terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Reminiscências...



O ser humano é certamente um animal social e isso é uma verdade que não admite refutação. O fato de vivermos em sociedade e nos relacionarmos com os nossos semelhantes nos faz saudosos de muitos eventos e coisas que nos aconteceram. Não raro nos encontramos imersos em pensamentos, cultivando boas lembranças e passando rapidamente pelas más (a fim de não vivenciá-las novamente, tampouco alimentar amarguras).


Nos últimos meses eu mergulhei nesse universo profundo e insondável de Deus. Muitas vezes dolorosamente, quase aviltado por um sentimento lancinante de impotência diante de situações que absorviam a minha mente, cujas respostas eu não encontrava. Há alguns dias, inclusive, escrevi um artigo aqui neste blog citando os nomes de alguns amigos e blogs reformados que conduziram-me rumo às doutrinas da graça. Até então eu me encontrava imerso em um universo de apenas aceitar um Deus que eu tinha como soberano, mas sem grande profundidade. Todavia, junto com essa soberania eu também alimentava aquela minha liberdade tão comumente denominada pelos arminianos como "livre arbítrio".


Ocorre, porém, que cometi um erro e uma injustiça ao citar os nomes desses meus amigos que, de certa forma, ajudaram à "converter-me" àquelas maravilhosas doutrinas. Esqueci-me de alguém que, reformado e estudioso, me levou a pensar inicialmente sobre o assunto, tendo, inclusive, feito uma defesa propositiva e substancial de tais doutrinas: o meu amigo, camarada e irmão, Pr. Adriano Nazareth, a quem devo muito das minhas convicções atuais.


Deixem-me explicar: estávamos eu, o pastor Adriano e mais alguns amigos indo a um encontro batista em uma cidade nem tão próxima, distando mais ou menos 500 quilômetros do destino inicial, todos juntos, quando, no retorno, de uma maneira não premeditada o meu amigo Adriano referendou as suas convicções sobre as doutrinas da graça, especialmente acerca da eleição e predestinação, citando inúmeras passagens bíblicas, das quais eu me recordo de Efésios 2 e Romanos 9. Ao final ele asseverou que era reformado e acreditava na predestinação com responsabilidade humana. Confesso que eu, embora não podendo ser descrito como alienado biblica e teologicamente, sempre tivera um arraigado preconceito contra essas doutrinas. Era algo como aquele chavão: não conheço, nego-me a conhecer e não gosto! Usei de muitos argumentos (que hoje reputo como absolutamente tolos) para refutar os argumentos tão bem construídos pelo meu amigo.


Vale dizer que o Pr. Adriano Nazareth é uma grande pessoa (e não vai aí qualquer rasgação de seda), um sujeito admiravelmente estudioso e um dos maiores conhecedores (das pessoas e pastores com os quais me relaciono) das Epístolas Paulinas. É daqueles que a gente diz: - pô, o cara sabe tudo. Sim, ele é desses que faz inúmeras e incontáveis citações bíblicas e discorre sobre elas de memória, reproduzindo-as à perfeição. Eu diria que o Adriano é, sem dúvida, um 'cara' culto. Ele ama os seus livros; tem quase dois mil na sua biblioteca particular, todos muito bem cuidados; dentre eles, as grandes obras teológicas de autores reformados.


Se eu fosse fazer uma brincadeira aqui poderia dizer: o Adriano é um sujeito importante... mantém contato direto com várias personalidades consideradas sumidades no meio teológico, como James White, John Piper e mais alguns, tendo, inclusive, recebido livros diretamente deles, com os quais estabeleceu contato a partir das 'Conferências da Fiel", tendo já participado de 12 delas, segundo me confidenciou. Porém, esse pastor, como é comum aos homens de Deus, não se sente importante, antes sendo humilde. Não aspira riquezas, a não ser as espirituais. É daqueles, como tantos outros que conheço, que apenas desejam "um lugar para recostar a cabeça". Por essas qualidades e por tantas outras é que lhe faço essa espécie de homenagem, extensiva a tantos outros pastores e missionários que, como ele, passam uma vida inteira dedicados exclusivamente a propagar o Evangelho de Cristo.


