Sobre teonomia, Lei e Graça (II)
Consoante o que foi afirmado no último texto, é mesmo espinhoso dialogar com os “teonomistas”, a uma, porque eles não conseguem trocar idéias, uma vez que as suas peremptórias intervenções se pautam pela unilateralidade, e, a duas, por se sentirem investidos de algo como uma “delegação divina” , especificamente no sentido de trazerem de volta a “Lei mosaica” com a sua aplicação literal às relações humanas atuais. A ideologia hermética, o “purismo” me remetem a outro tipo de fanatismo, como aquele que levou a sociedade alemã a apoiar o homenzinho do bigode ridículo, ou, no sentido religioso, os muçulmanos adeptos do Islã. O fato é que sempre há um motivo, por mais estapafúrdio que seja, a direcionar pessoas a cometerem danosos atos em nome da “fé” – ou daquilo que acreditam ser a vontade de Deus.
Não dou à teonomia o sentido de heresia que os seus defensores querem me impor, ou impor a todos aqueles que pensam diversamente deles. Sou teonomista no sentido de reconhecer o governo de Deus sobre a humanidade, acima de toda a criação, exatamente pela sua condição de transcendência. O Criador certamente governa, sustenta e mantém o universo, criado por Ele unicamente através da sua vontade e do seu comando (haja luz...).
Quero crer que a “Lei de Deus” vai muito além da lei mosaica. Enxergo essa “Lei” nas relações humanas travadas entre santos e ímpios, em toda a providência sabiamente usada pelo Santíssimo em direção à plena e cabal execução do seu decreto eterno. Essa “Lei”, a meu ver, está contida nas mais ínfimas e “insignificantes” ações humanas até às mais sublimes; desde os grandes feitos registrados por brilhantes personalidades da História universal até a primeira palavra pronunciada por uma criança em tenra idade. O império de Deus está sobre este mundo como um amálgama, vinculando pessoas, coisas, eventos, catástrofes, enfermidades, dores, alegrias, vitórias, derrotas, justiça, injustiça, etc.
A pequena semente quase microscópica na sua admirável transformação a germinar e a tornar-se árvore, a flor a desabrochar, o ritmado flanar das asas do pássaro em voo, a suave brisa refrescante que sopra sem “motivo”, as ondas do mar em seu eterno movimento de ir e vir, tudo remete à “Lei de Deus”. Aos “teonomistas”, essa minha digressão parecerá despropositada, bem sei.
A capacidade do homem em se organizar política e socialmente, bem como a autocensura que se impõe por intermédio da criação de leis capazes de lhe arrefecer a maldade e garantir-lhe direitos, obrigações e restrições à sua liberdade são a prova cabal de que o Altíssimo influencia toda a sua criação, impondo a sua “Lei”, ainda que não o faça “diretamente” pela via da aplicação da lei mosaica, como querem os “teonomistas”. Dou, pois, à teonomia, um sentido muito mais amplo.
Imagino que as leis que criamos por intermédio dos nossos representantes nas Câmaras, Assembléias, governos - democráticos ou não - são uma extensão da “Lei de Deus”, providencialmente usadas por Ele em prol dos seus desígnios secretos e eternos. Não concordo que a “lei mosaica” seja a única expressão da Lei de Deus, ou que tenha permanecido imutável, estagnada, tal como ditada a Moisés no deserto. Certamente que há mesmo uma progressividade da revelação.
Para a consecução da graça comum, quero crer, Deus usa pessoas, coisas e ações; usa as leis dos homens, influenciando nas suas vontades, dirigindo-lhes os “passos” a fim de garantir o resultado eternamente decretado. Nesse diapasão, afiançar a exclusividade da lei mosaica, ou lutar para a sua aplicação única, é querer impor a Deus, por via transversa, a vontade do próprio homem. É semelhante a restringir a ação de Deus ao próprio “achismo” dos defensores ferrenhos da teonomia.
Com temor e tremor eu jamais me arriscaria a afirmar a exclusividade da lei mosaica. E, mais do que isso, crendo na progressividade da revelação, no dinamismo que o próprio Deus infundiu ao homem e à sua criação não posso aceitar o regramento literal da lei mosaica para a atualidade, pois não creio em um Deus anacrônico. Creio, ao contrário, no Deus que move a sua criação ordenadamente, com criterioso cuidado, infundindo-lhe conhecimento e vontade para melhorar e adequar o regramento inicial, ainda que resguardando o modelo, o princípio moral e ético.
Afora a graça comum, Deus toca alguns, regenerando-os, transformando-os, fazendo com que “nasçam de novo”. E são estes que terão a incumbência de “salgar a terra” através da Luz de Cristo. Creio na influência dos regenerados a testemunhar Cristo muito mais do que a imposição da lei mosaica por si só. A influência benéfica desse “remanescente fiel que não dobrou os joelhos a baal” é que fará a diferença e não as pedras dos apedrejadores. Ademais, temos leis e temos Deus no comando das mentes daqueles que pensam o processo legislativo. Vale dizer que Deus tem vontades imediata e mediata, sem que a providência possa mudar o seu decreto eterno.
