quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sai pra lá capiroto!




Nada melhor para trazer o bom humor de volta - e que me desculpem a redundância - do que ouvir boas histórias. Principalmente histórias de "crente".

Confesso que andava meio acabrunhado nos últimos dias, querendo escrever algo, sentindo falta disso, mas a inspiração e a vontade definitivamente não floresciam. As teclas do computador queimavam os meus dedos. Eis que então recebo um telefonema do meu querido irmão Tairone, um cristão respeitável, tradicional (no sentido de manter-se na suficiência das Escrituras), conservador até as "raízes dos cabelos". Porém, outras qualidades compõem o caráter do mano, e uma delas é o bom humor, a grande capacidade de narrar histórias, contar "causos" . As narrativas são permeadas de um riso alegre e incontido, com a força de levar o interlocutor às gargalhadas, o que acontece comigo praticamente todas as vezes em que falamos, tanto pessoalmente como por telefone.

Pois bem, da última vez não foi diferente. Telefone toca, Tairone na linha, cumprimentos iniciais, amenidades tantas e lá vem ele com a sua história:

-"Ricardo, você nem imagina o que me aconteceu, fui convidado a participar de um culto numa congregação por um grande amigo e lá fui ter com ele. E chegando lá..."

Farei uma pequena interrupção para explicar que o meu irmão detesta misticismos. É um cristão estudioso, inteligente, com raciocínio bem elaborado e, principalmente, racional, na medida em que consegue exercer um cristianismo focado na Palavra e sem qualquer necessidade de "outras vestimentas", emocionalismo, êxtase, etc.

A narrativa segue seu curso, enquanto eu, imaginando o que viria, já começava a me divertir:

- "...Chegando lá já vi logo uma senhora sentada à frente no pequeno templo com um baita véu branco cobrindo-lhe o rosto, e então perguntei ao meu dileto amigo: - que negócio é esse, aqui vocês usam véu, como na igreja Cristã no Brasil? E o pobre, quase tão assustado como eu diz: "sei disso não!"

Olha, confesso que nesse momento eu já estava me dobrando de rir no telefone, somente de imaginar a cara de desgosto, susto e descontentamento do meu irmão. Lembrei-me que quando passei pelo reteté na minha antiga igreja ele me acompanhou todo o tempo, aconselhando, contemporizando e sempre tentando dar uma dimensão menor aos fatos. Mas continuemos:

"... Não sabe disso como? Olha lá a mulher com o véu na cabeça! Imagino que o Tairone pensava lá com seus botões: a igreja é dele, o pastor também, como ele não sabe explicar o véu? Mas vá lá - continuou ele em sua narrativa - "sentamos - e a mulher começou a andar na frente de um lado pro outro... pensei, isso vai dar confusão, esse negócio não está certo. O pastor pregando com todo aquele sobrenatural neopentecostal e a dita mulher do véu andando de um lado pro outro à frente."

A narração segue, enquanto eu, entre risos do meu lado da linha ia prevendo os acontecimentos. Prosseguindo, diz o Tairone:

"...Vi que o pastor foi ficando incomodado. Enquanto isso, um grupo de pessoas ia tendo as suas mãos ungidas, por uma espécie de óleo - e eu ficando mais e mais cabreiro. Eram os tais intercessores. Os sujeitos começaram a andar nos corredores, pegando um aqui e outro ali, abraçando e colocando uma das mãos na testa dos coitados e simultaneamente grunhindo e cochichando no ouvido da vítima por longo tempo."

Confesso que nesse momento eu já começava a passar mal de tanto rir, somente ao imaginar a cara engraçada do Tairone, todo sério, olhando aquela patacoada (e estou rindo muito nesse momento ao escrever isto). Prossegue então ele com a narrativa:

"... quando aqueles caras foram se aproximando de mim eu vi que poderia ser também uma vítima; certamente eu seria, e só de pensar nisso meu estômago se revolvia, o mal estar foi tomando conta de mim. E eles se aproximando... De repente me levantei de um pulo e saí quase correndo do "recinto", sem nem mesmo esperar o meu colega".

