: "Porque então parece que mais lutamos com os nossos princípios morais do que os aceitamos? Porque as nossas regras parecem estar em conflitos com as nossas inclinações naturais?" Se o Legislador é Deus, perfeito e santo, não há duvidas de que há algo de confuso entre as suas leis e a nossa vontade. Porque o bem que eu quero esse eu não faço e o mal que eu não quero esse eu faço? A idéia de pecado aqui faz o todo ter sentido assim como a idéia de um super vírus explica o problema no sistema de um computador.

Qual a diferença então entre a moral intrínseca do homem e a moral cristã? Se bem entendi a pergunta, a diferença não é estabelecida na criação, pois tanto o cristão quanto o não cristão nascem com essa moral. Partindo desse ponto de vista, a diferença é basicamente no conhecimento e do viver essa lei, crendo no Seu Legislador através do Mediador: Cristo Jesus.

Ricardo Mamedes disse...

Perfeito Danilo.

Mas parece que essa moral intrínseca, essa moral universal, por assim dizer, mais afasta o homem de Deus do que aproxima. E a minha teoria é que isso ocorre exatamente pela queda, pela ingerência do pecado na humanidade, corrompendo-o completamente. Logo, essa moral intrínseca não é suficiente para fazer o homem caído safar-se do "lodaçal". É preciso do toque do "legislador" a que você se referiu - a graça.

Eu penso que essas regras não alcançam a todos indistintamente na sua essência, a menos que raciocinemos sobre uma regra moral coletiva, como a graça comum, coforme estabelecido pelo pensamento reformado. Contudo, se pudermos teorizar sobre a graça salvífica como nascedouro de uma conduta diferenciada no homem, que possa ser definida como "regra moral", baseada nos princípios ético-morais-cristãos, aí teremos uma diferença gritante entre essa "moral cristã" e aquela outra, intrínseca do homem.

Não sei, porém, se me fiz entender, ou se é apenas devaneio.

Obrigado pelo comentário Danilo. É sempre um prazer recebê-lo aqui.

Em Cristo.

Ricardo

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