Enfim, sem entrar no mérito de graça e lei e reconhecendo que os “teonomistas” dão mesmo um significado diferente a ambos, ainda assim fico com a graça, exclusivamente para ser sal da terra, pregando o Evangelho de Cristo e influenciando a muitos, e, com isso, reafirmando os valores cristãos a toda criatura.
Aos que querem impor a Lei mosaica, felicidades.
35 comentários:
A Graça me basta... Ela basta para me purificar, para me ensinar, para me corrigir, para me moldar, para me salvar, para me santificar... enfim, a Graça me Basta.
amados,
não sou teonimista, não defendo o teonomismo, mas o arranjo Teonomista não exclui a graça.
Eles apregoam a aplicação da Lei (????) como regulador das ações (morais e ética) das nações, como uma ordem civil.
Mas a graça continua fluindo de Deus em todas suas dimensões sobre a terra.
Reafirmo não sou teonomista, nem vejo fundamento bíblico para tal posicionamento.
Em Cristo
Esli,
É bem por aí mesmo. A graça é suficiente para tudo, inclusive para mudar a socidade política e culturalmente, exclusivamente pela influência dos santos. Por isso creio na desnecessidade dessa "luta" pela lei.
Grande abraço.
Ricardo.
Paulo,
Eu reafirmo no meu texto, especialmente no final, que a teonomia, tal como pregada por seus defensores, não exclui a graça. A diferença é que, para eles, somente a graça não basta. Parece ser necessário que o homem busque a lei mosaica para complementá-la, não crendo eles que possamos, por influência direta do Espírito Santo, operando poderosamente em nós, mudar a sociedade como um todo até ao ponto em que Deus tenha determinado na eternidade.
Abraços e obrigado mais uma vez pela contribuição.
Ricardo.
Ricardo,
(não quero fazer plantão de "comentarista").
Concordo integralmente com sua exposição. A posição do Esli, pareceu-me desconexa com o texto, por isso postei.
Creio que há requisitos para tema:
1. Posicionamento escatológico;
2. Conhecimento das Alianças de Deus;
3. Clareza (posicionamento)sobre Israel e Igreja;
4. Conceito definido sobe reino de Deus etc.
costumo não opinar sobre pontos teológicos (nem sei se teonomia se enquadra nesta categoria), mas seus textos pareceram-me com a ousadia e qualidade oportunas.
Manter a ênfase nas idéias faz o cristianismo mais maduro.
Minha admiração
Em Cristo
Bem pessoal, eu gostaria de tomar a liberdade de indicar texto que publiquei hoje no meu blog, abordando este tema do ponto de viste da Teonomia (que defendo). Toda critica, contribuição e sugestão são bem vindas.
Batalhando para Vencer; ou, Porque sou Teonomista
Obrigado, pessoal.
Abraços reformados.
Paulo e Ricardo,
De fato o meu comentário não é diretamente ao texto postado. O caso é que frente ao exposto (em diversos lugares) sobre a Teonomia e a contradição exposta aqui, eu simplesmente afirmei que a Graça é bastante!
Se dentro da exposição da Graça (que é nosso dever) há espaço - e eu creio que há - para a exposição da Lei de Deus (inclusive a Lei mosaica, que é um resumo objetivo da Lei de Deus aplicada ao povo de Deus) não dá motivo para falarmos dela como dispare da Graça, seja em qual nível for.
A dispensação é sempre da Graça, então não existe isso de Lei x Graça, a Lei Mosaica é a Graça no V.T. aplicada a Israel. Como a revelação da Graça é progressiva ela vem desde a época da inocência (Éden, antes da Queda), até a Eternidade Santa. Passando pelos tempo dos antigos, Noé, Abraão, Moises, Davi, exílio babilônico, pos-exílio, dominação romana, advento de Cristo, idade média, reforma, dias atuais, volta de Cristo e Juízo Final. Tudo é a Graça.
Somos comissionados a divulgar a Graça, nela falaremos da Lei que nos condena, do Sacrifício que nos salva, do Amor que nos constrange e do Poder que nos transforma. Mas tudo isso é A Graça, por isso volto a dizer:
A Graça me basta... Ela basta para me purificar, para me ensinar, para me corrigir, para me moldar, para me salvar, para me santificar... enfim, a Graça me Basta.
Nas garras da Graça de Cristo.
