José Saramago: "post mortem"
Há algum tempo, mais especificamente no dia 22 de outubro de 2009, escrevi um post neste mesmo blog comentando sobre o lançamento da sua última obra,"Caim", em que mais uma vez o escritor faz apologia ao ateismo colocando em dúvida não somente a existência de Deus, como também, elevando Caim, o irmão homicida, à condição de herói. Seja nessa obra, ou na sua mais famosa, "O evangelho segundo Jesus Cristo", Saramago sempre usou de uma ironia ferina , um sarcasmo ácido contra a fé cristã.
Lembro-me que no post acima citado, terminei com uma frase: "uma coisa é certa, o "acerto" de José Saramago com Deus ainda não é definitivo".
Embora sabendo que se tratava de um homem incrédulo, um ímpio que levou a vida a imprecar contra Deus, ainda assim sinto uma tremenda pena do grande escritor. Qual não terá sido a surpresa ao descobrir que a sua luta era completamente sem sentido. E, em um momento de solidão, medo e desespero, todas as certezas nutridas nesta vida se tornam em nada, e eis que surge Deus em toda a sua glória para julgar o homem.
Tudo isso prova a grande longanimidade de Deus com os vasos de ira. A vida humana, já disse o salmista, é apenas um sopro. E Deus tira o sopro de vida quando lhe convém.
José Saramago travava uma luta contra a morte, demonstrando medo, incerteza do que viria após a cessação da vida, mesmo afirmando a não-existência de Deus. O mesmo terror, o mesmo desespero que sempre acometeu os existencialistas com a sua eterna incerteza a respeito do Criador.
No entanto, aquele que crê verdadeiramente em Cristo tem a vida eterna, o que não crê, porém, "já está condenado".
Ao fim deste curto texto quero finalizar com uma frase, diferente daquela com a qual finalizei o outro post: "uma coisa é certa, o acerto de José Saramago com Deus agora é definitivo".
Bendito seja o nome do SENHOR em toda a sua glória.
12 comentários:
Meu amigo,
Sábias palavras... mas antes de alguém te (ou nos) acusar de cruel (afinal um homem morreu) ou de estar tripudiando de um morto, quero lembrar (a esses acusadores) de um pedaço da obra de outro autor... "(...) por quem os sinos dobram (?!), eles dobram por ti”. (John Donne)
Esli Soares
Um comentário sério, respeitoso e que convide à reflexão? Que tal este: o que você pensaria se, ao morrer um escritor e ativista cristão, eu dissesse: "pena que só agora ele descobriu que tudo em que acreditava era só uma ilusão"?
Ricardo,
a morte de Saramago provocou uma avalanche de posts entre os cristãos. Como se tivéssemos nos vingado dele, finalmente [não é o seu caso; por sinal, texto equilibrado, não-ofensivo, reflexivo].
Considero-o um grande escritor? Não. Nunca li uma só linha dele, e nem pretendo. Há muito mais leitura necessária e interessante para eu fazer. Tenho respeito por ele? Também não, pois respeitamos a quem conhecemos, e como não o conhecia [nem através da sua obra], é impossível que eu o respeite. O que não quer dizer que o desrespeite, apenas é-me indiferente, como muitos outros são.
De certa forma, entendo o "furor" de alguns cristãos com o falecimento do Nobel português, no que considero um exagero, quando não, algumas de suas "reflexões" beiram ao mau-gosto. Dá-se atenção para quem não representa absolutamente nada entre os cristãos. E sei que serei acusado de obtuso; pouco me importa.
É muita poeira para pouco vento!
Quanto ao Wolfgang, sua frase em nada refuta ou mesmo pode ser equiparada ao do Ricardo. Primeiro, porque, se o ateu estiver certo, cristão nenhum terá consciência de que sua vida foi em vão. Morrerá, e pronto! Porém, se estivermos certos [e estamos], o ateu, ao se deparar com o Senhor, verá que toda a sua vida foi vã, e terá plena consciência disso. Há uma grande diferença... Mas se o Wolfgang não conseguiu percebê-la, paciência...
Ricardo, importante reflexão sobre a morte, quando muitos, mortos, a se considerarem vivos, precisam ressurgir de suas tumbas.
Grande abraço, meu amigo!
Cristo o abençoe!