Pois bem, esse acontecimento inicial ocorreu no dia 01 de junho de 2009, data em que o meu amigo "suportou com muita longanimidade as minhas tolices" (rsrs) em inconsistente refutação à predestinação com responsabilidade humana. Hoje, passados alguns meses de mergulho nessas doutrinas, reconheço que não é fácil suportar esse tipo de refutação e de pessoas que reverberam o seu preconceito contra "esse Deus injusto".


Graças a esse acontecimento com o Pastor Adriano, as "escamas caíram" dos meus olhos. É verdade que, até chegar aqui, passei por dolorosos conflitos, acusei Deus de injustiças tantas, sem conseguir aceitar Romanos 9, com aqueles tais vasos de ira! Depois de trilhar esses caminhos tortuosos - reproduzindo email atual para o amigo Adriano - encontrei um Deus completo, soberano, Todo-Poderoso. Um Deus que não precisa das suas criaturas, mas que, exclusivamente pela Sua misericórdia, chama algumas delas salvando-as. Outras foram feitas para o dia da ira, conforme diz a Palavra (mas essas vão felizes para a perdição, alegres com a sua impiedade e cegas para Deus).


Por derradeiro, ratifico que este post tem a finalidade precípua de homenagear o meu amigo, camarada, servo do Deus Altíssimo, Pastor Adriano Nazareth por ter sido usado por Ele para tirar-me da ignorância acerca das maravilhosas doutrinas da graça. Honra e Glória ao Senhor que, pela Sua providência, usa os seus filhos e toda a Sua criação para o cumprimento dos Seus santos desíginios.


10 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Caro Ricardo,

este tipo de reconhecimento é raridade nos dias de hoje, mesmo entre os cristãos. Devemos sempre estar prontos a honrar aqueles que glorificam o nome do Senhor.

Parabéns pela postagem.

Grande abraço no Senhor!

PS: Não concordo apenas com a sua afirmação de que o homem é um animal social. Não considero que sejamos animais, no sentido em que somos a imagem de Deus, e como Deus não é animal, logo, também não somos.

Ricardo Mamedes disse...

Olá Jorge,

já faz algum tempo que a gente não se fala, estava com saudades dos seus comentários por aqui.

O pastor homenageado é um amigo de longos anos, realmente uma pessoa especial. Nada que eu disse ultrapassa a verdade. Essa classe não recebe por nós, crentes, o merecimento que deveria, razão pela qual quis homenagear esse meu querido amigo, Pastor Adriano.

Com relação à designação como animal eu me referi mais ao gênero mesmo (animal racional), especificamente no que se refere à classificação biológica (homem natural). Mas se olharmos para o seu raciocínio realmente lhe assiste razão. Porém aqui, aos olhos da ciência, ainda pertencemos ao gênero animal.

Olhando por outro lado, ainda chegamos à mesma encruzilhada, acompanhando o seu raciocínio: não somos homens também, no sentido em que somos imagem de Deus, e como Deus não é homem, logo, também não somos (rsrs).

Fica pra você resolver o quebra cabeças: o que somos então denominados, como gênero humano?

Grande abraço, em Cristo,

Ricardo

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,
interessante a sua colocação, e não tinha realmente pensado nisso, de que Deus não é homem... porém, sabemos que Deus se fez homem na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Então:

1)Quando Deus diz que somos a Sua imagem e semelhança ligava-nos diretamente à encarnação do Seu Filho Amado? Ou seja, ainda que o Senhor não tivesse encarnado no tempo, a inevitabilidade da Sua encarnação o remetia a ser considerado como nós, humanos?

2) Se apenas nós entre as criaturas somos a imagem de Deus, e as demais criaturas não são, isso, por si só, já gera uma diferença monumental entre nós e os animais. O que, ao meu ver, distingui-nos suficientemente para não sermos considerados como tais. Há também o fato de os animais não serem imortais nem espirituais, e de nós sermos.

3) Em nível científico, de uma perspectiva materialista e naturalista, somos considerados animais, o que não quer dizer que eu deva me assumir como tal. Os panteístas e os proponentes da Nova Era também incluem o homem no rol animalesco, o que me parece não ser em hipótese alguma a definição escriturística.