Esli Soares
Paulo,
Eu compreendi o seu ponto, especialmente no que se refere a posicionamento escatológico. À primeira vista o reconstrucionismo e teonomia leva quase que obrigatoriamente ao pós-milenismo (otimismo sobre o crescimento do Reino), mas há teonomistas que dizem que não há uma obrigatoriedade, como no caso do Tiago do "Internautas" e outros mais.
Sinceramente, me falta cacife para discutir escatologia, confesso - e nem é uma área que me atraia tanto. Consigo, por outro lado, compreender muito bem a teonomia tal como apregoada pelos seus defensores, cujo viés está demonstrado nos blogs por aí e nos comentários aqui, sem a necessidade de ter uma grande profundidade em escatologia.
De qualquer maneira, fique inteiramente à vontade para comentar, uma vez que os sus comentários são e serão sempre bem-vindos.
Abraços!
Ricardo.
Marcelo,
É um prazer recebê-lo aqui, mas que tal, considerando que você é teonomista, expor aqui a sua posição, especialmente naquilo que confronta com o texto? Obviamente será uma boa oportunidade para que todos aqui , inclusive eu, possamos avançar na questão.
Grande abraço!
Ricardo.
Esli,
Está clara a sua posição. Eu também creio que a Lei mosaica está contida na "Lei de Deus" e faz parte do pacto da graça, eis porque não aceito a ideia teonomista tal como apregoada por seus defensores. Repito, penso que eles, assim fazendo, limitam Deus, ou delimitam a sua atuação, ainda que inadvertidamente.
A mim também a graça basta!
Grande abraço!
Ricardo.
Esli,
em completo acordo.
apenas quis manter o foco no tema.
Em Cristo.
Ricardo;
Obrigado pela recepçao. Quando a sua proposta, a aceito sim, mas vou precisar ler o primeiro texto antes, para que eu possa interagir melhor com seu pensamento. O texto que indiquei nao foi um "reposta" ao seu, que li somente hoje.
Abraços reformados;
Marcelo,
Eu sei que não é uma "resposta" ao meu texto e nem disse isso. Inclusive li rapidamente o seu texto. Voltarei lá com tempo e lerei com cuidado, logo que der.
O assunto é mesmo interessante, por isso necessidade de discussão.
Grande abraço e obrigado, novamente, pela visita.
Ricardo.
Irmão Ricardo, lamento que começou com 'rótulos', que a conversa com teonomistas são 'espinhosas'. Além de dizer que 'não conseguimos trocar ideias'.
Percebo que usar extremos para colocar uma caricatura em 'todos' é um jeito de colocar todos no mesmo bojo. É mais ou menos quando desse lado aqui, chamam vcs de dispensacionalistas.
Mas bom texto!
Peço desculpa, pois minha fotografia mental leu seu nome R. MENDES...já corrigi
abraços
Luciano
MCA
http://mcapologetico.blogspot.com/2011/02/resumo-da-perspectiva-teonomica-da-lei.html
Prezado irmão, Ricador Mamedes, li o primeiro artigo desta série, e publiquei um pequena resposta no Olhar Reformado. O objetivo dela é, neste primeiro momento, desfazer algumas incompreensões sobre a nossa posição, que aparecem no seu primeiro texto.
Diálogos em Teonomia
De seu conservo;
+ Rev. Marcelo Lemos
Luciano,
É interagindo que a gente vai se conhecendo. Quanto a adjetivar o diálogo como espinhoso, não significa, de forma alguma, rotular. Eu também costumo ser espinhoso, embora consiga dialogar tranquilamente. Os extremos que tenho visto, por seu turno, vêm da parte dos teonomistas, isto mantenho.
Agora, chamar-nos a todos de dispensacionalistas é tão absurdo que nem merece refutação. Eu, por acaso, sou amilenista (embora não dando tanta ênfase a isso, como disse algures), razão do meu "pessimismo" diretamente antagônico ao otimismo de vocês, em geral, "teonomistas".
Quanto ao erro do nome, fique tranquilo, pois acontece.
Penso, no entanto, que desfiz alguns equívocos neste texto e demonstrei bem a minha percepção sobre teonomia. Assim, espero que você possa comentar/criticar este de agora.
Será sempre um prazer recebê-lo aqui, ainda que surjam diferenças pontuais.
Grande abraço!
Ricardo.
Caro irmão Marcelo,
Como acabei de dizer ao Luciano, penso que desfiz alguns equívocos neste segundo texto, tendo sido mais claro. De tal maneira que, a meu ver, é preciso aglutinar ambos os textos em uma refutação única. Mas tudo bem, irei ao seu blog para ler o que foi escrito. Posteriormente, espero que você comente também sobre este texto, caso queira.
Grande abraço - e será sempre um prazer receber o irmão aqui.
Ricardo.
Perfeito, irmao Ricardo, seu pedido eh justo, sim. Considero este dialogo muito produtivo, ao menos para mim. Meu proximo passo, realmente, e comentar sobre este segundo texto, e claro, darei credito as correçoes que o irmao tiver feito.
