quarta-feira, 14 de julho de 2010

O verdadeiro conhecimento




Não faz muito tempo brotou uma discussão entre amigos sobre a epistemologia reformada - e confesso que foi muito acalorada - finalizando em consenso: "não há conhecimento verdadeiro fora da revelação".

O conhecimento filosófico secular responde a alguns questionamentos, mas sempre irá desaguar em um beco sem saída, a respeito, especialmente, do sentido da vida. E a pergunta sem resposta é aquela de sempre: de onde viemos e para onde vamos?

Somente o cristianismo com a revelação nos dá a resposta completa, o conhecimento absoluto, metafísico, ontológico e teleológico. Deus é a origem de tudo, é a inteligência por trás de toda a criação; é o referencial supremo, o padrão maior do que "é bom". Diante de tal grandeza não podemos traçar comparações com "o Ser", porque Ele está acima do padrão humano. Por estar ontológica e metafisicamente em um patamar de completa superioridade em relação à criação, Deus não pode ser confrontado pelas suas criaturas. O maior erro que alguns cometem é dizer que "não concordam com esse Deus tirano". Outros ainda asseveram peremptoriamente: não quero esse Deus déspota!

Portanto, voltando ao início, reafirmo hoje, como na discussão de ontem, que não há mesmo autonomia intelectual dos não regenerados, restando certo que o conhecimento secular, ainda que respaldado em fortes bases filosóficas não responde a todas as indagações, mantendo na escuridão os "sábios".

“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (I Co 2:14).

Eis que agora lendo "A Soberania Banida", de R. K. Mc Gregor Wright, me deparei com argumentos idênticos àqueles que usamos, quando discutimos longamente sobre o verdadeiro conhecimento, forçosamente atrelado à revelação salvífica. E o mais interessante é que há um texto de Cornelius Van til respondendo a Clark Pinnock, pinçado da obra "Jerusalem and Athens" escrita por vários autores em homenagem a Van til, que vale a pena transcrever:

"Eu concordo com você que a Escritura deveria falar por si mesma. De fato, eu quero que ela nos diga o que Deus é, o que o mundo é, e o que somos como humanos, não após, mas antes de começarmos a falar de metafísica, epistemologia e ética. Pensar que eu "concebo" a fé cristã como sendo um "sistema metafísico abstrato apoiado pelo pressuposicionalismo" é confundir completamente a arremetida total do pensamento reformado. Eu observo, ao contrário, que como cristãos, devemos olhar para o mundo como o próprio Cristo o fez, e se alguém não o olhar assim ele o vê de modo falso. Consequentemente, a tentativa de encontrar Deus no mundo sem olhar através dos olhos de Cristo é inútil, não porqueo mundo não revele Deus (ele continuamente clama em voz alta sobre a existência de Deus aos homens) mas porque os homens precisam de novos olhos! " (p. 426, itálicos meus). [1]

A lembrança me veio à memória exatamente porque naquela oportunidade em que empreendemos a discussão, um dos irmãos levantou a posição de Van Til, o que me motivou ao texto de agora.


[1] R. K. Mc Gregor Wright, "A Soberania Banida" - Redenção para a cultura pós-moderna, Editora Cultura Cristã, tradução Heber Carlos de Campos, 1ª edição, 1998, p. 224.



5 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

É como o Cheung diz: "O homem natural rejeita as verdades espirituais não porque ele seja intelectualmente superior, mas porque ele é intelectualmente inferior, e essa intelectualidade inferior tem uma causa espiritual como sua origem".

Logo, ao homem natural é impossível o conhecimento de Deus a menos que tenha novos olhos, como o Van Til disse, e que está em conformidade com o que o Senhor disse a Nicodemus: É preciso nascer de novo! "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus...O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" [Jo 3.3, 6].

Como está escrito: "Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure" [Jo 12.40].

Portanto, se Deus não der novos olhos espirituais ao homem natural, ele permanecerá cego, andando em trevas, sem a menor chance de conhecer o Deus único e verdadeiro, o Deus bíblico.

Parabéns por estar a ler "A Soberania Banida", o qual reputo como o melhor, senão, entre os melhores livros que tratam sobre a questão da soberania divina x responsabilidade humana, de forma bíblica e inquestionável. Todos deveriam lê-lo.

Sugiro também o "Autor do Pecado", do Cheung, disponível em pdf no site Monergismo.

Grande abraço, meu irmão!

Cristo o abençoe!

Anônimo disse...

amem
que Deus continue abençoando o irmao

Ricardo Mamedes disse...

Jorge,

Terminei de ler o livro. Há muito tempo eu cultivava a vontade de lê-lo. Tem uma abordagem muito madura sobre a questão da soberania de Deus e da responsabilidade humana.

Confesso que achei incrível encontrar essa assertiva do Van Til, no mesmo teor daquela nossa discussão no RVJ.

O autor nos ajuda a enxergar esse Deus maravilhoso que controla, mantém e governa todo o universo desde a eternidade.

Grande abraço!

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Caro Helio,

Obrigado pela visita. Volte sempre, a sua visita sempre será bem-vinda.

Abraço!

Ricardo.

Pr. Silas Figueira disse...

Graça e paz Ricardo,
tentar mostrar a soberania de Deus para quem não vê Deus como soberano Senhor é tarefa extremamente desgastante, mas que vale a pena, pois temos a oportunidade de reafirmar o que Deus é, mas tendo consciência de que só através da revelação do Espírito Santo tal pessoa poderá ver Deus como Ele se revela nas Escrituras.
Fique na Paz!
Pr. Silas

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