sábado, 13 de agosto de 2011

Dons miraculosos: dom de cura



Tenho cá comigo as minhas certezas sobre os dons miraculosos para a atualidade, e elas se baseiam nas Escrituras Sagradas. Eu diria que tenho "os dois" pés atrás com relação aos curandeiros que se apresentam nas igrejas e na mídia televisiva, anunciando os seus "predicados", o poder que lhes foi transmitido, em tese, por Deus. Estou terminando de ler o livro "Os carismáticos" de John MacArhur Jr. e transcreverei abaixo um trecho, com o qual concordo. Volto no final para um breve comentário.

O dom da cura se foi - O Senhor continua a curar

O dom da cura era um dos quatro dons de sinais e milagres que auxiliaram a comunidade apostólica a confirmar sua pregação da mensagem do evangelho nos primeiros anos da igreja.

Uma vez completa a Palavra de Deus, os sinais cessaram. Não havia mais necessidade de sinais de milagres. De fato, há muitos exemplos bíblicos de como um apóstolo não usou o dom de cura a não ser como sinal poderoso que convencesse as pessoas da validez da mensagem do evangelho.

Em Filipenses 2:25-27 Paulo falou do seu bom amigo Epafrodito que esteve doente, à beira da morte, mas não morreu porque o Senhor teve misericórdia dele. Por que não simplesmente curou a Epafrodito? Porque Paulo não pervertia o propósito do dom para seus fins pessoais. O propósito do dom da cura não era manter os cristãos com saúde. Seria utilizado como sinal para os descrentes em épocas em que fosse necessário tornar efetiva a proclamação do evangelho.

Encontramos caso semelhante em 2 Timóteo 4:20 quando Paulo disse ter deixado a Trófimo doente em Mileto. Por que deixá-lo doente? Por que não curá-lo? Porque este não era o propósito do dom de curar (ver 1 Timóteo 5:23 e 2 Coríntios 12:7).

O dom de curar era um dom milagroso de sinal para ser usado com propósitos específicos. Não deveria ser usado por atacado como forma permanente de manter a comunidade cristã em perfeitas condições físicas. Mesmo no caso da ressurreição de Êutico (Atos 20:9-12), o milagre serviu para autenticar o apostolado de Paulo. Contudo, hoje em dia, carismáticos constantemente fazem declarações tais como: "Deus deseja a saúde de todo cristão".

Dale Bruner citou um carismático moderado que disse: "sobre toda doença paira... a vontade de Deus de curar". Os carismáticos querem crer que Deus deixou perfeitamente claro que é Sua vontade curar os enfermos. Se esta é a verdade, por que é que Deus permite que a doença comece?
Num mundo em que Deus não escolheu excluir o pecado, em sua vontade permissiva para o crente, por que deveríamos presumir que o sofrimento deva ser excluído? Se todo cristão estivesse são e saudável, se a saúde perfeita fosse garantido da expiação, milhões de pessoas estariam correndo em busca da salvação - pelo motivo errado. Deus quer que as pessoas venham a Ele em arrependimento do pecado e pela Sua glória, não porque vêem nEle uma panacéia para os seus males físicos (p. 143/144, Ed. Fiel, 4ª edição, 1998)

