
No primeiro post falei sobre um universo que "clama" por um Deus, que "grita" a existência do seu Autor. Toda esta criação proclama o seu Arquiteto. A própria ciência, ainda quando cética com relação ao sobrenatural, com os seus cientistas ateus e agnósticos, não responde às indagações sobre o início de tudo. Há um vácuo quando o homem chega à origem do universo... A centelha da criação reclama a existência de uma vontade, uma inteligência por trás de tudo. O que vem por trás do átomo, do fóton, do bóson de Higgs?
Há um quase preconceito por parte da maioria dos crentes, como se jamais pudéssemos ousar trilhar o caminho da ciência, ou pelo menos do entendimento acerca do mundo natural. A confusão entre o santo e o profano impede que se compreendam os mistérios da criação. Até onde podemos chegar? As leis naturais, os fenômenos, são tabus para aqueles que creem no Invisível? Há, porventura, incompatibilidade entre saber e crer?
O autor deste livro trilha o caminho da ciência e expõe as teorias aceitas sobre evolucionismo exclusivamente à luz do naturalismo; as suas possibilidades e impossibilidades; os vácuos, as certezas. No mesmo "pacote" nos induz a considerarmos outras possibilidades, como o 'design inteligente' e a 'evolução teísta' - esta , a que mais lhe agrada sob o ponto de vista científico e teológico.
Portanto, caros amigos e irmãos, tentarei, na medida do possível , sintetizar o pensamento do autor condensando-o no menor espaço possível e, ao mesmo tempo, convidando-os a uma análise racional dos fatos à sombra do Inexaurível e guardados pela fé.
Evolução sob a ótica exclusivamente naturalista: origem da vida - É a teoria que exclui Deus da criação; o universo é autoexistente; de alguma forma incompreensível ele se fez de uma partícula de energia, gerando uma explosão conhecida por big bang. Calcula-se que esse universo tenha a idade de 14 bilhões de anos pelo critério científico de datação aceito: radioatividade, degradação natural de determinados isótopos químicos proporcionando um meio eficiente e "quase" exato para determinar a idade das várias rochas da terra. A terra, por seu turno - mediante o uso do mesmo critério, tem a idade de 4,5 bilhões de anos. Repentinamente, há alguns milhões de anos surgiram diferentes tipos de 'vida microbiana', organismos unicelulares capazes de armazenar informações, "talvez" pelo uso de DNA, com capacidade de se auto-reproduzir e evoluir em "inúmeros tipos diferentes". Não vamos nos estender muito nesses pormenores, mas o fato é que tais organismos, segundo a ótica naturalista, podiam fazer um intercâmbio rápido de DNA entre as várias células minúsculas existentes, interagindo por completo. A pergunta teimosa: como surgiram esses organismos que se auto-reproduziam? O que prova o naturalismo? Não se sabe. Há apenas "hipóteses", incapazes de "responsabilizar" o próprio ambiente de 'per se' pelo desenvolvimento da vida.
É necessário considerar que, se o naturalismo não apresenta prova contundente sobre a origem da vida, qual a certeza que possuem os seus defensores? Se não se comprova o principal, como crer no acessório? Vale dizer que, se não há demonstração científica quanto à origem da vida, como crer na evolução das espécies pela seleção natural?
Sigamos em frente. Diz o autor: "Parece totalmente improvável que uma molécula como o DNA, com sua estrutura de açucar-fosfato e bases orgânicas dispostas de forma complexa, empilhadas umas sobre as outras e emparelhadas em cada degrau de uma hélice dupla e retorcida, tenha "apenas acontecido" [1]. Tampouco o RNA munido da sua capacidade de "fazer as coisas acontecerem por conta própria" possui igual capacidade de "se copiar". Não há experimentos nesse sentido comprovando essa possibilidade.
Diante da lacuna, Collins faz a seguinte indagação: "Se Deus tivesse a intenção de criar o universo, a fim de chegar a criaturas com as quais pudesse ter uma afinidade, ou seja, seres humanos, e se a complexidade exigida para iniciar o processo da vida estivesse além da capacidade de automontagem da química do universo, não poderia Deus ter interferido para começar o processo?" A resposta dada pelo autor é a seguinte: "A fé que coloca Deus nas lacunas de uma compreensão dos dias de hoje sobre o mundo natural pode levar a uma crise se os avanços na ciência preencherem, posteriormente, tais lacunas" [2].
Os registros fósseis demonstram que "organismos unicelulares" aparecem em sedimentações com 550 milhões de anos, embora se argumentando que nesse mesmo período (cambriano) possam ter aparecido organismos mais sofisticados, posto que surgem também no mesmo período "arranjos de corpos de invertebrados" (explosão do cambriano). Mas também há controvérsias, não existindo provas incisivas. E também aqui não é de bom alvitre que se coloque o "Deus das lacunas" como elemento sobrenatural a originar a explosão da vida com base exclusiva em tais evidências. Outros registros demonstram que a terra permaneceu árida até cerca de 400 milhões de anos atrás, ponto em que "surgiram as plantas, derivadas de formas de vida aquáticas". Apenas 30 milhões de anos depois , os animais também se deslocaram para a terra. Porém, outra lacuna: é que aparecem "poucas formas de transição entre criaturas marinhas e tetrápodes, que habitaram a terra no registro fóssil".
