sábado, 22 de maio de 2010

Sob as amarras do pecado



A pergunta é: "como saber se a pessoa é realmente convertida?". A resposta é clara e cristalina: não temos como saber, uma vez que não possuímos o conhecimento capaz de sondar a profundidade da alma. Todavia, eu diria que há muitos sinais a indicar se sim ou não.

A conversão traz regeneração, logo, haverá sempre algo indicando uma certa transformação, ainda que ela seja um processo dinâmico e contínuo. A regeneração que se opera na alma diretamente pela influência do Espírito Santo traz aversão ao pecado, que antes era não somente praticado como cultivado. Não significando que não pecaremos mais, ou que tenhamos alcançado a plenitude da santificação como que num passe de mágica. Continuaremos ainda pecadores, brigando com a carne. E esse conflito se manifestará na medida em que, mesmo querendo fazer o bem", somente aquilo que agrada a Deus, ainda faremos o mal (Romanos 7:14-20).

Somos seres limitados pelo pecado original; limitados pela natureza decaída, ainda quando convertidos e regenerados. A única diferença do ímpio é, como afirmado em epígrafe, que abominamos o pecado. Contudo, essa ojeriza que temos contra o pecado não é algo capaz de produzir soberba, ou que nos engrandeça em relação ao próximo que reputamos ímpio. Essa qualidade de "não mais amar o pecado" é dádiva de Deus, é operação d'Ele; "é Ele quem efetua em nós o querer e o realizar" (Filipenses 2:13).

Como admitir um crente que, malgrado a sua "conversão", continue a cometer os mesmos pecados que lhe eram "peculiares" outrora? Como se fosse uma marca permanente, uma tatuagem indelével na alma...

Continuamos pecadores, mas abominamos o pecado, repito. E esse mesmo pecado não se pode tornar marca em nossas vidas, não pode nos fazer "conhecidos" dos nossos semelhantes. Escapamos daquela "homogeneidade", adquirindo, por assim dizer, um novo DNA insuflado em nós pelo Espírito Santo, a partir de agora residente em nossas almas. Eis que a Palavra nos diz:

"Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade, mas oferecei-vos a Deus como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros , a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça." (Romanos 6:12-14).

Somos pecadores, mas agora regenerados, e o pecado não mais pode ser imputado contra nós, "porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6), e "agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8:1).

Adquirimos, não por mérito, mas por graça, o que nos separa e individualiza: passamos a fazer parte da comunidade dos salvos. Somos reconhecidos como eleitos, rebanho de Cristo, ovelhas do seu aprisco.

Todavia, ao olhar para a igreja de hoje, o evangelicalismo atual, não há como ter otimismo. Aquele que ontem professava uma fé verdadeira, agora se embrenha por caminhos tortuosos, desviando-se da Palavra. Volto então à pergunta inicial: como saber se ele é convertido? A resposta ainda é a mesma: não saberemos, pois tal conhecimento compete unicamente ao Pai. Outrossim, aquele que trazia os "sinais" visíveis e aparentes de Cristo, "começou a falar por si mesmo, buscando a sua própria glória"; e somente "o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça "(João 7:18). Eu afirmo categoricamente que esta é uma marca do convertido, pela qual nós podemos avaliá-lo: as suas atitudes exaltam e glorificam a Deus (1 Co 10:31), ou ele apenas busca a sua própria glória?

Porque há homens que se dizem cristãos, que se mostram como cristãos, que verbalizam em alto som a sua crença, mas, no entanto, se desviam da Palavra de Deus, guiando-se por estranhos caminhos advindos de outra revelação. Revelação esta vinda do mais recôndito da sua própria mente, incapaz de ser "autenticada" pelo soberano Senhor das nossas almas e da nossa salvação. Cristo disse que, embora 'ouvindo a sua mensagem não compreendem a sua linguagem, sendo incapazes de ouvir a Sua palavra' (Jo 8:43). E por que eles não compreendem , por que seguem outros caminhos fora da Palavra, quando a ouviram? Disse Cristo:

"Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade" (Jo 8:44).

É terrível ter de admitir isso, mas aquele que não permanece firme na Palavra, buscando algo visível em que acreditar - mesmo anunciando esta "coisa" como sendo "deus" - não crê verdadeiramente, porque a Palavra de Deus manifestada pela Bíblia é a exclusiva autenticação não somente da Sua existência, como também da Sua vontade Santa. As Escrituras são suficientes em si mesmas. Deus se anuncia por intermédio desta Palavra; exclusivamente ali.