Como escrevi no artigo, escolhi dividir, para, primeiro, abordar os problemas de definiçao que apontei.
Mas, infelizmente, pelos comentarios que o irmao fez ao meu artigo, no Olhar Reformao ado, vejo que o irmao continua alimentando conceitos equivocados sobre nos, de modo que, num terceiro momento, terei de responder ao que o irmao comentou la.
Talvez eu seja muito dado a leitura de Cheung e, por isso, tenho certa obseçao com a definiçao correta dos termos usados em um debate; se for o caso, peço desculpas pela minha insistente chatice, risos.
Um forte abraço, e que possamos continuar neste clima fraterno em nossa jornada teologica.
Marcelo,
Eu também gosto de definir os termos, embora não tenha qualquer obsessão - e não sou tão dado à leitura de Cheung, pois tenho outras preferências à frente dele.
Antes, porém, de falar em "definição de termos", tente aceitar que a minha ideia de teonomia é diferente da de vocês, como bem expliquei no último texto. Desqualificar o interlocutor de qualquer forma, certamente não é o melhor para o debate - e tenho de confessar a você que os defensores empedernidos de Cheung costumam valer-se desse discurso.
Acho que fui bastante claro nesse texto sobre o meu conceito de teonomia como sendo mais amplo do que o de vocês, o que difere de "falta de definição de termos" - Na verdade, acho a definição de vocês ruim, assim como a hermenêutica. Refute, pois, o meu texto e diga onde "acha" que estou errado, antes de tentar desqualificá-lo em razão de uma possível má compreensão do termo teonomia. Pois a mim parece que a má compreensão é de vocês.
Mas sigamos.
Abraços.
Ricardo.
Irmao Ricardo, ja e stou escrevendo sobre este seu segundo texto, e assim que publicar, coloco o link aqui. Nele aborto justamente a sua definiçao sobre teonomia, e tento acompanhar o progresso que o irmao diz haver entre este e o primeiro texto.
Contudo, ainda que o irmao tenha dado ao termo TEONOMIA a sua propria definiçao, isso NAO JUSTIFICA que o senhor DETURPE a definiçao utilizada por outros, como me parece ter sido o que o irmao fez em seu primeiro texto - e tbm neste -, e julgo ter provado na primeira parte da resposta que publiquei no Olhar Reformado.
Em outras palavras, o irmao pode redefinir o termo o quanto e quantas vezes quiser, mas nao pode DETURPAR a nossa posiçao. O irmao precisa nos refutar naquilo que acreditamos, e nao naquilo que nao acreditamos.
Paz e bem
Tiago,
Eu não sei se o antinomista sou eu, acho q não, não sou um top-comentarista aqui, tb não sou, de fato, um antinomista e não me lembro de dizer algo sobre só aceitar da 'Lei' aquilo que foi reinteirado no N.T., mas de qualquer modo vou responder sua pergunta, dentro da ótica que vc apontou do (suposto) antinomista (par ver até onde isso vai).
Fazer sexo com animais é pecado porque, dentre outras questões de fácil assimilação, em Jerusalém foi entendido que os cristãos deviam se abster das práticas sexuais ilícitas (At 15).
No mais,
Esli Soares
Tiago, hehehe depois que eu vi que eu sou um dos tops por aqui.
No N.T., para esse caso, há uma clara referência a essa situação, conjuntamente com outras observações da Lei Mosaica. Então, acho que esse exemplo não serve para sua exposição, pois não há discussão sobre a matéria (sexo com animais), há clara associação disso com o termo relações sexuais ilícitas descrita na Lei Mosaica.
Assim, a proibição do sexo com animais, o incesto, homossexualismo e outras práticas erradas em relação ao sexo , bem como o veto ao consumo de carne de animais sufocados, a carne de animais oferecidos a ídolos e o sangue, são ratificados do N.T. corroborando com a posição, que segundo vc é antinomista, de só cumprir o que da Lei Mosaica fora recomendado no N.T.
De qualquer modo o próprio contexto maior da carta aos irmãos gentis os admoestando a guardarem essas recomendações expõem que nem mesmo para Tiago ( o presbítero) a coisa era tão direta assim.
No mais, em Cristo o Senhor.
Esli Soares
Tiago,
Vc pode até achar isso, mas acho q é forçado essa forma de tentar demonstrar o valor da Lei Mosaica. Veja, o termo relações ilícitas era o termo comum para um monte de erros sexuais, era o costume dos judeus, costume pela Lei, sim, ok! Não é o caso. O caso claro é que ao discutir se a Lei Mosaica (ou aspectos dela) deveriam ser seguidos pelos gentis, a Igreja entendeu que essas recomendações deveriam ser observadas, isso é, eles ratificaram norma, assim tal proposta não serve para embasar a validade da Lei (sua Teonomia), de fato, serve mesmo é como argumento para a proposta do, segundo vc, antinomista.
