Pequeno desabafo sobre grandes fraquezas
A vida cristã é uma caminhada longa, permeada de espinhos, uma trilha quase inacessível. Por vezes nos alegramos ao imaginar que a trilhamos bem, outras vezes, sequer acreditamos que ainda permanecemos nela, mais parecendo que pegamos o "atalho" que nos leva à via larga e bem pavimentada.
É doloroso, pelo menos comigo, observar que ainda estou a cometer velhos erros quase relegados ao esquecimento, conquanto pensasse que já havia ultrapassado essa "fase". Por quê? Por que ainda os cometo se tenho Cristo na minha vida e sinto-o constantemente a "acordar" a minha consciência outrora entorpecida?
E então me dou conta que a velha natureza está aqui latente, bastando um pequeno "cochilo" para que ela volte com a sua antiga sanha. Sinto claramente a batalha travada constantemente com esse "eu" teimoso, essa carne maldita, contaminada pelo pecado. Os erros de outrora aflloram, o "espinho" começa a latejar na carne, a fúria e a ira vencendo o equilíbrio e a temperança... E então penso, logo após a descarga, o rompimento do dique de emoções que escoam (e ecoam) pela boca em duras palavras: miserável homem sou!
Não é preciso que me digam nada, nem que seja confrontado com o pecado, passada a fúria, pois eu mesmo me encarrego de esbofetear-me, rugindo intimamente contra a intemperança. E não há tapa que doa mais do que aquele que damos em nós mesmos.
O pior de tudo é sentir que se retrocedeu na vida cristã, um sentimento de retorno à estaca zero que nos faz duvidar do caminho que antes seguíamos: - por onde sigo, é esta mesmo a estrada ou me embrenhei por estrada errada?
Por que não resisto ao latejar da ira se sei previamente que o resultado será amargo? Por que sentimentos sepultados, condutas dessarraigadas teimam em brotar dando ensejo ao antigo homem?
Novamente me dou conta que sou nada! Vejo claramente que o controle que pensava ter cai por terra diante da mínima provocação, quando abandono a dependência necessária, quando imagino que sou autossuficiente , esquecendo-me de recorrer à bondade e misericórdia do Criador. Nesses momentos, passada a tempestade - como agora - eu me envergonho profundamente de me declarar cristão. Aliás, quase chego mesmo a duvidar disso...
Quando busco o bem por minhas próprias capacidades, quando tento caminhar sozinho, tropeço, retornando à certeza de que a minha justiça não passa de trapo de imundície. E torno a me enxergar pequeno e miserável, e a imagem que vejo refletida no espelho da minha mente é feia , quase horripilante. Sou nada! Parece que todo o caminho longamente percorrido não passa de alguns insignificantes metros. Em alguns momentos, sinto como se tivesse andado em círculos, voltando ao ponto inicial...
O bem que quero não faço, mas o mal que não quero...
Há pouco li num blog de um amigo que é muito fácil debater aqui neste mundo virtual, pois, ainda que os ânimos se exaltem, há uma linha imaginária demarcada, que as pessoas não querem e sabem que não devem ultrapassar, salvo raras excecões. Na vida cotidiana é que o "fruto" será percebido ou não. É lá que os espinhos serão mais certeiros. E a resistência duramente conseguida pode ser, em um momento, destruída. Cedem os diques, prorrompem as águas a levar consigo tudo o que vem pela frente. E basta um único momento assim para nos trazer desânimo e incertezas
Passada a tormenta, ainda que desesperados, desanimados, desvanecidos, faz-se necessária a reconstrução.
Nesses momentos, o melhor é lembrar novamente dos conselhos do apóstolo: quando sou fraco é que sou forte, pois é na fraqueza que sou aperfeiçoado - ainda que duvidemos disso.
Quando a minha segurança está alicerçada nas minhas próprias forças, mesmo que inadvertida ou involuntariamente, Deus me faz lembrar que fora dEle tudo é efêmero, fugaz, etéreo. Eis que me volto para Ele pedindo misericórdia: tenha misericórdia de mim SENHOR!
10 comentários:
Eu amei esta postagem me vejo em parte dela e sei que muitos podem de ver nela também, vamos em frente...
Ricardo,
Você traçou o meu perfil direitinho rss
O maravilhoso de tudo isso é que quando a gente cai em si ainda há o conforto de que seremos aperfeiçoados.
Isso é misericórdia.
Excelente texto!
Abs,
R.
A propósito: excelente post!
Deus o abençoe grandemente em 2011, juntamente com sua família.
Em Cristo,
Clóvis
Adriana,
O perfil é aquele comum de pecadores, como eu mesmo. Muito obrigado pela visita e sinta-se sempre bem-vinda.
Ricardo.
Regina,
Se não fosse pela sua imensa misericórdia o que seria de nós todos? Ainda bem que não temos mesmo que merecer a salvação, pois, se assim fosse, ninguém a alcançaria por méritos.
Às vezes é preciso fazer um mea-culpa, esse reconhecimento nos ajuda a aperfeiçoar o que por nós não podemos, senão por Ele.
Abs.
Ricardo.
Clóvis,
Obrigado pela visita e que Deus nos abençoe a todos!
Ricardo.
Ricardo, meu querido...
Como costuma dizer a bispa Regina: Tem certeza de que não foi eu quem escreveu este texto?
Cara, é esta sensação (esta CERTEZA define melhor) de que sempre estamos aquém do que nós próprios gostaríamos de estar que nos mantém sob a maravilhosa GRAÇA de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Bem vindo ao clube da luta...
JC
Meu amado, e quem nunca se sente assim, tão cansado, exausto, carente de um sopro de paz?!
Mas disse Jesus: Tenho vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo (João 16.33) A nossa força vem do Nosso Senhor Misericordioso desde q nos levantantamos até qdo fechamos os olhinhos para dormir...ELE nos ampara e nos da forças todos os dias de nossas angustias.
Te amo!
Eu não sei usar a palavras, mas você as colocou todas aí pra mim!
E a parte que mais me apego é:
"Quando a minha segurança está alicerçada nas minhas próprias forças, mesmo que inadvertida ou involuntariamente, Deus me faz lembrar que fora dEle tudo é efêmero, fugaz, etéreo. Eis que me volto para Ele pedindo misericórdia: tenha misericórdia de mim SENHOR!"
Ótimo desabafo, ops, texto!
Abraço
Ricardo, tudo bem?
Excelente postagem, este seu texto como um todo demonstra uma diferença (se não for a única) nossa como Cristãos em relação ao mundo.
Porém, gostaria de comentar o trecho "eu me envergonho profundamente de me declarar cristão."
Meu irmão, uma das poucas coisas que não me envergonho nunca é de me declarar cristão, ainda mais diante de um erro, pois sabemos que somos miseráveis e que somente pela Graça somos salvos.
No mais, como já disseram, faço minhas suas palavras...
Em Cristo,
Rafael
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