Estou de volta! Além de concordar com o autor, fico me perguntando por que a busca frenética por tais dons pelos carismáticos? Deixa-me a sensação de que o Evangelho não é suficiente para eles, que a sua fé necessita de algo "real", algo "palpável" para que seja afirmada e reafirmada dia após dia. Fica ainda a impressão que o desejo de poder leva-os a buscarem os dons miraculosos, a fim de que sejam observados e admirados, para que lhes sejam feitas "mesuras". A cura, por uma palavra emitida por alguém, ou um ato, confere grande poder de visibilidade ao "donatário". No entanto, o que vejo no meio dos carismáticos são pessoas frustradas, voltando para as suas casas tal como vieram: coxos, continuando coxos, cegos permanecendo cegos, aleijados com os seus aleijumes e por aí a fora. Nunca vi nascer um novo membro num aleijado, um paraplégico andar, um morto ressuscitar. O que vejo são enganos, má fé e mentiras. E doações. E pedidos de dinheiro.
A fé que eu conheço e que é explicitada pela Bíblia não se encontra num balcão de trocas. Cristo não está à venda, tampouco necessita oferecer algo para que o homem creia nEle. Ele apenas chama aqueles que já são seus e que foram dados pelo Pai, os quais prescindem de tais dons miraculosos.
Confesso não compreender essa busca "carismática", essa ênfase denodada que dão aos tais dons.
Do alto da minha insignificância e miséria humana, fico exclusivamente com o Evangelho puro e simples. Dispenso o dom de cura, de profecia, de línguas "estranhas". Deus sabe, que ainda que fossem atuais tais dons, eu solicitaria a Ele não doá-los para mim, porque, pelo que percebo, mesmo irreais, eles trazem soberba e jactância aos que dizem possuí-los.

Repito: Deus cura, pela intercessão da igreja, reunida como comunidade de Cristo - e somente assim, salvo melhor juízo.

12 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

o livro citado do pr. John MacArthur vai contra a corrente atual do evangelicalismo, onde cada vez mais os crentes são fisgados pela ideia de continuidade dos dons apostólicos. Há mesmo um movimento no Calvinismo que tenta corroborar o pensamento de que homens como Spurgeon, Lloyd-Jones e muitos outros, endossariam essa prática. É mais uma afirmação sem provas.

Como você, também pergunto: por quê? E, para quê? Seria uma fixação psicótica? O desejo de alcançar o "status" dos apóstolos? Ou simplesmente um "algo a mais" nos cultos e reuniões de adoração? Isso me cheira a soberba espiritual e, infelizmente, cada vez mais vemos crentes desfazendo-se de outros crentes com a falsa alegação de espiritualidade [o orgulho de possuir um dom extra].

Esses dons pouco ou nada têm servido para a proclamação do Evangelho, para a edificação da igreja, para a conversão de incrédulos. O que temos são pessoas que alegam algum dom espiritual, convence-se de um novo-nascimento, mas a sua vida e testemunho são escândalos para o Evangelho.

Eu mesmo cheguei a duvidar da cessação dos dons apostólicos, a cogitá-los para os nossos tempos [parece que há uma campanha em progressão entre os reformados e calvinistas para a aceitação de tais dons, e isso passa pelo "novo calvinismo", Piper, Driscoll e toda essa turma que parece estar perdendo o rumo], mas compreendi que esses "dons" têm trazido péssimos sinais consigo: a ignorância quanto a revelação especial, e a consequente falta de Cristianismo na vida dos crentes.

Podem dizer que estou sendo radical, que sou burro e antiespiritual, pouco me importa. O fato é que o poder de Deus [de transformar o velho em novo homem] não tem acompanhado esses dons. Com isso não estou dizendo que os não-cessacionistas sejam incrédulos. Não é isso. Tenho muitos como irmãos verdadeiros e sinceros. Estão errados, estão enganados, e quereria que se apercebessem do seu erro.

Parabéns, outro texto que assino embaixo.

Grande abraço, meu irmão!

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Obrigado por este excepcional comentário. Aliás você disse tudo, quase disse mais do que o texto - mais acertado. Concordo plenamente com as suas assertivas! Eu sempre tive a impressão que esses tais dons anunciados por aí como genuínos e atuais, nada mais fazem do que ensoberbecer aqueles que dizem tê-los. O livro em referência é muito explicativo sobre a não atualidade de tais dons miraculosos, especialmente de cura e profecia.

Se ser cessacionista significa crer que os dons miraculosos não mais são transmitidos a homens, então eu sou. Falo por experiência, por ver a fraude que eles são, e onde levam. Falo, principalmente, com base nas Escrituras e na boa hermenêutica.

