segunda-feira, 10 de maio de 2010

Entre a Palavra e a incredulidade



"Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia, entre Cristo e o maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? (...) (2 Coríntios 6:14-16)

Me encanta a profundidade dos escritos de Paulo, tanto a beleza que ele extrai das palavras, como, igualmente, a verdade contida nelas. Em tudo, porém, o apóstolo demonstra grande equidade.

Os versos acima citados retratam uma quase contradição, mas somente aparente. Afinal, devemos ou não nos relacionar com os incrédulos? Eles estão ou não na igreja, travestidos de crentes?

Na verdade, Paulo está vivenciando uma realidade difícil naquele momento na igreja de Corinto: uma igreja problemática, mas ao mesmo tempo necessitando de cuidados. Havia no meio daqueles irmãos lobos vestidos de ovelhas, servos de satanás enfeitados com vestes alvas, conforme podemos observar pela leitura do capítulo 11, versos 14 e 15, da mesma Epístola.

Portanto, ao mesmo tempo que nos é lícito sentarmos à mesma mesa dos incrédulos, uma vez que eles estão em nosso meio, não devemos "nos colocar em jugo desigual com eles". Vale dizer que não podemos nos deixar levar pelas suas decisões, na medida em que temos selado em nossos corações os ensinamentos de Cristo. As más influências deles não devem nos cegar, desviando-nos da verdade do Evangelho - embora convivamos com eles.

Afinal, não sabemos quais são os eleitos, sendo a nossa missão pregar o Evangelho indistintamente. O próprio Cristo nos deixou essa lição ao comer com pecadores e publicanos (Mc 2:16). Todavia, o mesmo ensinamento difere daquele que nos diz para não nos assentarmos "na roda dos escarnecedores, tampouco andarmos no conselho dos ímpios, nem no caminho dos pecadores" (Salmos 1), pois o nosso prazer real e genuíno é estarmos "na lei do Senhor" (Salmos 1:2).

Em muitos momentos retine em nossas mentes a indagação sobre o que fazer... Fugir? À maneira dos antigos puritanos nos ausentarmos do mundo para que não sejamos afetados pelo pecado indiscriminado? Seria esta uma opção viável?

Penso que se nos tornássemos apenas eremitas do Evangelho isso não nos acrescentaria nada como cristãos. Não nos transformaríamos em "sal e luz" (Mateus 5:13-17), conforme nos determinou o Salvador. É preciso que façamos a diferença, mesmo neste mundo corrompido.

Como mergulhar em um rio poluído e ainda sair limpo? Como cear com ímpios, "pecadores e publicanos" sem que nos respinguem as suas imundícies? Há uma única resposta para tal indagação: guardando a Palavra da Verdade. Seguindo fielmente as Escrituras e estabelecendo nelas o nosso limite.

Mas é tudo tão semelhante, o próprio apóstolo Paulo nos nos admoesta que os "ministros de satanás se transformam em anjos de luz (2 Co 11:14-15)! Como separar o joio do trigo? Não cabe a nós separá-los, mesmo porque, se o fizéssemos, correríamos o risco de arrancar o trigo e deixar o joio.

Sim, há muitos enganos dentro da igreja visível. Há uma enormidade de pregadores 'propagando' "outro evangelho" . E ainda há aqueles que praticam a espiritualidade da aparência, do vozerio, das grandes performances. Sobre estes o próprio Cristo disse, citando o profeta Isaías: "Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens" (Mateus 15:8-9).

Somente pela obediência à Palavra de Deus poderemos discernir o mal travestido de bem, o joio do trigo. Analisando as Escrituras e nos debruçando em seu estudo seremos capazes de filtrar o que nos 'oferecerem', sorvendo apenas o melhor alimento espiritual. Vivemos dias difíceis, onde o mal encontra morada nos corações empedernidos dos homens...

A Palavra viva é por si mesma capaz de nos fazer discernir o que é genuinamente bom, daquilo que parece bom, mas que verdadeiramente é alimento satânico. "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daqueles a quem temos de prestar contas" (Hebreus 4:12-13).

Lendo esses versículos que têm a "força da fé", reforçamos a certeza de que a Bíblia é a revelação do Deus vivo invisível. Como então podem dizer que a "letra fria mata", descontextualizando a propria palavra de Deus no afã de enfraquecer esta mesma Palavra? Que Deus servem esses tais, que necessitam de "algo mais"?

Letra fria é a palavra que apenas se lê, mas sem fé. A culpa não está definitivamente nas Escrituras Sagradas, mas no incrédulo que lê as verdades lá inseridas sem a revelação do Deus Vivo.

Sou capaz de tremer de emoção ao ler a Bíblia no silêncio do meu quarto (tenho certeza que muitos duvidarão disso...). Posso sentir a presença viva de Deus ao orar silenciosa e ocultamente em locais em que me encontro só (ou quase), eu e o Pai Celestial. Não trato o Criador por "paizinho" e nem digo que Ele "sonhou algo para mim" (Ele não sonha, Ele realiza - Fl 2:13). A Palavra de Deus expressada pela Bíblia Sagrada deve ser suficiente para nos remeter ao Criador, completamente rendidos pelo seu grande poder, que vem diretamente do Santo dos Santos. Se não for assim, algo está errado.

Afirmo categoricamente que aquele que necessita de algo mais do que a Palavra (de Deus) não tem Deus! Porque Deus se revela exclusivamente por intermédio da Sua Palavra Inerrante, Imutável e Verdadeira. Logo, o que é "revelado" fora da Palavra, certamente não vem de Deus.


