sexta-feira, 12 de março de 2010

Perdão e expiação


Não há como negar que em algum momento das nossas vidas nós tenhamos refletido sobre o significado e a necessidade da expiação, da morte vicária de Cristo, o seu sacrifício substitutivo. Por quê? Qual a necessidade real desse evento tão estranho?

Eu mesmo já ouvi ou li considerações a respeito de que Deus, sendo Todo-Poderoso, poderia simplesmente perdoar a todos os pecadores, sem a necessidade de lançar mão de tal "malabarismo", de tamanha atrocidade para justificar pecadores renitentes, que jamais mereceriam tamanho sacrifício. Bastaria a Ele dizer: "estais perdoados das vossas ofensas contra mim, dos seus pecados, das tantas transgressões".
E então os incrédulos, ateus e liberais de todos os vieses buscam na Onipotência do Criador a desnecessidade da expiação. E eis que se criam as "demitologizações" do Evangelho: a morte de Cristo passa a ser um mito, quase uma "parábola", algo que "de maneira alguma ocorreu". E relativizando o Evangelho, tornando o sacrifício de Cristo um mito, relativiza-se toda a Verdade Escriturística, e acabam matando Deus e construindo apenas um deus qualquer.

Rudolph Bultmann, do alto da sua "sapiência", ao duvidar da expiação, assim assevera:

"Como pode a culpa de um homem ser expiada pela morte de outro homem impecável - se é que se pode falar de um homem impecável , afinal? Que primitivas noções de culpa e retidão isso deixa explícitas? E que primitiva ideia de Deus? O raciocínio acerca dos sacrifícios em geral , naturalmente, pode lançar alguma luz sobre a teoria da expiação; mas, mesmo nesse caso, quão primitiva é a mitologia em que um Ser Divino pôde encarnar-se e fazer expiação pelos pecados humanos através do seu próprio sangue! ... Outrossim, se Cristo que teve tal morte foi o pré-existente Filho de Deus, que significação poderia ter tido a morte para Ele? Obviamente, pouquíssimo, se sabia que iria ressuscitar dentre os mortos no espaço de três dias!"

Portanto, esses luminares do pensamento teológico liberal colocam em dúvida a expiação, negando o Evangelho. Em que deus eles acreditam - se é que acreditam em qualquer deus - posto que a única palavra que conhecemos como sendo do Deus único é a Bíblia? No momento, pois, em que a Bíblia é relativizada, colocada em dúvida na sua literalidade, o Deus ali expresso, manifesto e revelado, já não é mais Deus. Em quê se fiarão os crentes se a Palavra da revelação, até então reconhecida como inerrante, passa a não mais ser absoluta? Sobraria tão somente o desespero existencial de Sartre ou o assassínio de Deus, propalado por Nietzsche...

Interessantíssima é a ilação feita por B. B Warfield sobre a necessidade da expiação, senão vejamos:

"É característica distintiva do cristianismo... não que pregue um Deus de amor, mas que pregue um Deus de consciência. Um Deus benévolo, sim: os homens tem moldado um Deus benévolo para si mesmos. Um Deus inteiramente honesto, porém, talvez nunca. Isso foi deixado ao encargo da revelação que o próprio Deus nos daria de si mesmo. E essa é a característica realmente distinta do Deus da revelação: Ele é um Deus inteiramente honesto, um Deus inteiramente consciente - um Deus que trata honestamente Consigo mesmo e conosco, que trata conscienciosamente Consigo mesmo e conosco. E um Deus inteiramente consciencioso, podemos estar certos, não é um Deus que possa tratar com os pecadores como se eles não fossem pecadores. Nesse fato jaz a mais profunda base para a necessidade da expiação."

Na verdade, é facilmente compreensível esse sacrifício substitutivo, quando Deus-Pai oferece Deus-Filho como expiação necessária ao pecado de muitos. Basta imaginar Deus em toda a Sua glória; Perfeito, Justíssimo, Imaculado. Como esse Ser Supremo poderia aceitar pecadores contumazes, miseráveis e podres conspurcando a Sua Eternidade, a Sua "casa" celestial? É algo completamente impossível, se sabemos que as trevas não coabitam com a Luz. A perfeição de Deus jamais poderia ser maculada pelo pecado humano.

Não havia outra solução, eis que a única saída estava no próprio Deus e consistia em Ele dar-se, na pessoa de Seu Filho Unigênito, em Sacrifício agradável a Si mesmo. Incrível isso não? Somente a sua Deidade seria suficiente para limpar os pecados do mundo, tornando isso possível àqueles que recebessem ao Filho, por intermédio da Sua infalível Graça (Efésios 2:89), de tal maneira que ao homem não remanescesse mérito algum. O processo é todo de Deus (Filipenses 2:13) e não concede ao homem qualquer mérito.

Portanto, a falácia de que mesmo o homem pode perdoar o seu semelhante - e isso de fato ocorre - tanto mais poderia fazê-lo Deus, não procede pelos motivos acima alinhavados.

O Apóstolo Paulo assevera com absoluta clareza e convincentemente o motivo da expiação:

"Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixados impunes os pecados anteriormente cometidos , tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Romanos 3:23-26).

Como se vê, Deus é tanto justo como justificador. Pertence a Ele todo o mérito da salvação, assim como a necessidade de entregar o Filho como expiação pelos pecados de tantos quantos tenham fé em Cristo, tornando-os aceitáveis a serem recebidos como filhos por adoção. Nós fomos reconciliados com Ele por intermédio dEle mesmo (Romanos 5:10), quando éramos ainda ímpios e pecadores (Romanos 5:8), e essa é a prova do grande amor de Deus por nós (os seus filhos).

Merecimento não tínhamos, mas fomos salvos pelo grande amor de Deus e pela riqueza de Suas misericórdias, conforme mais uma vez aduz o Apóstolo tardio em Sua Carta aos Efésios:

"Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo - pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2:4-7).

Louvado, pois, seja o Santo nome do Senhor Deus que nos salvou imerecidamente, dando o seu filho como sacrifício agradável, para, em si, e por si mesmo, receber-nos como filhos eternamente. Glórias sejam dadas ao Altíssimo!


(Citações, fonte: "Cristianismo: A Melhor Resposta", CHAPMAN colin, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova-SP, 1990)

2 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Meu irmão,

tanto os liberais, como ateus, agnósticos e congêneres são cegos a guiar cegos cada vez mais fundo do abismo.

O motivo para tanta e tamanha descrença (mesmo entre os "ditos" cristãos) não pode ser outra coisa a não ser a resistência do pecado. O pecado está tão entranhado, tão sedimentado, tão enraizado na alma dessas pessoas, que para elas a idéia de salvador e salvação são incompreensíveis (consequentemente, também a culpa, o inferno, o arrependimento, etc).

Como Paulo nos diz:"Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (1Co 1.25);

e ainda: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1Co 2.14);

e, mais um pouco: "Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus"(1Co 1.18).

Escrevi algo parecido em meu blog, e pode ser lido em http://kalamo.blogspot.com/2008/07/o-nico-sacrifcio.html

Forte abraço, amigo!

Cristo o abençoe!

Esli Soares disse...

Ricardo...

Muito bom!

Seguindo o pensamento do seu texto, inevitavelmente chegaremos as doutrinas da Graça.

O Deus que nos justifica através da morte expiatória de Cristo, é o mesmo que nos predestina, chama, e glorifica.

Na Paz daquele que nos elegeu no Amado.
Esli Soares

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