domingo, 12 de junho de 2011

A fé de cada um...



Quando se fala em fé é possível observar manifestações diversas, cada um expressando a sua própria. Há perfis e perfis, de acordo com a crença que se adote, com a doutrina abraçada e principalmente, com a denominação a que se vincule. Ainda que sejam possíveis e aceitáveis tais diferenças, partindo do princípio que o homem é um ser social, mas com individualidade e identidade próprias, penso que deveria haver um limite bem definido entre o que deve ser aceito como fé genuína e as manifestações dessa fé.

Quem pode delimitar o que é bom e o que não é, o que é autêntico e verossímil daquilo que é falso, não somos nós, mas as Escrituras Sagradas. O conhecimento da palavra traça esse limite com clareza meridiana, impedindo que abracemos heresias e apostatemos. A Bíblia deve ser a única bússola a nos guiar, a única com poder sobrenatural capaz de nos impedir de cairmos no abismo, como cegos, guiados por outros guias cegos.

Não duvido da fé de ninguém e nem quero fazê-lo - tampouco tenho poder para tanto. Todavia, devo ter a capacidade de submeter as manifestações e as exteriorizações alheias com o manual que sigo: a Bíblia. Se em desacordo com ela, decido rápida e sumariamente que tal não serve para mim, para a minha família e para a minha igreja. Mas se ainda assim a igreja a que eu esteja vinculado abraçar tais manifestações baseadas na experiência pessoal , seguirei eu por outro caminho. É o que tenho dito e é o que farei.

Não há como medir a fé alheia. Ninguém possui a capacidade metafísica, sobrenatural, capaz de mensurar o que vai no coração do outro. A régua que mede a fé do homem pertence única e exclusivamente ao Eterno. Todavia, posso escolher o que está de acordo com as minhas convicções, estas, pautadas pelas Escrituras Sagradas.

No exato momento em que manifestações de fé poderosas desaguam em terreno pantanoso e escorregadio da experiência pessoal determinadas por frases do tipo "eu vi", "Deus me mostrou", "Deus me disse", ou "Deus me mandou dizer", volto-me humildemente para a Palavra e com ela fico. Eis que embarcar nesse tipo de aventura é por demais temerário, na medida em que ninguém pode autenticar a tal manifestação, afirmando que ela vem mesmo de Deus.

É horrendo o que temos assistido por aí, motivado pelo distanciamento da Bíblia e pelo abraçar de uma fé etérea e tão fluida. Os tais dons miraculosos são a desculpa para tudo de bizarro que se possa imaginar, e têm-se como bom, uma vez que, afirmam eles, a Bíblia os autentica. Difícil é saber se o dom manifestado por alguém vem de Deus ou das profundezas da sua mente carnal.

Se há novas revelações, quem pode me dizer qual é verdadeira e qual não é? Quem pode afirmar que uma vem de Deus e a outra não? Qual será a segurança do crente neste contexto tão perigoso, onde a linha tênue que separa a suposta verdade da mentira é invisível?

A Palavra de Deus expressa na Bíblia não permite que tais dúvidas permeiem as nossas certezas e levem a tamanha confusão. Na medida em que passamos a crer nas palavras de alguém como sendo um recado de Deus, ficamos abandonados à certeza do outro e a ele ficamos submetidos, deixando o Eterno em um plano mais longínquo (Romanos 1:25). A nossa dependência deve ser exclusivamente de Deus; não devemos jamais ficar expostos a homens, ainda quando se autodenominem de mensageiros de Deus, os tais profetas de nossos tempos. Tal como Lutero, não quero ver anjos, nem obter deles recados, pois dependo unicamente do Deus revelado.

É muito interessante observar, dentre tantas outras citações bíblicas sobre o assunto, o que Deus assevera no Livro do Profeta Jeremias 23:11-16:

"Portanto o seu caminho lhes será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados, e cairão nele; porque trarei sobre eles mal, no ano da sua visitação, diz o SENHOR. Porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o SENHOR. Nos profetas de Samaria bem vi loucura; profetizavam da parte de Baal, e faziam errar o meu povo Israel. Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra. Portanto assim diz o SENHOR dos Exércitos acerca dos profetas: Eis que lhes darei a comer losna, e lhes farei beber águas de fel; porque dos profetas de Jerusalém saiu a contaminação sobre toda a terra. Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do SENHOR."

Os movimentos "avivalistas" do século XX tiveram um grande impacto sobre a espiritualidade até ali conhecida e alimentada, quando se deu grande ênfase aos dons de profecia, línguas estranhas, curas, etc. E, na mesma medida em que se transformaram o culto em uma espécie de balbúrdia sem uma liturgia determinada, viram-se igualmente igrejas sendo transmudadas de templos em palcos de "show", a maioria de péssima qualidade. E por ali se veem rodopios, rosnados, saltos acrobáticos, gritos ensurdecedores, êxtases de todos os tipos. E revelaçoes aos borbotões. O culto racional, inteligível, dando lugar ao caos.

Há algum tempo li num blog por aí que "os crentes fracos, esses que acreditam em todo tipo de manifestação baseada na experiência pessoal, serão enganados e apostatarão. Provavelmente eles adorarão a criatura ao invés do Criador.

Infelizmente, é esta a recompensa que obterão aqueles que abandonam a Palavra, trilhando outrros caminhos, por mais belos e extasiantes que sejam.




1 Comentário:

Paulo Brasil disse...

Amado Ricardo,

como sempre gosto muto de teus textos, pela fluidez e clareza.

Neste parágrafos que selecionei, acredito que o Irmão não separou com clareza a fé objetiva (o que podemos perceber e avaliar) da fé subjetiva (o que vai no coração de cada um).

Mas como sempre fico a espera de sua abordagem mais particular.
"penso que deveria haver um limite bem definido entre o que deve ser aceito como fé genuína e as manifestações dessa fé"

"Não duvido da fé de ninguém e nem quero fazê-lo - tampouco tenho poder para tanto."

"Não há como medir a fé alheia. Ninguém possui a capacidade metafísica, sobrenatural, capaz de mensurar o que vai no coração do outro. A régua que mede a fé do homem pertence única e exclusivamente ao Eterno. Todavia, posso escolher o que está de acordo com as minhas convicções, estas, pautadas pelas Escrituras Sagradas."

Minha admiração

Paulo

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