Para resumir, todos os aspectos morais da Lei Mosaica são repetidos no N.T., provando a continuidade bíblica. Até da para dizer, numa proposta simplista – tanto quanto a da Teonomia* – que vivemos na Lei do N.T. e não na do V.T. (Lei Mosaica), e parece ser assim que entende uma parte dos cristãos dispensacionalistas (assumidos ou não).
Entretanto, o que vemos no N.T. não é uma simplificação, nem mera repetição, ou mesmo ratificação da Lei. Vemos, em Cristo, o cumprimento, pronunciamento e explicação:
1 – Cumprimento: Ele é a força da Lei Mosaica, ou seja, ela aponta para Cristo em todos os seus detalhes, é para isso que ela serve.
2 – Pronunciamento: Quando Cristo, a reafirma sua validade em palavras e atitudes, sendo o único que a cumpri, o que demonstra a sua superior qualificação e desqualifica qualquer outro.
3 – Explicação: Quando ele demonstra o cerne da questão, expondo que a Lei Mosaica, serviu para demonstrar que todos, sem exceção são e continuarão a ser pecadores condenados, e que do alto (isso é, longe da ação humana) vem restauração graciosa, e que tal fato, primeiro promove gratidão impagável, compreensão inexorável, e retribuição inextinguível, para depois “explodir” em prática (e na cobrança) de justiça e boas obras.
Em Cristo, o Único.
Esli Soares
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* digo do que tenho compreendido por teonomia segundo a sua visão.
Desculpe-me Tiago, mas vc está saindo do foco.
Vc fez uma pergunta direta e eu te dei uma resposta direta. Depois vc argumentou que minha resposta direta, favorecia a sua interpretação, eu disse que não, afinal a cultura religiosa predominante nos primeiros anos de cristianismo era a judaica. Então, não precisamos de muita criatividade para assumir que, quando a igreja em Jerusalém decidiu aconselhar aos novos fieis (gentis) a abstenção das práticas sexuais ilícitas, estava ali representada nessa simples sentença todo o arcabouço veteretestamentário, que é sim aspectos da lei mosaica, aspectos morais pois estes estão relacionados com artigos morais, e não cívicos, públicos ou religiosos – embora possa-se fazer um enlace da unidade da lei mosaica, que confere (isso é, faz todo o sentido...) com o seu status de lei dada por Deus.
Sendo assim volto a afirmar, eu posso viver pela revelação da vontade de Deus existente no N.T., entretanto eu não terei uma clara e sólida compreensão do cristianismo sem as informações, as vezes sutis, reveladas no V.T.
Como temos (alguns de nós) afirmado, amamos a Lei de Deus, e devemos lutar para vivê-la, sabendo que primeiro Cristo teve que nos ressuscitar dos mortos para então obedecermos as suas palavras. Buscar qualquer outra forma de impor a vontade de Deus, é tentar administrar a agenda divina, e não nos compete fazer isso, nem mesmo conhecer isso! Nos é dado a honra de anunciar, testemunhar, viver e morrer por essa verdade, acumulando brasas vivas sobre a cabeça dos que nos vêem, trazendo tanto o Graça salvadora para todos aqueles que de antemão escolheu para o Reino de sua Glória quanto Juízo definitivo para os preordenados para a condenação eterna.
Sobre as duas passagens, Lv 19;14 é muito claro o reedito de tal passagem “amarás o teu próximo como a ti mesmo, sendo ele surdo, cego ou aleijado”, mas antes de responder a passagem de Ex. 22;18, quero considerar Lv 20;10 com Jo 8;1 a 11, por que Cristo desobedeceu a expressa ordem de matar os adúlteros? Outra passagem q deve ser considerada é a dos leprosos, Cristo descumpriu a lei ao tocar neles. Ainda outra passagem significativa é a do morto, Cristo desobedeceu a lei ao tocar no esquife. Concordo que feitiçaria é abominação diante de Deus, e que todo o adivinho, mas Paulo não matou, e nem tentou matar ninguém no episódio de At 16;16. Mesmo quando um membro da Igreja se deitou com a mulher de seu pai, Paulo mandou matar, e nem autorizou que matassem o jovem.
A disciplina deve ser aplicada, não com os de fora, mas com os de dentro (1Co 5;13 a14), foi assim com Israel e deve ser assim com a Igreja. Sabendo que mais importante é o amor que perdoa (Mt 18;23 a 35) do que a justiça (nossa) que exige.
Em Cristo
Esli Soares
Esli,
Tenho observado a discussão "por fora", ou, "na moita", como preferirem, mas tenho de dar-lhe parabéns pela sua última intervenção. Assino embaixo do seu comentáario e acho-o extremamente propositivo, embora sabendo que não terá a força necessária para convencer os defensores da "aplicação da Lei mosaica" institucionalmente como querem. Até mesmo desisti de tentar convencê-los ou argumentar com eles: estão surdos e cegos e se comprazem com essa sua auto-limitação.