Outro registro fóssil rico é o aparecimento dos dinossauros, que, segundo os mesmos estudos com base no mesmo critério de datação, sugere que eles surgiram há cerca de 230 milhões, dominando a terra, e chegando ao fim repentino e catastrófico há aproximadamente 65 milhões de anos, com a queda de um imenso asteróide onde hoje fica a península de Iucatã, ocasionando terríveis mudanças climáticas pela vasta quantidade de poeira na atmosfera.
Eis que surge Charles Darwin e, a partir de observações nas Ilhas Galápagos entre 1831 e 1836, observou pelos fósseis a "diversidade de formas de vida em ambientes isolados". Em 1859, redigiu e publicou as suas ideias em "A origem das espécies" . O maior argumento do naturalista inglês era que "todas as espécies vivas descendiam de um conjunto pequeno de ancestrais comuns, talvez apenas um", asseverando ainda que a "variação em uma espécie acontecia de modo aleatório e que a sobrevivência ou a extinção de cada organismo dependia de sua habilidade para adaptar-se ao ambiente, ao que deu o nome de "Seleção natural" [3].
Qual a posição, à época da publicação da obra, dos teólogos? "Na verdade , Benjamin Warfield, de Princeton, teólogo protestante notável e conservador, aceitou a evolução como uma teoria do método da providência Divina, embora defendesse a ideia de que a evolução teria um autor sobrenatual" [4].
Um fato interessante deve ser lembrado, se a "Teoria da Evolução" é tão nociva à ideia da existência de Deus, porque Darwin foi enterrado no Mosteiro de Westminster?
Ora, o autor descreve que o próprio Darwin tinha uma preocupação profunda com o efeito de sua teoria sobre a crença religiosa, e, em "A origem das espéicies" , esforçou-se para salientar uma possível interpretação harmoniosa:
"Não vejo nenhum bom motivo para os pontos de vista apresentados neste volume chocarem os sentimentos religiosos de alguém [...] um elogiado escritor e teólogo escreveu-me que "gradualmente aprendeu a ver que é uma concepção tão nobre dos deístas acreditar que ele criou umas poucas formas originais capazes de se autodesenvolver em outras, mais indispensáveis, quanto crer que ele precisava de um ato estimulante de criação para compensar os vazios causados pela ação de suas leis" [5].
Eis que Darwin conclui a obra (A origem das espécies) com o seguinte texto:
"Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus vários poderes, tendo ela sido lançada como o sopro da vida originalmente pelo Criador em poucas formas ou uma; e que, enquanto este planeta vinha orbitando de acordo com a lei da gravidade estabelecida, a partir de um início tão simples, inúmeras formas, cada vez mais belas e maravilhosas foram, e continuam, evoluindo" [6].
A própria condição de Darwin era ambígua, pois, se em um determinado momento ele se reconheceu agnóstico, em outro, ele considerou a possibilidade de ser teísta:
"Pela extrema dificuldade, ou uma quase impossibilidade de conceber este universo imenso e maravilhoso, incluindo o homem com sua capacidade de examinar o passado tão distante e o futuro tão longínquo, como resultado de uma oportunidade ou necessidade cegas. Quando medito dessa maneira, sinto-me atraído a observar a Primeira Causa como tendo uma mente inteligente em algum grau análoga a essa dos homens; e mereço ser chamado de teísta" [7].
Concluo dizendo que a fé não necessita de provas da "existência de Deus" para existir ou se manter, pois, conforme cremos, nasce da revelação, mediante chamado do próprio Deus (Efésios 2:8-9; João 6:44, 65 e 15:16). Contudo, nada impede que busquemos nos informar até para que possamos defender a nossa fé - e não a Deus, posto que Ele não necessita ser defendido.
Quando nos acusam, porém, de não possuirmos as respostas baseadas em provas, da existência de Deus, os naturalistas também não as possuem , posto que jamais conseguiram se desvincular do calcanhar de Aquiles: Como tudo se iniciou, de onde viemos e para onde vamos?
No próximo falarei do design inteligente e teísmo evolucionista, se Deus permitir.
Fonte: Francis S. Collins,
"A Linguagem de Deus", 6ª edição, Editora Gente, tradução Giorgio Capelli, 2007.
[1] Obra cit. p. 97
[2] Obra cit. p. 99
[3] DARWIN, C. R. , The Origin of Species. New York, Penguin, 1958, p. 456 - Obra cit. p. 103
[4]WAFIELD B. B. "On The Antiquity and the Unit of the Human Race". Princeton Theological Review, v. 9, 1911, p. I-25.
[5] DARWIN, obra cit. p. 452 - ibidem p. 104
[6] DARWIN, obra cit. p. 459 - ibidem p. 105
[7] In MILLER, R. "Finding Darwin's God". New York Harper Collins, 1999, p. 287 - obra cit. p. 105.
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