Por outro lado, creio no poder de Deus para hoje. Creio que Deus, por intermédio da igreja e dos santos, cura, faz milagres; usa-os segundo a sua boa vontade e providencialmente. Tudo fazendo para o bem daqueles que O amam. Inclusive, usando o próprio mal e transformando-o em bem, de acordo com a profundidade do Seu saber.

De fato, o evangelicalismo atual quer valer-se de tais "poderes", não para exaltar a Deus, mas a eles mesmos, por esse humanismo horrendo que pregam. Que Deus tenha misericórdia deste mundo!

Grande abraço meu irmão!

Ricardo.

Clóvis Gonçalves disse...

Prezados Jorge e Ricardo,

Como pentecostal, creio na atualidade dos dons espirituais. Conheço e pondero os argumentos do MacArthur pró-cessação dos dons, mas humildemente os considero insuficientes. E também levo em conta seus questionamentos às práticas e intenções dos que alegam possuir o dom de curar, mas mesmo respeitando-os muito mesmo, não bastam para que eu deixe de acreditar em curas sobrenaturais hoje.

Experiências por experiência, eu as tenho, inclusive a de ter sido curado. Assim como já observei fraudes vergonhosas, testemunhei milagres que perduraram e que podem ser comprovados por exames médicos. Mas toda a minha experiência basta para validar uma doutrina bíblica.

Também tenho uma teologia que suporta os dons atuais. Vocês podem discordar dela e classificá-la como ruim. Para isso se basearão numa teologia que considerarão superior, tendo ela mesma como referencial.

Mas o que eu gostaria de ver é uma exposição bíblica e simples de que os dons cessaram. Não uma teoria sobre "sinal dos apóstolos" ou do "perfeito que viria", mas uma declaração positiva e uma exposição clara de que os dons cessariam com a morte dos apóstolos ou com o fechamento do cânon do Novo Testamento.

Se puderem me apresentar, irei considerar com a devida atenção e de mente aberta.

Em Cristo,

Clóvis

Ricardo Mamedes disse...

Clóvis,

Penso que a minha posição é diferente, eu diria que é "sui generis", talvez, ou, peculiar. Não sou cessacionista como o MacArthur, tampouco sou continuísta como a maioria dos que são. Deixe-me tentar explicar: Costumo dizer que o cessacionismo convencional limita Deus, no meu parco entendimento. Assim como entendo que o continuísmo convencional é simplista e perigoso.

Creio em milagres hoje, creio em curas hoje, feitas diretamente por Deus, por intermédio da igreja, da intercessão dos santos, por meio da oração dos crentes. Definitivamente não creio em curandeiros, aqueles que se arvoram a tal e saem anunciando um suposto dom de cura. Acredito que a oração pode muito "em seus efeitos", inclusive curar, repíto. Porém, tentando deixar claro, penso que o dom de cura como foi dado aos apóstolos, cessou. Não há mais, nesse diapasão, no meu entendimento, essa "delegação de poder", por assim dizer.

Posso dizer a você - e não gosto nem de anunciar isso, sob pena de ser entendido como "testemunho" - que tenho uma experiência pessoal com os resultados advindos da oração, o que pode ser entendido como cura. Por isso te digo, creio na oração dos santos, creio que coisas milagrosas possam acontecer por intermédio de tais orações, porém, sem estardalhaço, sem que os sujeitos se arvorem a titulares do "dom".

Com relação à profecia e línguas, tenho também as minhas convicções, e, dentre elas, a certeza que os adivinhos de agora nada têm a ver com os profetas de outrora, tampouco com o dom dos apóstolos. E as línguas não são "estranhsas" como querem a maioria dos pentecostais (glossolalia). Certamente Deus não usaria para edificação da igreja essa coisa extática pagã que muitos carismáticos propagam por aí, intercalando as suas "pregações" com grunhidos ininteligíveis. Penso que os livros de Atos ( cap. 2, 8, 10, 19) e 1 Coríntios (12 a 14) são claros a referendar este meu entendimento.