Não há argumento que possamos usar - a exemplo do seu tão bem alinhavado no último comentário - capaz de fazê-los ao menos refletir, ou, pelo menos, considerar a argumentação oposta. Não atacam o argumento alheio, mas apenas repetem os seus à exaustão, quase perenemente. Conforme eu disse outrora, é uma discussão unilateral, ou, na melhor das hipóteses, um monólogo desesperador.
A discussão com os denominados "teonomistas" me faz lembrar " O processo" de Franz Kafka, a ponto de me fazer quase sentir o desespero daquela vítima engolfada por tão opressivo processo, onde a sua voz era calada, como se nem mesmo existisse. Ao "discutir" com teonomistas, chego ao ponto de questionar se existe diálogo em tão estranha seara, ou se essa forma de comunicação tão em voga, envolvendo personagens e mensagem lhes é de fato (des)conhecida.
Estou pensando em escrever algo sobre a forma com que nos rotulam tão alegremente de "antinomistas", não porque não creiamos na Lei (Evangelho), mas porque discordamos da aplicação judicial daquilo que chamam Lei mosaica. Vamos ver...
Grande abraço Esli!
Ricardo.
Ricardo,
Obrigado pelo apoio, vc sabe que ele é recíproco. Sabe o que vejo de mais engraçado é que eles tentam impor a "Lei de Deus" num mundo caótico e rebelde sendo que o próprio Deus determinou um dia e um modo para fazer isso... Eu sou Teonomista (isso é vivo a lei de Deus) mas não sou tão otimista assim!!!
Esli Soares
O autor do presente texto ao misturar conceitos básicos da teologia e por desconhecimento da proposta teonomista ora fala coisas absurdas, ora ainda que involuntariamente, concorda com os meios de mudança da sociedade apregoados pela teonomia. Vamos ao texto do autor para fazer a refutação por partes conforme ele desenvolve o raciocínio.
Ainda a guisa de introdução é importante ressaltar 3 coisas: primeiro a falta de textos Bíblicos na critica empobrece por demais o diálogo, por se basear apenas em achismos não fundamentados; segundo o fato do autor reconhecidamente nunca ter estudado a posição que se propôs a criticar o faz incorrer em erros bobos; e por fim as críticas as pessoas que defendem a teonomia não serão respondidas nessa refutação, pois desqualificar o a parte adversa nesse diálogo não tem a menor importância para o conhecimento do tema e do esclarecimento dos mandamentos Bíblicos. Mas vamos ao texto.
Antes de entrar propriamente no texto que pretendo refutar farei uma citação da parte 1 do mesmo para justificar minha afirmação de que o autor mal conhece o que está criticando: “Não os li e nem pretendo lê-los. Sei o que é teonomia e do que se trata, suficientemente para ser contrário aos seus argumentos.”
Isso por si só demonstra o desconhecimento do autor das críticas!!!
Vamos à primeira citação extraída do texto:
“por se sentirem investidos de algo como uma “delegação divina” ,
A primeira falácia do autor é dizer que os teonomistas se sentem investidos de uma delegação divina, ele não deixa claro, mas parece pelo contexto e pelo tom da crítica que os teonomistas arrogam apenas para os defensores da mesma tese essa delegação, o que não condiz com a realidade. Como já apontado acima a falta de fundamentação das alegações, até por não existir bases para isso empobrece o debate, mas vamos tratar Biblicamente a “delegação”.
O chamado mandato cultural ou pacto de domínio é amplamente reconhecido por teólogos de diferentes linhas de pensamento, um dos mais conhecidos nos dias de hoje é o John Stott que não era teonomista, mas trabalhou com o conceito de mandato cultural em diversas obras suas. Qualquer pessoa que fizer uma busca no Google pelos expressão mandato cultural perceberá que isso está longe de ser uma “peculiaridade teonomista” fruto de arrogância como o autor sugere.
Tal conceito é retirado do propósito de Deus para criação do homem que é dominar a terra em submissão ao Criador, tendo como fundamento básico Genesis, todavia encontrado por toda a Bíblia, inclusive na Novo Testamento para os que gostam de ignorar o Antigo sobre pretexto de graça.
“E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou. Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o
animal que se move sobre a terra (Gn, 1:27-28).”
Como o propósito desse texto não é explicar conceitos teológicos, mas tão somente refutar a critica infeliz feita pelo autor à teonomia, não prosseguirei explicando o mandato cultural, mas colarei alguns links de blogs e outros que tem artigos sobre o tema sem nenhuma ligação com a teonomia, para desmascarar a falácia do autor.