Ricardo,
Houve um tempo em que eu gostava de ler Saramago, tenho algumas obras dele, gosto do estilo literário dele sem nunca ter feito qualquer oba-oba nem em cima de obra dele nem de qualquer que seja o autor.
Atualmente em outra fase da minha vida, não li "Caim" nem me interessei, embora "O Evangelho", a primeira que li há dezesseis anos, o fiz como uma ficção, simplesmente, sem qualquer estardalhaço. Até estranhei uma amiga dizer antes que pra ler "aquilo" eu teria que ter muita convicção do que ia fazer, acho que por não conseguir captar a acidez da obra como algo pessoal, algo que atingisse minhas convicções mais básicas.
Quanto às angústias e aos questionamentos pessoais dele, ganharam força, claro, pela sua própria condição. Se fosse um escritor quase anônimo não ganharia essa dimensão que na verdade é o povo quem dá.É assim que eu vejo.
Ora, suas angústias expostas de forma literária são suas (eram rss) e é coisa dele lá com Deus. Eu acho que ele foi quem perdeu a oportunidade de levar uma vida mais leve, preferindo ser turrão, mal humorado, teimoso, carregando nas costas essa fardo que certamente angustiava os mais recônditos pensamentos. Essa tal angústia bem característica do existencialista que você ilustra tão bem.
Abs,
R.
Grande Esli!
Não estou tripudiando mesmo, pois é apenas uma constatação: Saramago era um ateu empedernido. E cada um que alimente as suas próprias convicções. E essa constatação, como eu afirmei no texto, não me traz contentamento, mas tristeza.
Abração!
Ricardo.
Wolfgang,
O nome remete ao grande Amadeus Mozart. Mas, começando pela sua pergunta final: para mim seria indiferente você, ou quem quer que seja, dizer que a crença em Deus é uma grande ilusão. Nada iria acrescentar ou diminuir, pois eu continuaria cristão. Não haveria revolta, ressentimento, nada. Eu consideraria palavras ditas por mais um tolo ateu. Apenas isso.
Quanto aos ateus, ajam assim também: considerem que são apenas palavras ditas por "mais um tolo cristão". E ainda assim, a glória de Deus continuará intocada, uma vez que não há no universo quem possa resistir a Ele.
Ricardo.
Caro Jorge,
Obrigado mais uma vez pela fidelidade com que me brinda com a sua presença constante a este blog, sempre com comentários propositivos e substanciais.
Eu achei por bem escrever sobre a morte do Saramago porque, quando do lançamento da sua última obra eu havia feito aquele outro post, ora citado no texto em referência. Tentei mesmo não ofender a memória do grande escritor. Dizer que ele era ateu não é mesmo qualquer ofensa. Reforçar a minha convicção cristã naturalmente choca com o ateismo. Porém, como eu disse, a minha convicção certamente não terá o condão de ofender os ateus que se alinham ao Saramago, como eu afirmei logo acima para o Wolfgang.
Embora sendo um autor ateu eu li e tenho algumas obras do escritor. Não significa que compartilhe com ele a sua descrença. Assim como não me levou a combatê-lo como literato, tampouco à sua literatura. São coisas que me são indiferentes, não me agridem.
Concordo com você, realmente a descrença e ateismo do José Saramago em nada acrescentou ou prejudicou o cristianismo em geral. Portanto, o texto serve apenas como registro.
Abração!
Ricardo.
Regina,
Certamente que as preocupações "recônditas" do escritor sempre reverberaram na imprensa em geral pela sua condição de celebridade das letras. Não fosse isso, seria apenas mais um ateu. Mais um tolo. Um desesperado a mais buscando um sentido qualquer para a vida.
Sabe, exatamente por causa do seu furor público contra o cristianismo a morte do escritor está merecendo este curto registro no meu blog. Logo, penso que as minhas palavras podem se justificar em razão disso, mas sem acrescentar ou diminuir a importância da sua obra, da sua vida, ou das suas angústias tornadas públicas.
Quanto ao "acerto", de fato, é coisa dele com o Criador. Quem sabe seja apenas uma lembrança de que "todo joelho se dobrará a Ele".
Abs.
Ricardo.
Ricardo,
Imagino que o "músico" que aqui comentou não leu ou não entendeu o meu adendo ao seu excelente texto.