Caros amigos, aí eu não consegui mais me segurar, ri até não poder mais, construindo toda aquela cena hilária na minha mente: o Tairone correndo em disparada, escapando de ser todo lambuzado de óleo, enquanto cá comigo eu o via olhando pra trás desesperado, gritando e pedindo socorro (era só o complemento que eu criara na mente no ápice da história) e os "intercessores" na sua "cola", gritando pra que ele parasse pra ser ungido.

Ao fugir do "terreiro" ele me disse que não resistiu a olhar lá de fora, escondido atrás de um carro, à continuidade daquele teatro de péssimo gosto. Até que o seu amigo voltou. Ao retornarem à segurança das suas casas o Tairone passou uma descompostura no camarada acrescentando peremptório: " - não me chame mais pra isso!!!"

Moral da história: Pra encontrar o capiroto, basta ir a uma "igreja" desconhecida na companhia de um "crente" místico.

Ps: Querem saber de uma coisa? Foi muito bom, pois a história me fez rir muito, mudando completamente o meu humor (mas foi bom para o Tairone aprender que eu não exagerava quando lhe relatava as desventuras que passava na minha antiga igreja). Hehehe.

13 comentários:

Esli Soares disse...

Ricardo,

A história é bom (pelo menos é engraçada) mas com vc é assim, vc ri de qq coisa mesmo...

hehehe

Rindo baixinho,
Esli Soares

Ricardo Mamedes disse...

Esli,

E deveria chorar? Não basta o sofrimento que passei durante um ano inteiro lutando contra essas bizarrices, e ainda tenho que me entristecer com essas coisas, ou me descabelar?

Não meu camarada, eu prefiro rir. Rir, porque sei que estou distante de tudo isso, porque o meu irmão também está, e os meus irmãos da minha igreja local também. Enquanto isso, escrevo no meu blog a história acima, com a pitada de humor que foi colocada para, quem sabe, abrir os olhos de muitos incautos enganados que porventura vierem a ler o texto. Portanto, estou prestando um serviço aos meus irmãos, ainda que usando a forma jocosa na linguagem.

Aliás, prefiro rir para não chorar. E pode ter certeza que eu não rio de qualquer coisa, pois levo muito a sério a vida em geral.

Abraços.

Ricardo.

João Carlos disse...

Ricardo meu querido irmão,

Viajei no seu "causo"!

Eu mesmo já me vi na mesma situação que seu amigo. Como é desagradável estar teoricamente "em comunhão" com estas meninices dentro da igreja (com i minúsculo) e ter que ficar quieto, até que chega o ponto em que a bolha (no caso, o saco) estoura e partimos para outra.

Pior ainda é que certamente os que ficaram dentro da igreja ficaram achando que estavam tão "ungidos" que o capirotão manifestou no seu amigo e ele saiu correndo!

Afff...

Forte abraço meu querido!

Neto disse...

Olá Ricardo! A Paz.

O irmão Esli pediu por e-mail para que postasse aqui a resposta dele pra você:

"Ô ômi brabo!!!

"Deixa de ser beligerante", vc não entendeu que eu estava me acabando de rir do "causo"? Qq dia desses eu te conto uns, como por exemplo o da água benta que molhou a Bíblia da minha mãe, ou o dia que passaram o bandão numa amiga para ela cair "no espírito", ou quem sabe a do amassar o barro, ou da unção da vela, ou ainda "vai falando até enrolar a lingua", do leão de juda, do anjo Gabriel, da irmã possuida, etc e tal...

Essas historinhas é de chorrar de tanto rir, se bem que são (também) de chorar pelo povo que se engana, mas só se engana porque quer!!!

Eu disse q vc ri de qq coisa pensando no seu amigo amigo Tairone, e não na história propriamente dita... seu bobo vc ri de qq coisa mesmo, vc é o cara para quem se deve contar piadas e anedotas, afinal vc se mata de tanto rir que da gosto de conta-las para vc...

