O tempo
1 Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: 2 há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; 3 tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; 4 tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; 5 tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; 6 tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; 7 tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; 8 tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.
(Eclesiastes, 3.1-8)
Tempo. Tudo gira em torno desse 'personagem' intangível, mas que constantemente nos assoberba sobremaneira. Olhamos para a frente, vislumbramos então o futuro. Volvemos o olhar para trás e lá está o passado a nos contar a história das nossas vidas. Vidas que se cruzam, se entrelaçam, se entrechocam. O presente é fugaz, tão ou mais intangível do que o próprio tempo. Quase que num átimo - esse suspirar de tempo - perdemos o momento de agora, que nos escapa por entre os dedos.
A nossa existência é também regulada pelo transcorrer do tempo, que flui inexoravelmente. Tempo e existência também a se entrelaçar... E eis que fazemos os nossos projetos, urdindo e construindo sonhos, uns que se realizam e outros que jamais se realizarão. E o tempo fluindo, fluindo, deixando as suas marcas e as suas cicatrizes em baixo relevo nas nossas peles.
Nos consideramos "donos" do tempo, quando afirmamos peremptoriamente que "amanhã faremos isto ou aquilo". As nossas agendas se "sentem" quase como proprietárias desse garoto soberbo. Projetamos as nossas vidas de acordo com aquilo que almejamos, "construindo" o caminho a ser trilhado. Quanta ilusão...!
Queremos nutrir ilusoriamente essa estranha capacidade de autodeterminação, como se fôssemos capazes de ter o senhorio pleno sobre as nossas vidas. E nem sequer somos capazes de determinar o próximo segundo que virá após o último exalar de ar dos nossos pulmões. Não sabemos o que virá depois do próximo piscar de olhos: pode ser que eles nem mesmo voltem a piscar, paralisados, tendo captado a última imagem gravada na íris. E nem mesmo esta derradeira imagem permanece, posto que se desvanece, dando lugar à escuridão fria.
Entretanto, o tempo corre a nosso favor, flui doce e suavemente quando cultivamos a certeza inabalável de que ele não nos pertence, quando olhamos além dele para a eternidade. Reconhecemos que somos peregrinos, forasteiros neste mundo e que nada nos pertence de fato. Tomamos emprestado do Criador o próprio tempo, que nos é dadivosamente fornecido. Resta-nos agradecer a Ele pelo empréstimo, a cada amanhecer. E, ao anoitecer, voltar-nos novamente para o Eterno em novo agradecimento e súplica, para que nos conceda, por pura misericórdia, um pouco mais desse fluir.
Nascemos, crescemos, casamos, temos filhos - uns sim, outros não - , envelhecemos e morremos. Tudo minimamente medido. Enquanto isso, o tempo, senhor inexorável das nossas vidas, é ordenado por Deus. Ele próprio (o tempo) a exaltar a grandeza do Todo Poderoso.
O que é o homem, em toda a sua arrogância e soberba? Diz o salmista: "Pois Ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó. Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece (...) (Salmos 103.14-16).
Quanto a mim, sinto-me realmente 'grande' quando reconheço a minha pequenez. Apropriando-me das palavras do apòstolo: "Sou forte, quando sou fraco". A coragem, quando a tenho, manifesta-se no temor ao Senhor, Deus meu.
Pobre homem sou, quando me agarro ao meu próprio senhorio: "O homem é como um sopro; os seus dias, como a sombra que passa" (Salmos 144.4).
"Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado; a sua grandeza é insondável" (Salmos 145.3). Eu sou apenas como o vento fugaz, que passa rapidamente, dando lugar à calmaria.
Louvado seja o Eterno Deus, dono do tempo, Senhor da minha vontade, mantenedor da vida e Criador do homem, do universo e de tudo que há 'debaixo do sol'.
15 comentários:
Ricardo,
gosto, e gosto muito de textos assim, poéticos, filosóficos e bíblicos. Acho que esse é o "mix" mais próximo da perfeição, ao estilo das doxologias de Paulo, como se expusesse as entranhas e dissesse: nada me alegra, nem me agrada, se não for para a glória de Deus.
Cristo o abençoe!
Forte e grande abraço, meu irmão!
Jorge,
Que seja tudo para honra e glória do Criador. Eu quero poder, cada dia mais, exaltá-Lo e glorificá-Lo com palavras e, principalmente, com ações. Porém, sabendo que sou fraco, sempre recaindo em pecados, mesmo não querendo.
