quinta-feira, 17 de março de 2011

O "velho" e o "novo" calvinismo



Um assunto tem chamado a minha atenção ultimamente, mas confesso não ter uma profunda compreensão dele: o chamado "novo calvinismo". Contudo, lendo um ótimo texto do Allen Porto no blog 5calvinistas resolvi dar um pequeno mergulho nesse movimento, até mesmo para ter capacidade para discuti-lo, a fim de rechaçá-lo ou abraçá-lo.

Não sou avesso ao "novo" como alguns o são. Não gosto de nutrir preconceitos sobre qualquer coisa e evito ter ideias pré-concebidas, que, nas mais das vezes, leva ao erro grosseiro induzido pela pressa. E é com este pensamento "liberal" que procuro entender o novo calvinismo, tendo como modelo um dos seus idealizadores, o Pr. Mark Driscoll.

Embora, como afirmei em epígrafe, não ser preconceituoso, confesso que a figura do Pastor Mark Driscoll causou em mim um certo impacto negativo, não pela teologia professada, mas pelo espalhafato da sua vestimenta - e aí tenho de reconhecer que o símbolo nem sempre define inteiramente a qualidade do objeto, da coisa ou mesmo da pessoa. Aquelas roupas descoladas, calças jeans rasgadas e desfiadas, camisetas coladinhas e decotadas, sei lá porque, me faziam imaginá-lo a la Marco Feliciano - e olha que eu tenho acompanhado ótimos blogs cristãos a defendê-lo.

Outra questão que causa um certo arrepio, não somente ligado à pessoa do Pastor Mark Driscoll é saber que o novo calvinismo, de certa forma, tem o seu berço na igreja emergente, esta, com cores pós-modernas. Entretanto, há de se reconhecer que tanto o Driscoll, quanto o movimento do novo calvinismo como um todo romperam com os emergentes, na medida em que estes, rumavam para o abandono da ortodoxia.

Obviamente, pretendo ler mais sobre esse novo calvinismo e ter substrato para compreendê-lo. É cedo ainda para fazer uma análise definitiva, que se mostraria apressada e até mesmo leviana. Porém, não posso deixar de expor um medo: o novo calvinismo não busca uma caricatura, ou estereótipo moderno para "alcançar" um nicho da sociedade, a juventude?

O marketing agressivo do evangelicalismo atual causa asco, o que explica o temor que tenho a respeito de um movimento que, de certa forma, pode estar associado a um marketing, ou estratégia de "crescimento", cuja direção pode ser que o novo calvinismo esteja tomando ou venha a tomar. Repito, é apenas o temor de alguém que ainda não compreende completamente o prefixo "novo" aplicado ao velho, honesto, bíblico e bom calvinismo...

Uma das características do Pastor MarK Driscoll - e me desculpem por citá-lo tanto, vinculando-o ao novo calvinismo - é afirmar-se culturalmente liberal, mas teologicamente conservador, como a sua própria igreja. E, de fato, as linhas dele são mesmo conservadoras, trazidas lá da 'old School', como a inerrância das escrituras, a solidez litúrgica no que se refere ao conservadorismo bíblico, etc.

Como eu disse no início, prefiro aguardar os acontecimentos a longo prazo. Olhar e avaliar, pois, como dizem os mineiros, "o tempo é que cura queijo". Eis que o tempo então mostrará se o "novo" se manterá com a pureza escriturística que se manteve o "velho".

Não há dúvida que o Evangelho, por ser transcultural (termo apreciado por eles), pode ser pregado de várias formas, desde que não descaia para a irreverência. É difícil aceitar um culto irreverente, pelo menos para mim. Nesse ponto, lembro-me do posicionamento de um pastor batista a quem admiro e aprecio, o Pastor Izaltino Gomes Colho, que, na sua igreja, não admite "gorros", "bonés" e coisas semelhantes, especialmente com aqueles jovens envolvidos com a música. Eu também não gosto de gorros e bonés a saltitarem no púlpito. Pela ótica do evangelicalismo atual, devo ser considerado chato, retrógrado e quadrado. Pois que seja.

Enfim, se o prefixo "novo" não significar rompimento com a verdade escriturística, irreverência e caos; foco demasiado em crescimento denominacional e ecletismo irracional, que venha o novo calvinismo.



16 comentários:

Heitor Alves disse...

Caro Ricardo,

Também tenho me dedicado a ler mais sobre o tal Novo Calvinismo. Eu achava que o Neocalvinismo holandês e o Novo Calvinismo eram a mesma coisa, mas não é.

Parece que a proposta do Novo Calvinismo não é novidade aqui no Brasil, pelo menos em algumas das propostas. Por exemplo temos a Igreja Bola de Neve que prega que a igreja precisar ser como o mundo para conquistar o mundo. Parece que é mais ou menos isso que o Novo Calvinismo tenta introduzir.

Vamos esperar, então, quais são as intenções desse movimento.

Abraços.

Esli Soares disse...

Ricardo,

Parabéns um cara velho como vc se interessando por algo novo, me da a certeza que "cachorro velho aprende truque novo"... hehehe

Tenho visto tudo isso com bons olhos, mas com os 2 pés atrás. E não vou me aprofundar no assunto (novo-calvinismo), sabe ainda tem muito do velho evangelho que não conheço!!!