Me acabando de rir, mais ainda, fica na paz

Esli Soares
p.s.: Depois é o Bob Spurgeon que é o ranzinza!!!
"

Ricardo Mamedes disse...

Caro João,

Eu conheço algumas das suas ótimas histórias e sei que você entende do assunto (rsrsrsrs). Não aguento nem me lembrar do episódio de "rodear o apartamento" que me dobro de rir!

O importante é acordar e fugir dessas bizarrices, despertando para uma verdadeira espiritualidade que não necessita do aplauso, da admiração, do elogio. E sei que você já venceu essa etapa há muito tempo (nada de rodear apartamentos mais. Rsrsrs).

Quanto ao protagonista da história, o Tairone, é meu irmão consanguíneo. O colega é o outro que o levou à "fria".

Abraços!!!

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Esli,

Que "brabo" que nada. Eu estava apenas sanando possíveis maus entendidos. E o Tairone é o meu irmão (consanguíneo) , o amigo é o outro. Portanto, a história aconteceu com o meu irmão, que foi levado até o "culto" pelo amigo - aliás, amigo da onça!!! Kkkkkk.

Fica tranquilo, está tudo explicado, já entendi que você não posou de moralista e nem de crentão (hehehe).

Abraços!

Ricardo.

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

as vezes sou convidado para visitar outras igrejas, especialmente, pentecostais e neopentecostais. Mas fujo delas como posso. E não sei porque cargas d'água eles me querem lá! Por que não vão chamar incrédulos, ou acham que sou um deles, por ser calvinista?

O certo é que seu irmão aprendeu a lição. Mas não precisava ter passado por isso... já imaginou se tem alguém com a "unção do cachorro" a morder-lhe a canela? É melhor não arriscar...

Abraços.

Cristo o abençoe!

Regina Farias disse...

Ricardo,

Tudo bem, a história é hilária e tal...

Mas eu devo confessar que eu não gostei.

Não gostei porque eu acho que ele não devia ter ido embora sem saber o que cara cochichava.

Agora tô euzinha aqui sem saber...

(Risos)

abs...

Unknown disse...

E eu aqui, me esbaldando de rir e ao mesmo tempo, morrendo de vergonha!!! Só Deus na causa...

Unknown disse...

É tudo verdade, manooo! apesar de você ter sintetizado a história. Seria cômico se não fosse trágico, hehehe... mas confesso que gostei do "causo". Abraço fraterno.

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Hoje em dia é mesmo perigoso visitar igrejas... mas às vezes é impossível "escapar". Foi o caso do Tairone, que, como eu disse, é muito cauteloso. Quer saber de uma coisa, serve como experiência! Hehehe.

Abraços, meu irmão!

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Regina,

Pois é, eu também gostaria de saber... Como eu já vi isso acontecer bem de pertinho, te digo que os cochichos são "confidenciais" e geralmente são um monte de promessas de vitórias, especialmente financeiras. Se bem conheço o Tairone, duvido que ele conseguiria permanecer ali por mais tempo. Rsrsrs.

Esse é o tipo de evangelicalismo que tem crescido por aí. É a graça trocada por um prato de lentilhas, ou algumas moedas, ou ainda a "contribuição".

Abs.

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Tairone,

Até que enfim você apareceu por aqui!!!! É bom para que os meus amigos conheçam o protagonista da história (rsrsrs).

Conta pra gente os detalhes do "causo" que passaram desapercebidos...

Já pensou se os "porfeta" te pegassem??? Até imagino você saindo do "átrio" todo lambuzado de azeite santo! Rsrsrs.

Bem, espero que agora você apareça por aqui mais vezes, já que aprendeu como publicar comentários.

Grande abraço meu irmão, extensivo à Margareth e aos meninos. Que Deus os abençoe ricamente.

Ricardo.

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