O fato de sermos considerados animais racionais miniminiza a situação sem contudo resultar na verdade.

Sei que esta questão foge do assunto do seu post, mas é que não resisti (rsrs)...

Voltando ao seu amigo e pastor, é interessante como os cristãos têm dado tão pouco valor ao ministério pastoral. É claro que sempre houve e haverá os "lobos cruéis", servos do diabo a tentar dispersar o rebanho do Senhor (At 20.28). Mas Paulo nos exorta à obediência aos nossos pastores, a sujeitar-nos a eles, os quais velam por nossas almas, e, de certa forma, serão cobrados e responsabilizados por elas (Hb 13.17). Ainda mais quando é por eles que temos o contato com a verdade, a revelação escriturística, sendo mais merecedores de honra. Pois é através das Escrituras e daqueles que a proclamam que o Senhor será glorificado.

Mais uma vez, parabéns pelo post.

Grande abraço no irmão!

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Hehehe. "Estamos neste mundo, mas não somos deste mundo. Somos forasteiros..." Todavia, enquanto estivermos neste mundo, faremos parte do gênero humano. Daí a questão: quem está certo? Eu diria que, sob um ângulo você, sob outro, eu. Portanto, penso que o mais justo é o empate (rindo). Confesso que gostei do seu último raciocínio.

Abraço!

Ricardo

Esli Soares disse...

Ricardo... agora eu estou podendo comentar, (vc tá enrolado, vou encher a sua paciência e a do Clóvis, ah... a do Zwinglio, também, achei o blog dele).

Deixe-me fazer algumas colocações, sobre sermos animais ou não:
Dias atrás, lendo a coluna semanal da Lya Luft, apresentada na revista Veja, o assunto tratado me impressionou. Nela a autora falava sobre a sordidez humana, título do texto (revista Veja, 10 de maio de 2009). A escritora estranha o desejo pelo errado, discorrendo entre a beleza e o caos que se encontram no humano: “Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça alheia? Quem é esse em nós, que ri quando o outro cai na calçada?”.
Os poetas e artistas pintam - cantam ou contam - belos feitos e tem visões exaltadas da humanidade, exaltada para o bem ou mesmo para o mal. Somos o “homos econômico” para os analistas do dinheiro; um mero número para os tecnocratas; não mais que máquina para os cientistas;dizem “o homem é a medida de todas as coisas". Mas a Bíblia apresenta 3 figuras.(tem mais, mas prometo que vou colocar só 3)

1-Somos a Imagem de Deus (Gn 1;26) perfeito, bom e capaz: é assim que a Bíblia começa a descrever quem é o ser humano. A imagem e semelhança do Deus Criador. Dentre todos da Criação, o humano foi coroado com singular capacidade, ser a figura mais próxima da própria divindade. Fomos feitos como uma escultura na qual o artista colocou muito de si mesmo, uma espécie de auto-retrato divino. Olhe para si! Deus é assim, como você e eu, eu ousaria dizer que Ele é mais humano do que nós costumamos pensar.

2-Mas também pecadores (Gm 3;6, Rm 1,20 e 3;10) decadente, mal e incapaz: embora tão grandioso seja o ser humano, nenhum de nós por mais simplórios, pode realmente enxergar na humanidade algo mais que alguns lampejo da “Imago Dei”. Infelizmente somos pecadores. A perfeição em nós foi manchada pela nossa própria presunção de perfeitos, a soberba da vida e a desobediência causada por ela, quebraram a escultura divina. A imagem e semelhança com Deus foi reduzida a fragmentos; Quem ainda mantêm a crença na sociedade como a força capaz de nos tirar das trevas e da barbárie, nos levando a avançar para a completa equidade, não é um humanista... é um cego.

3-Só que também somos o alvo do amor de Deus (Jo 3;16, Rm 5;11, Rm 8, 26 a 32) perdoados, resgatados e restaurado: Mas Deus prova de seu amor por nós ao mandar seu único filho morrer em nosso favor quando ainda erramos inimigos de Dele. Deus nos criou perfeitos, nos mudamos a perfeição em depravação, mas Deus não nos abandonou; não nos deixou como cegos tateando a procura de uma solução. Ele mesmo veio até nós e nos buscou. A Luz brilha em meio as nossas trevas e todos podem ver (Rm 1;18 e Hb 1;1).