Voltemos então ao texto:
“especificamente no sentido de trazerem de volta a “Lei mosaica” com a sua aplicação literal às relações humanas atuais”
Um grande erro de muitos críticos da teonomia é achar que advogamos uma “aplicação literal da Lei Mosaica”. Isso é fruto de falta de leitura da posição que se pretende criticar, como o autor deixou claro em seus textos, o que leva a um desconhecimento da estrutura da lei de Deus. Esse é um ponto que trás muito preconceito sobre a tese teonômica, fruto de desconhecimento e nada mais.
Nem mesmo no AT a codificação da Lei tinha pretensão de tratar exaustivamente de todos os casos em que ela deveria ser aplicada. Os casos concretos previstos na Lei são “apenas” aplicações dos princípios contidos nos 10 mandamentos na vida cotidiana, de forma a sistematizar a sua aplicação e não deixar a aplicação completamente livre para o homem fazer do seu jeito, ou reduzir os princípios como fizeram os fariseus e muitos Israelitas como o jovem rico que se achava cumpridor da Lei por não ter consumado fisicamente o adultério com uma mulher e em coisas simplistas por puro reducionismo indevido da lei de Deus. Vamos a um exemplo:
“Se alguém furtar boi ou ovelha, e o degolar ou vender, por um boi pagará cinco bois, e pela ovelha quatro ovelhas.” Êxodo 22:1
Será que se alguém roubasse prata, ouro, ou alguma coisa que não fosse as citadas no verso acima ficaria impune, deixaria de ser considerado ladrão só porque não estava expressamente previsto na lei? Claro que não!!!! O verso citado apenas mostra que o não roubarás ia além de proibir o roubo, ele implica na idéia de restituição, quem roubou deve restituir o que roubou e pagar uma indenização ao lesado. O verso mostra sistematicamente como lidar com o princípio do “não roubarás”, mas não o trata de forma exaustiva e dessa forma a aplicação nunca foi literal, como o autor por desconhecimento não só da teonomia mas como do AT pensa...
Portanto nenhum teonomista defende a aplicação literal da lei, mas sim contextualizar ela para os dias de hoje mantendo a sistemática apresentada. Uma outra falácia a respeito da teonomia é que a tese se prende apenas a lei mosaica. Isso está longe de ser verdade, pois todo a palavra de Deus revela aplicação dos princípios morais de Deus e como devemos lidar com eles no dia a dia, um belo exemplo disse é I Coríntios 9, quando Paulo da aplicação a um mandamento da lei que falava de bois para dizer que o trabalhar tem direito ao seu salário. Essa passagem confirma a explicação exposta acima. Todavia o autor faz mais criticas infundadas sobre esse ponto mais a frente deixarei para aprofundar o tema ao tratar com essa parte do texto.
As associações de teonomistas com nazistas tem o único intuito de fomentar preconceito contra a corrente teológica em pessoas que não a conhecem. É lamentável que pessoas que dizem ter a Bíblia como regra de prática e fé se utilizem de ardil desse calibre para desqualificar os que pensam diferentes e jogar com o emocional de quem não tem conhecimento das propostas da doutrina, em vez de se pautar em exegese de textos Bíblicos para provar que estamos errados. Depois ainda se fazem de vitimas chamando os teonomistas de beligerantes de outros adjetivos impróprios. Lamentável!!
“Sou teonomista no sentido de reconhecer o governo de Deus sobre a humanidade, acima de toda a criação, exatamente pela sua condição de transcendência. O Criador certamente governa, sustenta e mantém o universo, criado por Ele unicamente através da sua vontade e do seu comando (haja luz...).”
Nessa parte o autor contraditoriamente reconhece a Soberania divina sobre a criação ao mesmo tempo que advoga a autonomia do homem para se organizar coletivamente. Se Deus governa sobre tudo e nós temos que seguir a Sua vontade em tudo, Ele tem que nos ter revelado qual é a sua vontade, se não fica impossível obedecer uma ordem se não há ordem para determinada área. Muitos cristãos críticos da teonomia reconhecem que devemos obedecer a Deus em todas as áreas da vida, todavia não apresentam um padrão a ser seguido, o que praticamente anula o ideal de obediência. Se devemos obedecer, qual é o padrão????? Fica minha indagação!!
Mas ao dizer isso o autor apenas prepara o terreno para um terrível erro teológico, veremos qual.
“Quero crer que a “Lei de Deus” vai muito além da lei mosaica.”
