quinta-feira, 30 de junho de 2011

Mau, mas não hipócrita e aprendendo a amar




Vocês são o povo de Deus. Ele os amou e os escolheu para serem dele. Portanto, vistam-se de misericórdia, de bondade, de humildade, de delicadeza e de paciência. Não fiquem irritados uns com os outros e perdoem uns aos outros, caso alguém tenha alguma queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem uns aos outros. E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas. E que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Que a mensagem de Cristo, com toda a sua riqueza, viva no coração de vocês! Ensinem e instruam uns aos outros com toda a sabedoria. Cantem salmos, hinos e canções espirituais; louvem a Deus, com gratidão no coração. E tudo o que vocês fizerem ou disserem, façam em nome do Senhor Jesus e por meio dele agradeçam a Deus, o Pai. (Colossenses 3:12-17)


Dois extremos se entrechocam quando discussões afloram no meio evangélico: uns defendem uma passividade anormal e quase omissa em nome do amor; outros, por seu turno, defendem ideias e convicções de maneira dura, quase cáustica - e muitas vezes ácida.

Confesso que estou mais para o segundo grupo, porém, em franco aprendizado em direção a um equilíbrio mais condizente com os princípios que emergem do texto em epígrafe. Qual é a justa medida, quem pode dizer? Onde está o ponto de equilíbrio entre o amor e a verdade?

A hipocrisia é o fermento dos fariseus, vestindo-se de suavidade e ternura. Aqueles que se guiam pela falsidade, no mais das vezes, têm uma conversa melíflua, capaz de engodar o interlocutor. O engano vem em forma de piedade cristã, de imensurável amor. Esses tais costumam ser amados e são populares, pois trazem consigo maneirismos e afetação de grande civilidade. São educados, macios e escorregadios como serpentes, as suas primas mais próximas.

Prefiro os rudes, os casca-grossa, aqueles que, embora não polidos, não falseiam, tentando mesmerizar o outro com a sua conversa macia. Seja o sujeito um incrédulo assumido, ou venha ele travestido de cristão, as suas ardilosas tentativas de enganar com palavras de grande persuasão deixarão entrever uma certa falta de originalidade e de autenticidade. O falso, ainda que disfarçado de genuíno, jamais será perfeito: haverá sempre uma tonalidade discrepante, um não-sei-quê de inverossímil.

Desconfio de grandes mesuras, ou de servilismo, pois denotam falta de caráter. Também temo o demasiadamente hostil, a propagandear a sua hostilidade e truculência como marcas de elevada personalidade. Talvez o "busílis" seja alcançar o perfeito equilíbrio em dizer a verdade com amor, quando isto for possível. Mas amor verdadeiro, não treinado, nascido da profundidade do coração.

Os extremos são perigosos, reafirmo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, diria o meu avô. No meu caso, estou tentando exercitar a orientação dada por Paulo , muitas vezes suportando, mas nem sempre com amor. É tentativa e erro. Porém, para não romper com essa orientação, há uma classe de "cristãos" com os quais decidi evitar qualquer tipo de discussão: os liberais . Eles me causam urticária, com a sua grande afetação de sabedoria e profundidade. A manter qualquer conversação com os tais, corro sério risco de cometer o grave pecado da ira, dentre outros.

Há muito tempo venho pedindo a Deus que me conceda sabedoria para compreender o meu próximo, senão para amá-lo, pelo menos para não odiá-lo quando ele me persegue, armando ciladas ao longo do meu caminho. Há estes, e são os piores. No entanto, Cristo nos diz para amarmos os nossos inimigos e eu ainda não cheguei lá. Espero um dia chegar, mas tenho consciência das dificuldades, porque não sou bom - você também não é; nós não somos. Acompanha-nos a nódoa da queda, a macular indelevelmente a nossa natureza. Por isso não creio em uma teonomia exercitada por homens - mas isto é outra coisa.