Abraços, amigão

Em Cristo
Esli Soares

p.s: Por aqui continuo eu a usar calça jeans surrada, camisetas descoladas e barba sempre por fazer!!!

Ricardo Mamedes disse...

Heitor,

Pelo meu parco entendimento sobre o assunto, parece poder ocorrer coisas boas e não tão boas, advindas do movimento (novo calvinismo). E a minha preocupação é esta, retratada pelo texto.

Pra dizer a verdade, eu fico com um pé atrás com "fórmulas revolucionárias" que, no fundo, usam apenas "roupagem nova", sem revolucionar coisa alguma, a não ser na superfície. Parece, nesse sentido, propaganda enganosa.

Está sumido rapaz! Aliás, estamos sumidos, reconheço. Mas uma coisa é certa, é muito bom tê-lo por aqui novamente!

Grande abraço!

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Esli,

E aí velhinho, tudo bem? A questão central não é se usamos calças jeans surradas, camisetas descoladas, etc. Mas usar esse estereótipo como estratagema, ou, como técnica, para implantar algo "revolucionário", que de revolucionário nada tem.

Então, de tudo isso, fica um gostinho de fraude, ou de propaganda enganosa, sei lá. É apenas a impressão. Como disse, não sou avesso a mudanças, mas que seja completa e denifitivamente honesta nos seus argumentos, sob pena de soar falso.

Abraços meu amigo!

Ricardo.

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

bastante equilibrado o seu texto.

Também tenho os meus pés atrás, como bom mineiro, diante de qualquer "novidade". Muitas vezes, o que há é repaginação, nada de novo, e por baixo da aparência se esconde algo já visto e bastante familiar.

Em princípio, gosto das pregações do Piper e do Driscoll; e fico pensando o porquê de se adicionar ou acrescentar a uma pregação bíblica algo que não seja bíblico, como shows musicais, apresentações teatrais, danças, etc. Não vemos orientação na Escritura quanto a esse procedimento; lá é-nos dito que o evangelho deve ser pregado [Rm 10.14-16].

Alguns dirão que é necessário contextualizar com os novos tempos, mas já à época do Senhor Jesus e dos apóstolos havia tanto música, como danças, teatros, recitais, etc. Isso não foi inventado no sec XX. E não se vê o Senhor e os seus discípulos utilizando-se de outro método para a proclamação da palavra: a pregação.

Uma coisa é o Evangelho influenciar a socieade, levando-a a ser santa e a glorificar a Deus; outra coisa é utilizar-se de práticas do mundo [normalmente, entretenimento] para se proclamar o Evangelho. Quanto a isso ser feito fora da igreja, não vejo problemas. Quanto a ser feito na igreja, me parece um problema.

Porém, como você, estou esperando o desenrolar dos próximos capítulos para me posicionar claramente. Mas uma coisa é certa: pelos frutos, conhecereis a árvore. Se com o "novo calvinismo" tivermos uma igreja mais forte espiritual e doutrinariamente [firmada nos princípios bíblicos]; e cristãos que sejam exemplos na sociedade e não escândalos; e uma sociedade ética e moralmente bíblica, Deus será glorificado; do contrário... Interessante que não vejo disposição em se seguir o exemplo de João o Batista, que não tomava vinho, nem se vestia ou frequentava lugares "fashions". Da mesma forma que espero que cada um siga o seu exemplo: É necessário que Cristo cresça e que nós diminuamos.

Grande abraço, meu irmão!

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Jorge, meu irmão camarada!

Que bom ler novamente esses excelentes comentários, que sempre vêm para complementar o texto, senão para melhorá-lo. Concordo com tudo o que você disse. De fato, é preciso saber se a "roupagem" que se quer dar ao Evangelho não é com o intento de fazê-lo mais palatável. Se for, que seja anátema , parafraseando Paulo.

Quanto ao John Piper, vejo uma diferença abissal dele para com o Driscoll, seja na forma de se comunicar, ou mesmo no aspecto estético. Enxergo uma profundidade teológica muito maior no Piper, ainda que o Mark Driscoll também seja bom.

Por outro lado, até onde sei, o berço teológico do John Piper nunca passou pelo movimento da igreja emergente (pode ser que eu esteja enganado), já que a igreja onde ele pastoreia nos USA é bem tradicional e conservadora.

Mas o negócio é mesmo observar. E você, como bom mineiro que é, entende muito bem de "queijo e de tempo para curá-lo" (hehehe).

Grande abraço meu irmão, e que Deus nos abençoe a todos.

Ricardo.

Heitor Alves disse...

Ricardo,

Não estou totalmente sumido. Eu apenas estou sem tempo para comentar, mas tenho recebido por e-mail suas postagens e visitado. Geralmente tenho mais tempo para comentar aos finais de semana.

Abraços.

Unknown disse...

Ricardo e demais irmãos, saúde.

É bom lembrar que o "velho" calvinismo um dia também foi "novo". Na minha concepção, pouco importa o título ou a forma, o que define é o conteúdo.