Enfim, compreendo que "novas profecias" somente fazem enfraquecer a fé dos crentes, causando confusão, posto que a suficiência das Escrituras é princípio a ser seguido.

Seja sempre bem-vindo, e saiba que você sempre abrilhanta a discussão, ainda que as suas convicções sejam diferentes das minhas. Mas vejamos até onde pensamos diferente.

Abraços!

Ricardo.

Clóvis Gonçalves disse...

Ricardo,

Creio que pensamos igual ou proximamente em alguns pontos. Também não creio em curandeiros e profeteiros, mesmo que se digam cristãos e sejam vistos como tais. Penso que há charlatões e obreiros fraudulentos demais soltos por aí. E também não creio que curas devam ser propagandeadas por si mesmas, como se fossem um fim em si mesmo. Creio que Deus cura sempre dentro de um contexto, e proclamar a cura sem tal contexto é perder o propósito divino para aquele caso.

Agora, creio na atualidade dos dons de curar. E creria mesmo se nunca tivesse visto uma cura, apenas pelo testemunho bíblico. Embora ele não deva e nem sempre seja alardeado, não deve ser proibido ou negado, sob argumentos extra-bíblicos.

Da mesma forma, creio no dom de línguas e no dom de profecias hoje. E é bem provável que divirjamos quanto às características desses dons, seja no tempo apostólico, seja hoje. Agora, se o dom de línguas de hoje não são iguais aos dos dias apostólicos, como era o daqueles dias?

Finalmente, sinto-me honrado em ser bem-vindo e considerado um irmão, apesar de diferenças tidas e mantidas na pneumatologia.

Em Cristo,

Clóvis

Ricardo Mamedes disse...

Clóvis,

Começo pelo final do seu comentário: você é considerado irmão sim, e dos quais eu tenho maior afeto neste mundo virtual, pois muito do que aprendi sobre calvinismo foi com o seu auxílio, lendo os seus posts e comentários no seu blog. E não é a primeira vez que digo isto, você sabe.

Já com relação ao seu questionamento, creio que o dom de línguas de hoje e dos tempos apostólicos é que não é bem compreendido, tanto atualmente, como também na igreja de Corinto. Veja que a glossolalia que foi levada àquela igreja era uma herança do paganismo, das religiões de mistério, trazidas pelos antigos costumes coríntios. Paulo admoesta-os à pratica do dom genuíno, que não aquele. O texto de Atos 2:4 é claro com relação ao dom de línguas como sendo idiomas humanos, idiomas estrangeiros, cujo entendimento era sobrenaturalmente passado aos interlocutores (o pregador e seus ouvintes). Não encontro qualquer referência bíblica que hermeneuticamente autorize o entendimento de que o dom de línguas possa ser confundido com glossolalia, seja em Atos ou em 1 Coríntios. E repito, acho esse entendimento tão perigoso hoje, como foi na igreja de Corinto no primeiro século da era cristã. Ademais, o dom de línguas somente foi tratado naquela igreja problemática, você sabe disto, onde havia soberba desmedida, sexualidade sem fronteiras morais, vícios de todos os tipos. Não era a toa que Paulo disse preferir falar "cinco palavras inteligíveis a mil não inteligíveis".

O que mais me causa estranheza é que a glossolalia, tal como defendida pelos pentecostais, além de não edificar a igreja, é repetida por todas as religiões pagãs ao longo do tempo, inclusive lá, entre os coríntios pré-cristãos. E, ainda hoje, pelos umbandistas, pelas religiões pagãs orientais e pelos católicos (carismáticos). Sei não Clóvis, mas acho que é algo que os carismáticos deveriam considerar e refletir à luz das Escrituras...

Por, fim, saiba que a honra é toda minha, em tê-lo aqui comentando.

