domingo, 20 de março de 2011

Lembranças , lamentos e um novo dia


L


A vida é boa, bela e difícil. Assim como contraditórios somos todos nós. Ora somos bons, solidários e generosos e em outros momentos deixamos aflorar sentimentos dos quais não nos orgulhamos, fazendo-nos lembrar que a natureza pecaminosa está ali, latente, aparentemente "morta", mas bem viva, pronta a aflorar.

Quando acordamos para a vida cristã, quando somos efetivamente tocados por Deus por intermédio da sua maravilhosa graça, adquirimos a capacidade de enxergar os nossos defeitos e somos então confrontados com os nossos pecados, mesmo os mais íntimos. As nossas máscaras cuidadosamente desenhadas e meticulosamente cultivadas acabam por serem retiradas, instante em que nos deparamos com as nossas verdadeiras feições. E a transformação se inicia, a redesenhar uma nova criatura, a ser reconhecida pelo Eterno como filho adotivo em Cristo Jesus.

Entretanto, a contradição ainda se faz presente em nosso ser, porque, ainda que em processo contínuo de redenção, depois de alcançados pela graça salvadora, continuamos longe da perfeição. Ao invés de andarmos firmes e eretos, caminhamos ainda recalcitrantes, meio que trôpegos, caindo e levantando. Somos lembrados, com isso, que a força não está em nós mesmos, não é inerente ao nosso ser, mas emprestada daquEle que nos criou e depois nos salvou. Estamos no longo processo de reconstrução, cujo Construtor nos redesenha da forma que melhor lhe apraz. O barro vai sendo moldado conforme a vontade do Oleiro.

Em meio à difícil caminhada ganhamos e perdemos. Caímos e nos levantamos. Por vezes cambaleantes, outras novamente firmes. A promessa porém, a certeza maior e mais significativa é que alcançaremos a reta final e não ficaremos caídos pelo caminho. Isto porque somos alimentados pelo amor daquEle que nos salvou, introduzindo -nos esse combustível e alimento a nos impelir para a frente, sempre para frente, sem retroceder jamais...

Ganhamos, ao longo da caminhada, inúmeros irmãos, que se transformam em verdadeiros amigos. E eis que a trilha, antes palmilhada penosamente só, se enche de mais e mais pessoas, em cuja comunhão é possível enxergar a face de Cristo. À sombra do Salvador e por ele embalados entoamos, todos juntos, hinos de louvor e glória, e ação de graças.

Contudo, em algumas dessas vezes, enquanto caminhamos juntos , tentando aprender mais do Eterno, deixamos que a outra sombra se transforme em treva densa e somos eventualmente tragados. Mas a certeza é que seremos ajudados, pois as mãos que nos foram estendidas outrora ainda continuam a se oferecer, em constante auxílio.

É doloroso perder a amizade de irmãos que se transformaram em amigos, porque deixamos aquela sombra tragar a beleza do relacionamento de outrora; a camaradagem erigida em longas e aprazíveis conversas. A má compreensão dos motivos do outro, o ser incompreendido nos próprios motivos; a conversa mal explicada, a convicção duramente afirmada; tudo impelindo para o rompimento. Junto, vem a tristeza e a incapacidade de recuperar algo perdido, porque não é possível identificar o motivo específico a quebrar a confiança e a levar à tristeza e ao distanciamento final.

Resta-nos agora usar a experiência que adquirimos ao longo da caminhada com o Mestre. O novo "ofício" aprendido nos capacita a reconstruir o que foi destruído. Construímos pontes sobre as valas abertas a fim de que o terreno seja religado, fazendo com que o fluxo seja novamente restabelecido. E o fluxo - que corre sob as pontes - é contínuo e calmo, formado por límpidas águas que fluem de um rio. E esse rio é Cristo.

A certeza final e imorredoura é que há tempo para tudo debaixo do sol: tempo para rir e tempo para chorar. Tempo para construir e tempo para reconstruir o que as intempéries destruíram.

Honra e glória a Cristo, e que estejamos aptos a aprender com ele hoje e eternamente.


5 comentários:

daladier.blogspot.com disse...

Parabéns por sua postagem. Um bálsamo para a alma. Um devocional maravilhoso.

Ricardo Mamedes disse...

Daladier,

É um prazer recebê-lo por aqui. O texto é mais um lamento mesmo. E um reconhecimento explícito de que somos cuidados, ainda quando tudo parece conspirar contra.

Grande abraço e que Deus o abençoe abundantemente na vida em geral e no ministério em particular.

Ricardo

Unknown disse...

Amado,
como sempre palavras que consolam e orientam nossa alma.
O maior inimigo para manutenção aprazível do amor é nossa soberba. Ela, sempre espreita à cada convicção, pronta para nos fazer chorar... e muitas vezes sem a possibilidade do resgate.

Santo é o nosso Deus que nos permite aprender sendo quem somos.

Um grande abraço e minha admiração.

Ricardo Mamedes disse...

Paulo, meu irmão,

A soberba realmente mata Cristo em nossas vidas. E é preciso que cuidemos atentamente, pois a tendência da nossa natureza é sempre para o mal.

Como sempre, é uma honra tê-lo por aqui com os seus sábios comentários.

A admiração é recíproca. Que Deus nos abençoe a todos!

Ricardo.

Esli Soares disse...

Amigo Ricardo,

Compartilho da mesma tristeza, da mesma fraqueza e da mesma certeza que vc nesse texto...

Somos assim e mesmo assim e inclusive nisso, somos usados por Deus... honra e glória Ele.

Nele, um cordial abraço.
Esli Soares

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