Um calvinista que anda de skate e curte rap, mas que é doutrinariamente fiel, na verdade é um velho calvinista, ou simplesmente calvinista.

Como o novo calvinismo é realmente novo, é difícil defini-lo e distingui-lo totalmente. O conceito ainda está em formação.

Se o movimento trouxer apenas diferenças estéticas e culturais, não vejo problema algum. Trocar órgãos antigos por guitarras e baterias é pura contextualização.

Agora, se trouxer mudanças teológicas (como o carismatismo de alguns que afirmam ser neocalvinistas) então não é um novo tipo de calvinismo, mas uma apostasia do calvinismo e, consequentemente, do próprio cristianismo.

Como dizia Spurgeon, o calvinismo é apenas um apelido do Evangelho. Por essa lógica, o neocalvinismo é um novo Evangelho, e novo Evangelho deve ser anátema.

Helder Nozima disse...

Ricardo,

O Driscoll não é o único, e nem o maior referencial do novo calvinismo. O maior seria John Piper. Mas pode incluir Albert Mohler, C J Mahaney, Mark Driscoll, Wayne Grudem, Tim Keller e outros.

Para saber mais: http://gracasoberana.wordpress.com/2011/03/17/novos-reformados-quem-sao-e-o-que-representam/#comment-77

Graça e paz do Senhor,

Helder Nozima
Barro nas mãos do Oleiro

Ricardo Mamedes disse...

Tiago,

O "velho" calvinismo um dia também foi "novo", é verdade. Mas nunca se definiu como novo, a fim de revolucionar o calvinismo anterior, como parece ser agora.

Nada contra o calvinista que curte rap, eu mesmo gosto de alguns. Quanto a skate, já estou meio velho para praticá-lo (hehehe). Enfim, eu, particularmente, não tenho esse tipo de preconceito infantil, como ficou bem claro no texto.

Nada também contra a "contextualização", portanto, se o "novo" se referir a apenas isso, tudo bem ( o meu texto faz também essa referência). Porém, as propostas podem ser sutis, por isso a necessidade de observar bem.

Com relação à sua lógica, não concordo com o raciocínio, especialmente com as premissas (sofismáticas), pois o neocalvinismo não necessariamente tem de ser um novo evangelho, até mesmo considerando o sentido integral do seu comentário.

Grande abraço,

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Helder,

Obrigado pela dica e pela indicação do link. Vou ler.

Mesmo não tendo me aprofundado no assunto, sei que o Driscoll não é mesmo o único representante do novo calvinismo. Entretanto, acho que é a face mais visível (e vistosa) dele, especialmente pela juventude - e aí reside o motivo das minhas referências estéticas.

Sinceramente, no sentido estético, pelo menos, vejo uma profunda diferença entre o Piper e o Driscoll. Teologicamente nada tenho contra nenhum deles, pelo menos até o momento. Aliás, devo ressaltar apreciar demais as pregações do John Piper, cosiderando-o um firme defensor do Verdadeiro Evangelho.

Abraços e obrigado pela visita.

Ricardo.

Unknown disse...

Ricardo,

O velho calvinismo, quando era novo, não tinha intenção de revolucionar o antigo, simplesmente porque não havia um antigo. Mas ele revolucionou o que era entendido como cristianismo.

Sobre a lógica, é uma lógica Spurgionista. Se o Calvinismo é o Evangelho, o neocalvinismo é um novo evangelho. E novo evangelho é anátema. Se discorda das premissas, não está discordando de mim, mas de Spurgeon. Só emprestei a premissa dele.

Quanto ao skate, nunca é tarde para começar...

Romulo disse...

Amados irmãos, é claro que precisamos ter reverência com o nosso Deus. Porém o Senhor não está preocupado com a aparência (pro boné que vc ta usando, pra calça jeans rasgada, etc) Ele olha para um coração sincero, que está sempre disposto a agrada-lo apesar de eventuais quedas. O que acontece com muitos(inclusive comigo) é que muitas vezes ficamos preocupados com a religião(que é maligna) em vez de se preocupar com Jesus, que na verdade é o motivo de tudo. Cristianismo é isso, o que Jesus FEZ por nós e não o que nós fazemos ou deixamos de fazer. Então gostaria que assistissem esse video do Pr Mark Driscoll e entenderá do que eu estou falando, se já não entendeu. Fiquem com Deus

Romulo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=jZ9V7YqINe4

Ricardo Mamedes disse...

Romulo,

De maneira alguma eu estou superdimensionando a estética sobre o conteúdo, basta ler o texto. O que eu afirmo é um certo medo a respeito da valorização do marketing sobre a evangelização, proposta pelo novo calvinismo. Nesse diapasão, é óbvio que eu não estou desenhando a caricatura do movimento pela figura jovial e descolada do Driskoll, mas pela proposta efetiva que o novo calvinismo traz. Repito: prefiro esperar para dar a minha opinião definitiva.

Obrigado pela visita.

Ricardo.

José Rubens Medeiros disse...

Sugiro o vídeo "QUE AMOR É ESTE?", de Dave Hunt, disponível no Youtube.

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