Gosto das doxologias mesmo, penso que nada que falarmos, mesmo do fundo do coração, em favor de Deus, poderá recompensar o que Ele fez e faz por nós desde a eternidade.
Abraços, meu irmão, e obrigado mais uma vez pela visita e comentário.
Ricardo.
É meu querido irmão...
Parece que este papo de 'tempo' tem incomodado muita gente.
Eu pessoalmente odeio a sensação de estar sempre esperando que amanhã poderá ser melhor que hoje.
Nesta brincadeira, nossas vidas estão escoando ralo abaixo. Amanhã poderá ser tarde demais.
Recentemente "re-postei" um texto meu antigo no blog que montei em conjunto com a Regina e a Adriana, falando sobre aquela ilustração, "O Burro e a Cenoura"...
Dê-nos o prazer de sua visita por lá!
http://cafecomleitecrente.blogspot.com/2010/08/o-burro-e-cenoura.html
Frote abraço!
JC
*poderá não, possa soa melhor... rssrs
**o segundo 'poderá' está certo, aff...
João,
Eu já estive lá e li os vários textos, aliás, muito bons. Logo, eu indico o blog (Café com crente) a todos quantos desejem ser edificados.
Pois é, o tempo parece ter sido criado por Deus para mostrar o quanto somos finitos e limitados e que precisamos dEle para tudo, até mesmo para existir.
Grande abraço meu caro!
Ricardo.
Mamedes,
excelente, apenas isto, exelente.
Que o Senhor seja engrandecido.
Em Cristo.
Mamedes,
não é apenas excelente, o comentário anterior está incompleto, é ainda edificante.
Só o Senhor é Deus.
Em Cristo
Paulo,
Muito obrigado pela visita. O Jorge me disse que você resolveu eliminar comentários do seu blog, o que considero uma pena. Os seus textos são sempre belíssimos, verdadeiras doxologias. De qualquer maneira, caso você decida mesmo por isso, verei lá o seu email para que possamos manter contato e estreitar os laços.
Quero escrever focado no Criador, para honrá-Lo e glorificá-Lo sempre! E imitar o irmão, naquilo que o irmão imita a Cristo.
Grande abraço e que Deus o abençoe!
Ricardo.
Ricardo,
quanto ao fato de retirar o comentário, foi em virtude de todas as vezes que ia até o blog, estava dando muita importância aos comentários. Estava esquecendo que o propósito dos posts era para o engrandecimento de Deus e não do meu coração.
Acredito que preciso resgatar a disposição adequada.
Minha admiração e grande abraço.
Em Cristo
Ricardo,
Atendendo a pedidos... cá estou!
Como o Paulo já disse aqui e em alhures (para citar nosso sumido amigo) eu já disse:
"Execelente e edificante", seus textos são muito bons.
No Amor do Senhor
Esli Soares
Olá Ricardo.
O Blog dos Eleitos indicou seu blog como um dos melhores blogs cristãos calvinistas. Abraços.
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Heitor Alves
www.eleitosdedeus.org - Site de Teologia Reformada e Calvinista
Esli, meu caro,
Que tudo que eu escreva seja sempre para honra e glória do Eterno!
Grande abraço!
Ricardo.
Heitor,
É uma grande honra ter essa indicação vinda de alguém como você, que demonstra dedicação inconteste à Palavra de Deus.
Espero ainda aprender muito com você e tantos outros irmãos, especialmente reconhecendo a grandeza e soberania de Deus em relação à mim e toda a criação.
Toda honra e toda glória ao Eterno!
Estou em falta com você, pois não tenho ido ao "Eleitos", mas brevemente retornarei com a leitura dos ótimos textos lá publicados.
Muito obrigado pela honra a mim concedida pelo irmão.
Ricardo.
Paulo,
Será que essa importância que damos aos comentários (e eu me incluo) tem a ver com vaidade? Ou apenas um sentimento de ter o seu escrito apreciado, com a certeza de que está atingindo a outros e proclamando o Evangelho de Cristo, a Palavra de Deus?
Eu acho que devemos nos fazer estas e outras indagações, a fim de nos armarmos contra o orgulho e a soberba que podem nos acometer. Se constatados tais sentimentos, aí sim, devemos cortar o mal pela raiz. Mas repito, não acredito que esse seja o seu caso, então torço para que volte a colocar comentários no seu blog.
Grande abraço meu irmão!
Ricardo.
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