Em Cristo,

Ricardo.

Clóvis Gonçalves disse...

Ricardo,

Sei que não mereço as palavras de apreço a mim dirigidas, e por isso tributo tudo ao nosso Senhor. E estando bem assentado nosso respeito mútuo e o fato de que estamos irmanados em Cristo, podemos prosseguir, concordando e discordando.

Permita-me pontuar suas considerações para melhor considerá-las.

"Já com relação ao seu questionamento, creio que o dom de línguas de hoje e dos tempos apostólicos é que não é bem compreendido, tanto atualmente, como também na igreja de Corinto".

Admitindo que o dom de línguas no Novo Testamento difere do dom pentecostal moderno, e tendo em mente que você não nega que tal dom possa estar em vigor hoje, você poderia me dizer como identificar o verdadeiro dom de línguas? Mas se você admite a atualidade desse dom apenas em tese e que na prática ele não é exercitado mais, não precisa responder.

"Veja que a glossolalia que foi levada àquela igreja era uma herança do paganismo, das religiões de mistério, trazidas pelos antigos costumes coríntios. Paulo admoesta-os à pratica do dom genuíno, que não aquele."

Essa importação da glossolalia pagã por parte dos coríntios nunca me ocorreu. Desconheço os argumentos históricos que apontem para esse fato, e agradeceria se me indicasse fontes para que eu iniciasse uma pesquisa sobre essa possibilidade.

Por outro lado, ficando apenas com elementos textuais, não vejo o menor indício disso. A referência a "ídolos mudos" de 1Co 12:2 deveria ser a ídolos enganadores ou que falam de forma mentirosa, em contraste com o "que fala pelo Espírito de Deus" (v.3). O contraste não é entre um ídolo que não fala com um Espírito que capacita a falar, inclusive em línguas.

Quando Paulo diz "eu quero que todos vós faleis em línguas" não as qualifica como "as verdadeiras" pois a ideia de línguas pagãs não está presente, nem implícitamente. E quando ele ordena "não proibais falar línguas" não adverte contra as línguas falsas presentes, mas "faça-se tudo decentemente e com ordem". Até onde posso ver, em nenhum momento Paulo questiona a genuidade do dom de línguas corintiano, mas repreende a forma errada de exercitá-lo e diz qual a maneira certa.

Clóvis Gonçalves disse...

"O texto de Atos 2:4 é claro com relação ao dom de línguas como sendo idiomas humanos, idiomas estrangeiros, cujo entendimento era sobrenaturalmente passado aos interlocutores (o pregador e seus ouvintes)"

Quanto a Atos 2, vou escrever de forma mais detalhada oportunamente. Por ora, apenas que lhe pediria que lesse o relato novamente, levantando temporariamente seus pressupostos, para determinar se realmente o dom de línguas aí era idiomas humanos.

"Ademais, o dom de línguas somente foi tratado naquela igreja problemática, você sabe disto, onde havia soberba desmedida, sexualidade sem fronteiras morais, vícios de todos os tipos."

Se isso prova alguma coisa, prova apenas que o dom de línguas não é evidência de santidade superior, nem de saúde espiritual de uma igreja. E isso todo pentecostal pensante admite e prega. Por outro lado, Paulo admitiu que a essa mesma "igreja problemática" não faltava nenhum dom (1Co 1:7), ou seja, qualquer o argumento levantado contra o dom de línguas atinge igualmente a todos os dons, inclusive o de apóstolo.

"O que mais me causa estranheza é que a glossolalia, tal como defendida pelos pentecostais, além de não edificar a igreja, é repetida por todas as religiões pagãs ao longo do tempo, inclusive lá, entre os coríntios pré-cristãos."

Os pentecostais não negam que a glossolalia, entendido como um falar extático, é um fenômeno observado em muitas religiões, inclusive fora delas. Novamente, isso prova o que? Lutero já disse que Satanás é o macaco de Deus, que procura imitar tudo o que é genuíno. O fato de existir alguma falsificação de algo prova duas coisas: que existe um original e que ele tem valor.

