sábado, 6 de março de 2010

Avivamento ou misticismo?




O grande boom nas igrejas na atualidade é o "avivamento"; não se pensa igreja sem "avivamento"; os irmãos querem experimentar esse enlevo místico e profundo com o Espírito Santo. Nessa trilha, embrenham-se uns e outros, esta e aquela denominação, todos sequiosos pela "unção", ou melhor, pelas "unções" - é engraçado, pois eu sempre pensei a palavra no singular.

Aproveitando o mote das "unções", o que mais vemos são pregadores fazendo apologia do poder das unções, seja para restituir o que se perdeu (unção de prosperidade e restituição), seja para restabelecer o elo familiar (unção de restauração), para curar (unção de cura), para libertar de "maus espíritos" (unção de libertação) - e esta última é muito popular no meio dos "Guerreiros", assim compreendidos aqueles que "batalham contra os espíritos, via de 'intercessão', ou que os expulsam de outras pessoas, 'crentes' ou não" (uhhhhhhhhhh, vade retro!).
Por falar nessa "gurerra espiritual", eu já tive o desprazer de ver , em época não tão remota, a igreja sendo "cercada" por irmãos "interecessores", distribuídos estrategicamente nos vãos das portas para desencorajar os tais demônios de entrar , tudo isso acompanhado de uma grande pantomima, gestual exagerado, caretas.

E eu aqui, ainda acreditando em uma única unção, esta eficaz para proteger os filhos de Deus de toda e qualquer artimanha do diabo e seus demônios, conforme apregoava o Apóstolo João:

"E vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento" (1 Jo 2:20)

"Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele como também elas vos ensinou" (1 Jo 2:27)

Interessante o que o mesmo apóstolo diz neste contexto a respeito das tantas heresias que já permeavam o cristianismo naquele primeiro século. E vejam que era ainda um cristianismo pulsante, ainda com as marcas do Messias impregnadas no meio do povo; o seu sangue quase que respingando da cruz:

"Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também , agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos" (1 Jo 2:18-19).

Às vezes eles não dos nossos: estão no meio de nós, falam sobre sinais e prodígios; às vezes até profetizam, curam, falam línguas estranhas, mas, ainda assim, não são dos nossos (Mateus 7:21-23). Logo, os que demonstram que efetivamente são "dos nossos", são aqueles que fazem a vontade do Pai Celestial (Mateus 7:21).

Eis a questão, o que se vê atualmente grassando pelo meio evangélico/gospel (arre!) é o avivamento/movimento; avivamento faz-de-conta; avivamento-glória-a-deus; avivamento-aleluia. E muito pouco de avivamento-vida-no-altar; avivamento-palavra; avivamento- amor.

Como exemplo do que cito em epígrafe, situemo-nos em uma vertente única desse avivamento, o "dom" tão buscado por tantos místicos que vicejam pelas denominações: língua estranha. E olha que nem vou discutir sobre a sua existência bíblica, conforme se observa dos únicos textos que discorrem sobre o referido dom, em 1 Coríntios 14 e Atos 2. E ali naqueles textos, claramente, o apóstolo se refere a "outras línguas" (Atos 2:4; 1 Coríntios 14:2).

Todavia, vamos lá, suponhamos que a tal "língua estranha" de fato seja um dom Divino - o que eu não considero, fique bem registrado, pois sou completamente fiel às escrituras, e se elas não se referem a "línguas estranhas", estas são invenções de homens. Mas , hipoteticamente, consideremos a sua existência. Nesse caso, Paulo diz textualmente que as línguas devem ser faladas inteligivelmente", ou seja, mediante interpretação (1 Cor 14:13-14), posto que tal dom, não interpretado, não aproveita a ninguém, como se o interlocutor estivesse "falando ao ar" (1Co 14:9).

A pergunta que teima em aflorar é a seguinte: por que então alguns pregadores e irmãos "ungidos" teimam em exibir essa língua na igreja? Por que intercalam a sua pregação com essa língua estranha e oram nela, sem qualquer "interpretação"? Se não é para edificar a ninguém, senão a si próprio, por que ainda expõem esse "dom" mesmo ininteligível, quando é dito expressamente que não fale, a menos que haja intérprete (1 Cor 14: 27), senão, que fale consigo mesmo e com Deus, com a mente ( 1 Cor 14:28)?

Eu, como o Apóstolo Paulo, "prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil palavras em outra língua" (1 Cor 14:19).

Ora, se a Bíblia é o nosso manual de conduta, o escudo que nos protege do erro, por que alguns pregadores e irmãos teimam em se colocar contra ela? Por que falam em "língua estranha" sem intérprete, a ninguém edificando? Porventura é para se exibir? Sim, se a Bíblia diz que não deve, por que falar, senão para "demonstrar" a "unção" aos demais?

Espero que sejamos adultos na fé (1 Cor 14:20), exercitando todos os dons que Deus nos concedeu, primordialmente o da pregação e do amor, tudo com ordem e decência ( 1Cor 14:39).