5 comentários:

Jorge Fernandes Isah disse...

Ricardo,

um bom exemplo de convívio (e mesmo colaboração) com incrédulos sem se corromper é o de Daniel e seus amigos. Eles foram para a Babilônia como escravos, e atingiram altos postos administrativos no governo de Nabucodonosor. Estando ali, entre pagãos, viviam segundo as diretrizes babilônicas, porém, sem abrirem mão da sua fé, sem se contaminarem com o mundanismo deles.

Ao ponto em que estavam dispostos a perder a vida por amor, temor e reverência a Deus. Não sabiam se seriam salvos, não sabiam se morreriam ou não, pois não tinham a certeza de qual era a vontade de Deus, mas sabiam que Ele queria que resistissem, que não se curvassem à idolatria, que fossem exemplo para os seus irmãos feitos escravos, mas também para todos os ímpios.

Não clamaram a Deus por suas vidas, nem pediram a Ele que os livrasse de serem lançadas na fornalha, apenas confiaram de que o Senhor estava no controle, e de que a Sua vontade prevaleceria infalivelmente.

E ao final, lançados no fogo, até mesmo o ímpio Nabucodonosor reconheceu que havia um quarto homem com eles, e de que Ele tinha o aspecto do Filho de Deus (fico a imaginar a comunhão daqueles três irmãos com o Senhor na fornalha. É algo indizível! Apenas possível pela graça e misericórdia de Deus). Para reconhecer também que não havia outro Deus como o Deus de Israel.

Creio ser possível vivermos no mundo cada vez mais caído sem nos contaminar por ele. Podemos trabalhar, estudar, nos relacionar com incrédulos, mas jamais pensar, agir e se conformar com o padrão diabólico que eles seguem. Portanto, o seu alerta é real e necessário, assim como Paulo nos alertou e exortou a mantermos separação daquilo que é nitidamente pecaminoso; para termos uma comunhão ainda maior com o Senhor.

Cristo nos abençoe a seguir firmados nEle, a Rocha, e não nos desviarmos nem para a direita ou esquerda, permanecendo em Seus santos caminhos.

Forte abraço, meu irmão!

Fique na paz eterna do Senhor, juntamente com os seus queridos.

Anônimo disse...

Ricardo meu irmão paz seja contigo e família!
Irmão estive lendo ontem mesmo essa postagem, e ela mexeu muito comigo.
Estou passando por um momento difícil não que se refira diretamente com o texto
Mas existe sim uma pequena pluralidade, e isso me deixa muito triste em especial quando se refere a alguém em que depositamos uma grande parcela de nosso sentimento, diretamente em alguém que declina da verdade por uma ignorância
Própria e abre mão de ouvir a verdade.
Na verdade meu irmão estou passando por uma prova de fogo, mas confio na providência divina assim como na reta justiça, e realmente desejo e quero tomar posse;
Desse (Hebreus 4:12-13) não apenas na minha vida como na vida da ditosa pessoa.
Mas em tudo dou graças, que o Senhor possas estar falando a mais corações por meio
Desse magistral texto na vida de outras pessoas também!
Amado não sou de pedir oração mas se caso o irmão achou justiça em minhas palavras que esteja intercedendo por mim diante do “Pai” para que a vontade Dele se cumpra em minha vida.
Desde já agradeço o irmão pelo maravilhoso texto e que Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo possas sempre estar usando o irmão diligentemente como sempre tem feito.
Abraços fraternal cordialmente vosso conservo em Cristo Roberto Falbo

Ricardo Mamedes disse...

Caro Jorge, meu irmão!

Excelente exemplo apresentado por você, sobre a vida de Daniel no exílio, e o seu comportamento junto aos opressores. Certamente que podemos ser sal e luz, ainda quando rodeados pela corrupção - mesmo porque, a pregação do Evangelho deve alcançar essencialmente ímpios ( Cristo veio para curar doentes...).

Cada dia mais devemos propagar o Evangelho de Cristo, único caminho para a salvação, alcançando aqueles que de fato são chamados por Ele. Sejamos instrumento de Deus apenas, posto que toda honra, glória e exaltação devem ser dados ao Eterno.

Grande abraço meu irmão, extensivo à família!

Ricardo.

Ricardo Mamedes disse...

Irmão Falbo,

Realmente vivemos uma situação difícil com esse evangelicalismo que grassa por aí, e que está tão em voga. Pelo que leio em seu blog, você também, como eu, é um grande crítico desses modismos anti-bíblicos.

Meu irmão, às vezes passamos por provas difíceis, que nos fazem sofrer muito. Nesses momentos devemos lembrar o Apóstolo Paulo, a admoestar-nos que no mundo teremos aflições, porém, nos assegurando que devemos ter bom ânimo, pois "Cristo venceu o mundo".

A nossa Rocha há de nos sustentar e manter, desde que confiemos em seu poder. Coloque a sua vida inteiramente sob o senhorio de Cristo, ainda quando lhe sobrevier grande sofrimento, e Ele há de sustentá-lo. Deus jamais falhará com os Seus, conforme a promessa feita desde a eternidade.

Estarei orando por você meu caro irmão, intercedendo junto ao Eterno para que Ele faça a Sua vontade, guardando-o e livrando-o das aflições. Usando a providência em favor do irmão e confortando o seu coração.

Cristo o abençoe!

Ricardo

Richard Weiler disse...

Caro Ricardo, li seu artigo e gostei muito. Ficaria extremamente honrado em receber uma visita sua em meu blog.Quem sabe até fazendo uma parceria. Um abraço! http://richardweiler.blogspot.com

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