É virtualmente impossível apontar uma obra de Deus que não tenha um correspondente maligno e falso. Devemos por isso rejeitar a priori toda manifestação de dons, porque existe os que são falsos? Devemos jogar a criança junto com a água suja?

E sim, eu tenho considerado esse fato a luz das Escrituras.

Em Cristo,

Clóvis

Ricardo Mamedes disse...

Clóvis,

Até o momento você não me provou que o dom de línguas genuíno se trata de glossolalia ou língua extática. Você tenta provar que o dom de línguas não se trata de idiomas humanos, mas sem caracterizar o dom especificamente, sem defini-lo. E não o faz porque não encontra qualquer respaldo nas passagens bíblicas constantes de Atos e 1 Coríntios.

Resumindo, o que se pode apreender do grego, até onde pude pesquisar, é que em praticamente todas as passagens que se referem ao dom de línguas, usa-se, no original, glossa, e não glossolalia, que pudesse retratá-la como "língua estranha", tal como é considerada pela maioria dos carismáticos. Em sua obra, John MacArthur teoriza: seria então uma língua "especial para oração", ou expressões extáticas conhecidas somente por Deus? Não, pois em Atos 2, repito, fala-se em "outras línguas", e estas, conhecidas e inteligíveis. O mesmo autor assevera ainda que "no VT e NT, a palavra glossa é utilizada sempre com o seu sentido de linguagem humana normal, ou 'dialektos' (que pode ser colocada no plural), ao contrário de algaravia (que não admite plural, por ser inclassificável) - e eu concordo com ele. O mesmo se repete em 1Coríntios, nos capítulos 12 a 14, como também após, em Atos, nos capítulos 10:46 e 19:6. O mesmo ainda é comprovado quando Paulo usou o singular no Cap. 14 de 1Co, versos 2, 4, 13, 14 e 19, referindo-se à algaravia pagã, que estava sendo usada pelos coríntios, no lugar do verdadeiro dom, fazendo-o para admoestar os mesmos coríntios.

Pois bem, você poderia me perguntar: e 1 coríntios 14:27, quando Paulo usa aparentemente o singular? A resposta, segundo o autor, com o qual eu concordo, pelas minhas pesquisas, é que naquela oportunidade "Paulo fazia referência ao dom verdadeiro, mas mencionava um homem falando uma única língua que demanda uma forma singular".

Ora, fica evidente que em 1Coríntios 14 Paulo critica aquela deturpação do dom de línguas, quando os coríntios usavam o seu "dom" para falar com Deus (verso 2) e não com os homens, para a edificação da igreja, razão exclusiva dos dons. Ali há um sarcasmo sutil e cáustico de Paulo para com aquela igreja, que usava os dons para a exaltação do ego, tal como ocorre hoje.

A indicação de que Paulo se referia ao dom de línguas (glossa) como idioma humano, é também quando ele diz no Cap. 14:16-17: "E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois de tua ação de graças"?Visto que não entende o que dizes; porque tu de fato dás bem as graças, mas o outro não é edificado". É que ao falar em idioma desconhecido para "indoutos", ou ignorantes, estes não entenderiam (mais uma vez se usa o termo glossa, ou com esse sentido).

Então eu lhe faço um questionamento: o que especificamente é o dom de línguas? linguagem humana (glossa), ou balbucios extáticos (glossolalia), falados em transe, sem racionalidade? Espero a resposta e a prova bíblica, pois até agora você não conseguiu me convencer. Porém, se você me disser que não é nenhuma destas duas possibilidades, o que, de fato, é o dom de línguas?

Em Cristo,

Ricardo.

Clóvis Gonçalves disse...

Ricardo,

Em primeiro lugar, dupla desculpas. Por ter demorado em responder, e por não apresentar, ainda, uma resposta completa.