Por que se desviam dessa Palavra tais "homens de deus", buscando novas revelações, novos moveres, novas regras de fé? O que acontecerá a eles? A Palavra inerrante e eficaz novamente profetiza:

"Portanto, se depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro. Pois melhor lhes fora nunca tivessem conhecido o caminho da justiça do que, após conhecê-lo, volverem para trás, apartando-se do santo mandamento que lhes fora dado. Com eles aconteceu o que diz certo adágio verdadeiro: o cão voltou ao seu próprio vômito; e: a porca lavada voltou a revolver-se no lamaçal" ( 2 Pedro 2:20-22).

Não se enganem aqueles que professam e propagam "novos costumes" provenientes de "outra revelação", pois Deus, a seu tempo, lhes cobrará na medida das suas culpas, do seu conhecimento e do dolo ou avareza pelos quais se conduziram.

Ainda é tempo de voltar à velha, boa e sagrada Escritura (Bíblia).


10 comentários:

NICODEMOS disse...

Paz seja contigo

As amarras do pecado muitas vezes não são rompidas pois alguns tristemente se enganam pensando serem convertidas por terem feito uma oração "miraculosa" e vivem como se uma vez salvo, salvo para sempre , ndependente se pecam do mesmo jeito ou se fazem pior, uma vez que ouvem a pregação e permanecem em erros.

De fato a genuina e derradeira resposta vira da boca de Deus. E muitos vão se surpreender... Mas até lá, vamos semear em Cristo a todo o tempo e fora de tempo. Fico feliz por ter lido em seu perfil este entendimento da Graça de Deus.

Permaneça na Graça e nela frutifique

Seja bem vindo em meu blog e que possa la ser edificados na Palavra

atalaidocastelo.blogspot.com

Nicodemos

O Pastor disse...

OI RIcardo,
Muito bom seu blog. Já estou seguindo.
Continue sendo essa bençao.
PAZ.

Ricardo Mamedes disse...

Caro Nicodemos,

Sim, eu creio firmemente que sou salvo exclusivamente pela graça, e que até mesmo a fé não é mérito meu, mas de Deus (Ef. 2:8-9; Fl 2:13). Sou apenas um pecador por quem Deus teve misericórdia e salvou, por sua exclusiva vontade.

Visitei o seu blog e gostei muito. Pretendo passar por lá muitas vezes.

Deus o abençoe!

Ricardo

Ricardo Mamedes disse...

Pastor,

Obrigado pela visita e sinta-se a vontade para vir mais vezes. Farei uma visita ao seu blog também.

Grande abraço!

NEle,

Ricardo

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo, meu irmão!

O Senhor Jesus disse que pelos frutos conhecereis a árvore. Acontece que a maioria dos crentes consideram de uma mesma árvore qualquer fruto. Desde que seja feito sinceramente, não importa muito, qualquer coisa serve. Acontece que a sinceridade não é o indicativo de que alguém serve a Cristo ou não. Muito menos se ele é bíblico ou não. O critério jamais poderá ser o sentimento humano, pois, como é-nos dito: enganoso é o coração do homem.

Satanás, Caifás, Judas e muitos outros agiram sinceramente, em conformidade com suas naturezas caídas. Mas jamais foram bíblicos ou serviram verdadeiramente a Deus. Também, quando pecamos, pecamos sinceramente; graças a Deus que nos dá também o arrependimento sincero, revelando-nos o erro, e revelando-nos a necessidade de não mais cometê-lo. E, somente através da Escritura é possível saber o que é pecado ou não, o que é santo ou não, o que é de Deus ou não.

Não podemos ter certeza se beltrano ou sicrano é regenerado, filho de Deus, mas podemos saber se suas atitudes são bíblicas, e, se são, provavelmente ele é um eleito, filho de Deus.

Grande abraço!

Cristo o abençoe!

Ricardo Mamedes disse...

Jorge, caro irmão,

Você lebrou bem: enganoso é o coração do homem, por isso a necessidade de nos voltarmos exclusivamente para Cristo, seguindo apenas as Escrituras.