Assim posso concluir que embora eu tenha sido criado a Imagem de Deus (é exatamente isso que me faz ser humano), no momento (queda em Adão), deixei de ser essa imagem de Deus, acabei como um espelho quebrado, reflito em pedaços, algo de sua gloria. Através da Cruz, Cristo junta os cacos e eu (aquele que é salvo) volto a ser humano, imagem de Deus. E embora marcado pelo pecado, aguardo ardentemnte ser, por completo, redimido e transformado de glória em glória.

Como cantava o Catedral “quanto mais a gente chega perto de Deus, agente se resolve mais” – essas, na verdade, são palavras de Calvino: “O conhecimento de Deus nos leva ao conhecimento de nós mesmo”. (As Institutas, 2006, livro I, cap. I, § 2). Se somos ‘homem’, o somos por que ainda nós (gênero humano), mesmo nos não redimidos, refletimos algo do próprio Deus, se entretanto, agimos como animais é por culpa do nosso Pecado. Para finalizar (prometo), Agostinho dizia: Somos como anjos sentado em porcos (citação da propria Lya Luft).

Ricardo Mamedes disse...

Caro Reverendo Esli,

É um grande prazer recebê-lo aqui neste espaço dedicado a glorificar o Criador e concê-Lo na medida em que Ele se deixa conhecer. Excelente comentário, muito propositivo e claro.

Eu também gosto muito da coluna da Lya Luft, mas confesso que não me recordo do texto citado.

De fato somos a imagem de Deus, ainda que em fragmentos, mesmo quando conspurcados pelo pecado. Porém, ao sermos redimidos, resgatados do pecado, recuperamos algo da beleza anterior à queda. O brilho de Cristo nos faz novamente aceitáveis ao Criador, que novamente nos retém com Ele, agora como filhos adotivos em Cristo.

Doravante, o pecado já não faz morada em nossos corações, não somos mais escravos das transgressões de outrora, posto que, vivificados, abominamos a antiga criatura - o que não significa que não voltemos a ter recaídas, a exemplo de Davi e Bate-Seba.

Passamos de criaturas a filhos de Deus trilhando essa maravilhosa seara cristã, que nos leva automaticamente à santificação gradual, embora ainda pecadores. Por isso, a Deus toda honra e toda glória! Porque sem Ele, nem mesmo fé poderíamos ter.

Grande Esli, muito obrigado pela visita. Espero que se torne uma constante.

Abraços.

Em Cristo,

Ricardo

Esli Soares disse...

Voltarei a comentar com todo o prazer nesse seu excelente blog... com uma condição , não me chame de reverendo.

Eu não sei por que "carga d'água" o nome no perfil do google pareceu rev.esli (seguindo o e-mail que te enviei), mas eu coloquei meu nome Esli Soares para ser o título visível.

Eu sou pastor presbiteriano, (não me condene por isso - risos) pelo que tenho muito orgulho de servir a Deus em uma das muitas igreja {com i minúsculo - veja a discusão no 5solas, ainda sobre 1Tm2;4} mas eu acho que o rev. em um blog pode mais me atrapalhar que ajudar. Daqui a pouco vão me chamar de metido, clerical, sei lá.

Na paz daquele que é digno de toda a honra e gloria, até o próximo post.
- )

Ricardo Mamedes disse...

Hahaha. Meu caro Pastor, não te condenarei jamais! Primeiro, porque sou um fã incondicional dos presbiterianos - se não fosse batista certamente seria presbiteriano. Segundo, porque aprecio essa classe em geral, conforme pode ver no post. Portanto, o fato de ser pastor, e presbiteriano, só contará a seu favor.

Até mais.

NEle,

Ricardo

Esli Soares disse...

Ricardo

Ainda há lugar...(risos) ainda mais para os magos da letra.

Dá uma lida em Mc8;22 a 25 (não deu para perder a piada)

Abraços

Ricardo Mamedes disse...

Esli,

Texto muitíssimo apropriado (rsrs).

Abraços.

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