Ao escrever esse post, pelo que já conversamos, tenho certeza que para vc a morte do Saramago é a oportunidade de (fazer) refletir sobre a fragilidade da vida e da nossa certeza do inexorável julgamento divino para ele (ou para qualquer outro que não está em Cristo).
Isso não deveria provocar reações nos que se declaram ateus, (afinal para esses não existe isso mesmo)... então por que não conseguem ser tolerantes, como vivem pedindo para nós os cristãos sermos? Medo ?! "jus esperneandi"?! Como são incríveis.
Concordo com o Jorge, lamento apenas que mais um humano faleceu... seu destino final?! Agradeço a Deus por ser bom e justo -- confio no julgamento dEle, bem diferente de Saramago (leiam 'Cain').
Na Paz, abraços
Esli Soares
Caro
Retribuo aqui a sua visita no meu blog.
Eu nunca li este senhor... nem pretendo ler.
Pelas resenhas que tenho lido sobre ele já não sinto vontade nenhuma de lê-lo e o tempo urge.
Se ele disse estas palavras "Deus é vingativo e má pessoa..." ele cometeu o mesmo erro que pessoas caídas costumam cometer.
Confundiu "vingativo" com "vingador".
A meu ver Deus não é vingativo, mas é vingador.
Vingador é aquele que aplica a justiça e o castigo por um pecado cometido. Justiça aplicada portanto.
Vingativo é aquele que por emoção devolve no outro ação que o prejudique para compensar aquele que ele originalmente sofre direta ou indiretamente.
Deus é vingador, e a vingança é uma prerrogativa sua. A Bíblia afirma isto.
Ao homem não é permitido usar da vingança, pois ele não consegue ser justo, somente será vingativo e por isto não lhe é permitida a vingança.
Lamentável que ele tenha dito isto... bem se ele ficou firme nestes seus argumentos até o fim, neste exato instante, no inferno, já está amargamente sabendo que estava errado.
Se alguém duvida... eu pergunto "Vai pagar para ver?".
Blaise Pascal, outra mente brilhante, porém temente, propôs uma aposta mais inteligente... ou seja, por via das dúvidas "aposte" na existência de Deus.
Mas o fato é que não eleitos, não tem em si "mesmos" a capacidade de fazer tal aposta.
Tenho certeza absoluta que agora se ele Saramago pudesse voltar para vistar os amigos, parente e leitores, diria a pleno pulmão que estava errado, rasgaria a maioria dos seus escritos rebeldes... e pasmem... a partir de então (se isto fosse possível) não seria mais tão amado pelos fãs, que ou diriam que ele teria enlouquecido, ou mesmo que nem seria Saramago, mas outro espírito encarnado.
Se Deus o cegou e os endureceu desta forma, nem mesmo Saramago voltando dos mortos poderia fazê-los mudar de idéia.
Não é tripudiar é seguir o exemplo de Jesus e dizer "Deixem os mortos sepultar os seus mortos".
Natan,
É uma alegria tê-lo por aqui com os seus comentários equilibrados e bem elaborados biblicamente. Eu quero cada dia mais aprender com aqueles que sabem. Principalmente aprender mais de Deus. Inclusive, estou aqui há alguns dias pensando em lhe enviar um email sobre um assunto que muito me atrai na teologia reformada, e já lhe adianto: determinismo e responsabilidade humana.
Eu já vi alguns textos e comentários seus sobre o assunto que me chamaram a atenção (de forma positiva), por isso a intenção do email. Bem, se você ler este comentário, já fica convidado a começar a esclarecer esse ponto segundo o seu entendimento, seja por email, ou aqui mesmo.
Quanto ao Saramago, ele de fato hostilizava ostensivamente a fé cristã. Tripudiava dos cristãos e de Deus. E ainda era um comunista marxista.
Se ele pudesse voltar... certamente agiria de outra forma. Esse seu comentário me fez lembrar de Lázaro e o rico...
Tenho pena dele e de tantos que endureceram os corações, pois o fim será o mesmo. Dó, essa é a palavra que vem à minha mente quando vejo um ateu tripudiando do Criador. Ele, certamente, lá de cima, "ri-se e zomba deles" (Salmos 2:4).
Grande abraço e volte sempre.
Ricardo
Caro
Fico no aguardo do seu e-mail.
Certamente será bem produtivo.
Abraço
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