Porém, confesso que ultimamente eu ando refletindo muito sobre os desvios doutrinários pelos quais se embrenham homens que antes cultivavam e defendiam o verdeiro Evangelho... São os que não perseveram na sã doutrina, preferindo materializar "deus" através de "dons miraculosos". Isso tem me entristecido muito.

Porém, cada dia mais reforço a certeza de que a nós cabe propagar a Verdade, mas quem faz a obra é Deus. E os que forem d'Ele ouvirão e responderão ao chamado, como também perseverarão.

Grande abraço e mais uma vez, obrigado pela visita!

Em Cristo,

Ricardo

Pr. Silas Figueira disse...

Graça e paz Ricardo.
Em todos esses anos que tenho de evangélico e assíduo na igreja, eu tenho observado que há em nosso meio muitas pessoas convencidas ao evangelho e não convertidas ao Senhor Jesus. Muitos são religiosos, mas vivem nas sombras e na prática do pecado, pois tais pessoas nunca se converteram. Não quero com isso dizer que uma pessoa convertida não peque e até traga escândalo ao pecar, mas um verdadeiro converdito se arrepende e se volta para Deus. A parábola do filho pródigo é um bom exemplo disso. Ali Jesus está desafiando os fariseus que se achavam melhores que todos por serem "fiéis" a Deus, e, no entanto, Jesus mostra que o verdadeiro fiel é aquele que reconhece os seus pecados e se arrepende.
Te confesso uma coisa, eu detesto pessoas que se passam por "santarrões" dentro de nossas igrejas, estes são tomados de um grande orgulho pensando que são melhores que os outros crentes. Desses eu quero distância. Bom é andar com aqueles que batem no peito e dizem para Deus: "Sê propício a mim pecador", pois é assim que eu me sinto.
Fique na Paz!
Pr. Silas

Ricardo Mamedes disse...

Pastor Silas!

Ótimo recebê-lo por aqui. Aliás, é sempre um prazer renovado ler os seus comentários.

Pois é, nesse quesito somos idênticos: eu também detesto santarrões! Não acredito neles, primeiro, porque somos todos pecadores e, segundo, porque dependemos inteiramente de Cristo para escapar a essa condição, logo, não vem de nós. E, se não temos mérito algum, qual a razão para o orgulho ou soberba.

O verdadeiro cristão é aquele que diminui, como o "Batista", sentindo-se menor do que o próximo. Aquele que se acha maior, ou "mais santo", no fundo está falhando como cristão.

Grande abraço e obrigado pela visita!

Ricardo

Regina Farias disse...

Ricardo

Essa aversão ao pecado é o verdadeiro termômetro. E não que diariamente não estejamos cometendo pequenos delitos que desagradam a Deus, mas é administrando essas "vaciladas" que nos revelamos e crescemos nesse processo que não pára!

Quanto aos "santarrões", também me incomoda desde que me entendo por gente, essa imagem de piedoso/a que alguns religiosos querem passar. Quando vejo uma santinha, uma certinha demais, acende logo aquela luzinha que me diz "Aí tem".

A arrogância intrínseca ao homem é tanta que não nos desarmamos pra admitir o que é tão simples quanto desconcertante: que Ele nos ama porque é Ele que é bom, e não nós.

Quando aprendermos isso, passaremos a AMAR. Naturalmente. E não porque a igreja institucionalizada tem um programa de evangelização na gaveta que cabe direitinho no meu perfil (Mas aí já é outra história. Ou não! :)

Ah, sinto falta de seus comentários/complementos aos meus textos.

Abs...

R.

Ricardo Mamedes disse...

Regina,

Seja bem-vinda mais uma vez; os seus comentários são sempre substanciosos. Ser amado por Deus não é mérito de ninguém, mas resultado da misericórdia do próprio Deus, que nos amou, malgrado estarmos na condição de pecadores miseráveis. Como asseverara Jonatan Edwards, estamos nos "equilibrando na borda do inferno" e somente não caímos e somos tragados porque Deus resolveu nos salvar, exclusivamente pela sua boa vontade.

O seu blog é muito bom e certamente irei lá, embora os meus comentários não sejam assim tão "complementares aos textos" , uma vez que eles se bastam pela sua irretorquível qualidade.

Que seja tudo para honra e glória do Senhor!

Grande abraço, naquEle que é a nossa Rocha Eterna.

Ricardp

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