Portanto, se alguém falar em "língua estranha" na minha igreja, saiba que terá de interpretar, como estabelece o nosso "Manual", pois assim exigirei (quero ser edificado!).

6 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

o avivamento é muito mais do que a cartaxe, os efeitos pirotécnicos, as manifestações sentimentais ou o emocionalismo, gritos histriônicos e atitudes bizarras.

O avivamento começa com o temor, tremor e submissão a Deus e Sua palavra. Sem essa "manifestação" não há avivamento, mas outro "show" não tanto espetacular.

Uma vida quebrantada pelo Espírito Santo é uma vida sujeita e servil a Cristo, que demonstra através dos frutos pertencer a Ele; sendo usada para a Sua glória.

Portanto, o avivamento apenas no âmbito da igreja, como algo restrito às quatro paredes do templo, não é avivamento. É preciso que ele espalhe-se pelas vizinhanças, sejam as ruas, bairros, cidades, estados, transformando a sociedade.

Quando há um avivamento, há também um temor geral, mesmo dos ímpios; uma redução da iniquidade; um desejo ardente de servir a Deus, de estar sob o Seu jugo.

Avivamento onde as pessoas "determinam" ou "exigem" dEle, como se relacionassem com um serviçal, nada mais é do que manifestação carnal de desobediência e incredulidade.

Fica a pergunta: quais os frutos do "avivamento" no Brasil? Temos um país com temor do Senhor? Temos cristãos que salgam e iluminam as trevas? Temos um padrão moral bíblico praticado por todos os crentes ao ponto em que o ímpio teme só de pensar praticá-lo?

Ou estamos tão iguais a eles em suas marcas de impiedade e devassidão? Ou apenas queremos nos dar bem? Vivendo um "cristianismo" individualista que dê frutos apenas na minha vida material?

O avivamento sem o Evangelho, sem o poder do Espírito Santo não passa de arruaça, exibicionismo de quinta; outra manifestação da carne a gritar no homem em rebeldia contra Deus.

Forte abraço, meu irmão!

Cristo o abençoe!

PS: Sejamos sinceros, e aqui não quero "melindrar" nenhum não-cessacionista: o que o falar em línguas tem edificado a Igreja? Não seria o caso de se "falar" menos e ouvir mais a voz de Deus na Escritura?

Filósofo Calvinista disse...

Prezado Ricardo:

Muito boa postagem. Esse é um tema que me interessa. Outro dia postei sobre ele também. Quando puderes, dá uma passadinha lá pra ler e dar sua opinião:

http://filosofiacalvinista.blogspot.com/2010/01/avivamento-ou-reavivamento-o-que.html

Tudo de bom!

Alexandre Pitante disse...

Paz, querido.

Boa materia, Avivamento é transformação de Vida.

Estou seguindo seu blog.

Visite meu blog também. Avivamento pela Palavra é um blog voltado aos amantes da Bíblia sagrada como Verdade Absoluta e que só através Dela seremos mais crentes e mais cheios do Espirito Santo.

http://www.alexandrepitante.blogspot.com/

Siga-nos também.

Fica com Deus.
Um abraço, Alexandre Pitante.

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Perfeita a sua análise, logo, tem a minha completa e irrestrita aquiescência. Confesso que ando mesmo enojado desse suposto avivamento, essa mentira, esse exibicionismo de mau gosto.

Compreendo que as pessoas são muito ignorantes biblicamente, por isso buscam essas manifestações exteriores de espiritualidade, mas não consigo engolir aqueles irmãos que têm um pouco de conhecimento, e ainda assim se abandonam alegremente a tais práticas. Não é a toa que o Livro diz que "a quem muito é dado, muito será cobrado".

Continuarei lutando contra essas superficialidades, essas manifestações pueris; continuarei dando o meu recado, seja aqui, seja no meu trabalho, nas minhas relações sociais, ou na igreja. Tentarei ecoar os ensinamentos verdadeiros de Jesus, a profundidade da Palavra, o seu grande poder, a sua eficácia sobre os crentes. Este, a meu ver, o grande avivamento; bem enraizado, plantado em terreno fértil.

O resto, firmado na aparência, nos "sons", no "foguinho", é apenas nada, o reverberar do engano, o eco das vaidades humanas...

Grande abraço e obrigado pela visita e pelo excelente comentário!

Deus o abençoe e à sua família!

Ricardo

Ricardo Mamedes disse...

Caro Filósofo,

Terei prazer em visitar o seu blog e ler a matéria indicada, pois tenho real interesse no assunto.

Obrigado pela visita e que Deus te abençoe!

Ricardo

Ricardo Mamedes disse...

Alexandre,

Fui ao seu blog e, pelo que vi, posso atestar a qualidade dos textos, bem firmados na Palavra inerrante. Já o estou seguindo e deixei um comentário ao seu texto atual.

Grande abraço e convido-o a continuar visitando este espaço dedicado à propagação da Palavra de Deus.

Em Cristo, o nosso Salvador!

Ricardo

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