A fim de organizar nossa conversa, evitando digressão, vou tentar pontuar nossas diferenças, numa tentativa de resumo:

1. Concordamos que Deus cura hoje, mas eu entendo que os dons de curar não cessaram.

2. Discordamos quanto a natureza do dom de línguas, pois creio que não se trata de idiomas humanos.

3. Discordamos que o problema em Corinto era de "línguas pagãs".

Apesar da questão 1 ter surgido primeiro e ser o tema do post, gostaria de deixá-lo por último, se não se importa. Tratarei primeiro do item 2 e depois do 3, apesar que resolvendo o 2 o 3 meio que se resolve sozinho.

Sendo meio deselegante, gostaria de insistir numa pergunta que lhe fiz. Você crê que nos dias de hoje existem dons de línguas genuínos? Se sim, como identificá-los.

Em Cristo,

Clóvis

Clóvis Gonçalves disse...

Ricardo,

Paz seja contigo.

De forma resumida, MacArthur faz um jogo de palavra para parecer que Paulo estava combatendo uma falsificação pagã do dom de línguas em Corinto. Mas os termos utilizados não apoiam isso, mesmo porque glossa se refere ao dom de línguas em praticamente todas as ocorrências, excetuando-se refererência ao órgão da fala.

Quanto à distinção que ele procura impor entre glossa e glossais, respondo o seguinte:

1. Algaravia não é um texto bíblico e não há elementos textuais que glossa se refira a infiltração pagã;

2. Além dos versos mencionados por MacArthur há mais ocorrência de glossa no singular significando o genuíno dom de línguas. E há ocorrência de glossa no singular significando linguagem humana;

3. Nas ocorrências de glossa no singular, Paulo se refere ao fenômeno de forma positiva, e às vezes com aprovação, o que seria absurdo se se tratasse de uma manifestação pagã ou demoníaca;

4. A "regra de MacArthur" não se verfica em obras classicas e na LXX e

5. A mesma regra é ignorada pela maioria das obras de referência. Pessoalmente, só encontrei apoio em uma obra, mesmo assim carente de fundamentação.

Esses pontos são ampliados no artigo que publiquei no artigo "Falar em línguas: natureza e utilidade".

Em Cristo,

Clóvis

Hélio disse...

Ricardo,

Você acredita que Deus possa derramar do dom de línguas em um cristão que anunciando o evangelho em determinada tribo indigina possa, a titulo de exemplo, falar no dialeto local por divina inspiração do Espírito Santo?

Na denominação que frequento tenho ouvido diversos casos correlatos.

Um ministro da Testemunha de Jeová especialista em hebraico ouviu uma senhora de idade falando com ele neste idioma e perguntou aos irmãos da denominação que frequento quem havia lhe ensinado falar hebraico, posto que ela não tinha instrução alguma.

Responderam a ele que ela falava pelo Espírito Santo e a partir disto ele foi convertido ao evangelho do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo abandonando a religião o qual dantes pertencia.

Eu não entendo nada de chines, japones e tupi guarani, mas já ouvi pessoas próximas a mim falarem linguas que muito lembram esses idiomas pelo sotaque que entoavam e riqueza de vocabulário que matinham enquanto manifestavam esses idiomas.

Em regiões da Africa missionários da Congregação Cristã foram testemunhas oculares de que pessoas de certas tribos recebiam o dom de linguas manifesto em portugues. Falavam fluentemente nosso idioma sendo a lingua materna de cada um deles dialetos locais.

Mediante esses testemunhos é para se pensar quanto à validade desses dons na igreja.

Mas reconheço que abusos são cometidos pelos carismáticos, mas creio que isso não invalida o dom.

Se formos seguir por esta linha de raciocínio poderemos deixar de crer em Deus, uma vez que, existem aqueles que "em nome de Deus" cometem abusos tal como aqueles que "em nome do dom de linguas" acabam agindo de maneria similar.

Deus te abençõe

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