A igreja local e a crítica
Em tempos de ataques renitentes contra a igreja institucionalizada, eis-me aqui a afirmar o meu amor pela minha igreja. Não a tenho como especial, como a dona de uma tal "revelação" salvadora só a ela pertencente; nela não há profetas, nem curas e nem shows. É apenas um templo, um espaço aberto circundado por paredes onde se reúnem pessoas que se autodenominam irmãos.
Amo a minha igreja local não por ela ser perfeita, nem melhor que as demais. Não venho aqui na tentativa de incensá-la, ou vender uma imagem de pura santidade e perfeição: na minha igreja há bons membros e outros nem tão bons; há desacertos, contrariedades, decepções. Porém, junto a tudo isto, há busca e sede pela Palavra de Deus.
Estou cansado de uma certa generalização presente nos espaços virtuais de orientação evangélica onde se prega um quase desapego à igreja institucionalizada, como se ela fosse a fonte de todos os males. Estar em uma igreja, ser membro de uma comunidade religiosa cristã, seja ela qual for, é motivo para acaloradas discussões, motivada por um grupo que abomina a "religiosidade" (e eu também abomino, na verdadeira acepção do termo). Para ser descolado, inteligente e intelectualizado, necessário que não se esteja ligado a qualquer denominação, posto que de lá se originam todas as vicissitudes que nos afastam de Cristo.
Na esteira desse modismo imposto pelos desigrejados, nasceram o repúdio denominacional e o fenômeno das denominações que não são denominações, igrejas que não são igrejas. Tem tudo para ser igreja, estrutura, corpo denominacional, organização, espaço físico, hierarquia (ainda que sutil), mas pode ser denominada de "caminho"... E, desses tais grupos "anárquicos", por assim dizer, nascem todos os ataques à estrutura denominacional presente no mundo inteiro, desde o alvorecer do cristianismo.
A crítica encarniçada à igreja institucionalizada revela o desassossego de um grupo incapaz de se relacionar com os seus semelhantes, na maioria das vezes. Não se aceitam regras, pois elas na verdade são "imposições" - como se não houvesse regras em toda e qualquer organização legalmente instituída.
A desculpa corrente é sobre a imposição de usos e costumes tão presentes em alguns corpos denominacionais, que abraçaram o legalismo desde o seu nascedouro. Contudo, nem mesmo esta crítica se mantém, na medida em que há uma gama de possibilidades e de opções. Sem fazer qualquer proselitismo denominacional, eu mesmo faço parte de uma denominação que abomina os tais usos e costumes, os legalismos , alicerçando-se na Palavra de Deus, sem quaisquer muletas.
Não nego que as denominações tendem a piorar, exatamente porque se afastam em ritmo acelerado das Escrituras, anunciando um "outro Evangelho" tão bem definido pelo apóstolo Paulo como anátema. Mas há exceções. Sempre há. O apego deve ser ao Evangelho verdadeiro, à pregação honesta e propositiva, à fiel interpretação da Palavra, quando se escolhe um grupo qualquer, a fim de exercitar a convivência e comunhão. Certamente que o caminho não é mesmo o isolamento e a crítica generalizada, desprovida de ações concretas para o crescimento do Reino.
Amo a minha igreja muito além de um simples apego denominacional. Amo-a porque lá encontro irmãos a quem posso abraçar, rir e chorar; dividir momentos de alegria desinteressada. Lá posso adorar em contato com outros, em coletividade, sendo um ser relacional, assim como o próprio Deus o é. O Criador se relaciona comigo , antes disso se relacionando consigo mesmo, em sua perfeita Trindade, quando ainda o Espírito de Deus pairava sobre o abismo.
Quero cada vez mais voltar-me para a igreja local, participando das suas lides cotidianas, dos seus labores, do Culto, da pregação, do riso, do encontro semanal, da conversa que sucede o Culto, do cântico alegre, da oração...
Tentarei fugir das discussões estéreis, da mesmice, da repetição sobre temas cujo consenso é impossível, por se apoiar em subjetividades, conjecturas, achismos. Que eu seja capaz de calar quando a resposta não estiver contida nas Escrituras; que eu possa, ainda nesses momentos, ter a minha opinião (e tenho), mas sem cometer a temeridade de querer julgar a Deus, ou impor a Ele uma culpa que é minha. Por isso mesmo anseio por valorizar a igreja local, onde tenho a certeza de que a busca é ainda pelo Evangelho simples. Pretendo dedicar-me ao serviço de Deus com os poucos dons que me foram dados por Ele.
Até que reste um grupo com o qual eu possa me reunir em adoração, onde a heresia não tenha penetrado, onde os membros queiram apenas adorar simplesmente, lá eu estarei, com a graça de Deus. Pretendo ainda, por longo tempo, exercitar a comunhão com os meus irmãos, especialmente se, para isto, puder me reunir com eles em um espaço denominado igreja visível.
1 Comentário:
Muito bom! Fez-me lembrar:
"Viver com os santos nos céus, oh que glória. Viver com os santos na terra... isso é uma outra história"
Tempos difíceis...
Estou escrevendo um livro intitulado:‘O berro da ovelha’. Postei uma pequena parte no meu blog: http://destilardosfavos.blogspot.com/2011/01/o-berro-da-ovelha.html
Grande abraço. Louvado seja Deus pela Sua misericórdia que se renova a cada amanhecer.
SOLI DEO GLORIA!
Regina Helena
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