A Deus, resta-me continuar pedindo a Sua intervenção contínua para amainar a minha natureza em processo de redenção. Tenho certeza que até alcançar a meta final continuarei necessitando das ricas misericórdias do Criador, do Seu amor incondicional e da sua fidelidade, para com este pecador contumaz.

Quem for bom que se habilite, ou que atire a primeira pedra.


7 comentários:

Paulo Brasil disse...

Ricardo,
mais um texto de qualidade inquestionável.
Força-nos a avaliar nossas condutas, conceitos etc.
Não consigo ver o amor apartado da justiça. Não o concebo abraçado à tolerância.
Acredito que a queda nos induza a percebê-lo a partir de nós mesmos em não a partir de Deus.

Um grande abraço.

Ricardo Mamedes disse...

Paulo,

Eis o calcanhar de aquiles: onde amor, onde tolerância, onde justiça? Eu também concordo contigo, eles devem caminhar juntos, ao contrário do que prega esse evangelicalismo hipócrita e mal intencionado de agora.

Concordo de novo com a sua assertiva final, aliás, muito bem elaborada: o homem é que se contaminou com a queda. Deus continua sendo Deus, todo-bem e todo-perfeito.

Estou lhe devendo uma visita, e de antemão peço desculpas. É que a correria está muito grande, aliado a isto, meu pai teve semana passada um aneurisma (cardíaco) e estamos às voltas com a cirurgia de ponte safena marca para a próxima sexta feira.

Aproveito e peço orações de todos os irmãos.

Grande abraço!

Ricardo.

Regina Farias disse...

Ricardo,

Mesmo sendo pacífica desde que me entendo por gente, sempre torci o nariz para gente de conversa muito adocicada, suave... Desconfio dos tais!

Obrigada pela abordagem 'tipo puxão de orelha' rss é uma das minhas preferidas. :)

Quanto a teu pai, oro pelo seu pronto restabelecimento!

Abs.

R

Ricardo Mamedes disse...

Regina,

Depois de muito tempo é bom recebê-la por aqui novamente. Confesso que eu não sou pacífico. Diria que sou menos intolerante hoje do que outrora - como disse no texto, aprendendo a ser melhor. Mas há coisas que ainda detesto, como hipocrisia, falsa piedade cristã. Quanto a puxão de orelhas, os meus puxões servem muitas vezes para mim, em primeiro lugar.

E obrigado pelas orações, conto muito com elas.

Grande abraço.

Ricardo.

Paulo Brasil disse...

Amado Irmão,

Visito sistematicamente seu blog, pelo prazer da leitura de seus textos.
E em parte por sua valentia sensata contrapondo-se à "teologia de plantão".

Minhas vindas aqui não exigem contrapartida - minha dívida de amor me constrange, e não se sinta constrangido por ir ou não ao meu blog.

Aproveito para acrescentar que a hipocrisia é tão combatida pelas Escrituras como falta de modos.

Creio que podemos ser firmes e ao mesmo tempo ter palavras temperadas.

Um grande abraço.

Não sei quais os problemas de seu pai, mas orarei por ele hoje à noite.

Ricardo Mamedes disse...

Irmão,

Eu tenho certeza que as suas palavras são verdadeiras, mas eu também visito sistematicamente o seu blog, não por contrapartida, ou dever, mas porque a profundidade do que você escreve me chama à leitura dos seus escritos. Sem contar o lado da prosa com um quê poético, cuja beleza estética é inconteste.

Quando digo que estou devendo uma visita é porque o seu último texto é excelente - cuja leitura eu indico - por isso o dever de ir lá e tentar, de alguma forma, contribuir - ainda que tudo provavelmente já esteja dito.

Grande abraço e conte com a minha admiração - sem hipocrisia e sem o politicamente correto.

Ricardo.

Regina Farias disse...

Ricardo,

Mesmo sem comentar, estou sempre por aqui...

Admiro vc e gosto muito do seu estilo literário. (Acho que já te disse isso rss)

Abs,

R.

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