Como já dito de forma geral acima nenhum teonomista restringe a lei de Deus somente ao Pentateuco, se o autor lesse sobre teonomia antes de criticá-la se pouparia de fazer criticas tão infantis. Toda a Bíblia é a lei de Deus, o que acontece é quem por estar inaugurando um povo, Deus deu pela primeira vez um alicerce para o povo obedecer. Obediência pressupões uma ordem anterior, Deus não poderia fazer de Israel um povo diferente de todos os outros, separado para Ele sem dar a eles estatutos diferentes do que os outros povos tinham. O propósito de Deus em dar a lei a Israel para diferenciá-los dos demais povos fica claro nessa passagem:
Vedes aqui vos tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o SENHOR meu Deus; para que assim façais no meio da terra a qual ides a herdar.
Guardai-os pois, e cumpri-os, porque isso será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos, que ouvirão todos estes estatutos, e dirão: Este grande povo é nação sábia e entendida.
Pois, que nação há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o SENHOR nosso Deus, todas as vezes que o invocamos?
E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós? Deuteronômio 4:5-8
Porque será que a Igreja hoje em dia não é vista mais como um povo sábio que ilumina e salga a terra? Será que é por ter abandonado a justiça e sabedoria de Deus? Fica a reflexão, mas como o objetivo desse texto não é estruturar a doutrina mas tão somente refutar as criticas sem base nenhuma feitas pelo autor, retorno ao propósito original.
O NT como toda a Bíblia quando fala de moral, trata de aplicações dos princípios do 10 mandamentos na prática, seguindo a sistemática da lei. Como a codificação no Pentateuco tem uma preponderância civil (organização da sociedade) sem uma análise cuidadosa (coisa que o autor deixa claro que não pretende fazer) é de difícil percepção, mas Paulo nos dá um exemplo muito claro de como isso funciona:
Digo eu isto segundo os homens? Ou não diz a lei também o mesmo?
Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi que trilha o grão. Porventura tem Deus cuidado dos bois?
Ou não o diz certamente por nós? Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar com esperança de ser participante.
Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as carnais? 1 Coríntios 9:8-11
A primeira indagação que deixo como reflexão é: se a lei está abolida pela graça como defendem alguns, e que o apóstolo Paulo que diz isso em suas cartas, porque ele para dar autoridade ao seu argumento diz que não fala como homem mas apenas repete o que Deus disse e cita a lei para isso? Será que ele citaria como referência algo que ele mesmo veio para nos esclarecer que foi revogado?
Diferente de muitos “teólogos” dos dias de hoje Paulo não se contradizia!!!
Mas notem, Paulo cita um verso que fala sobre bois, mas diz que não é com os animais que Deus se preocupa, e usa o mandamento da lei para um caso bem diferente do previsto, extraindo seu princípio. Esse verso derruba peremptoriamente 3 falácias do autor. A aplicação literal da lei, como já dito acima. A acusação de ficarmos presos apenas ao Pentateuco. E a invalidade da lei para a igreja do Novo Testamento.
Mas o pior esta por vir:
“Enxergo essa “Lei” nas relações humanas travadas entre santos e ímpios, em toda a providência sabiamente usada pelo Santíssimo em direção à plena e cabal execução do seu decreto eterno. Essa “Lei”, a meu ver, está contida nas mais ínfimas e “insignificantes” ações humanas até às mais sublimes; desde os grandes feitos registrados por brilhantes personalidades da História universal até a primeira palavra pronunciada por uma criança em tenra idade. O império de Deus está sobre este mundo como um amálgama, vinculando pessoas, coisas, eventos, catástrofes, enfermidades, dores, alegrias, vitórias, derrotas, justiça, injustiça, etc.”
Nesse parágrafo o autor confunde a vontade decretiva de Deus com Sua vontade moral, erro primário que demonstra o seu desconhecimento não só da teonomia, mas de conceitos básicos da teologia. Para não deixar o texto ainda mais longo não explicarei a diferença entre as duas, mas colarei links com a explicação de forma a facilitar a exposição.
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2010/10/a-coletanea-de-jonathan-edwards-ha-duas-vontades-em-deus-sim/
Sem diferenciar a lei moral (que define o que é certo e errado, justo e injusto) e a lei decretiva (o que Deus efetivamente decreta que acontece no mundo por Sua soberania) fica impossível se falar em certo e errado, pois se tudo que acontece é a vontade de Deus sem distinção entre a moral e a decretiva, tudo que acontece está certo, pois Deus não erra, nada que acontece é pecado pois Deus não peca e assim não existira base para o julgamento de Deus aos homens, pois tudo estava de acordo com Sua vontade.
A tese por si só já se revela como absurda... Fico pensando como o autor e seus leitores não percebem um erro tão claro e grave como esse!!! Talvez a vontade de se criticar o que não se conhece é tão grande que incorrem em absurdos.
“A capacidade do homem em se organizar política e socialmente, bem como a autocensura que se impõe por intermédio da criação de leis capazes de lhe arrefecer a maldade e garantir-lhe direitos, obrigações e restrições à sua liberdade são a prova cabal de que o Altíssimo influencia toda a sua criação, impondo a sua “Lei”, ainda que não o faça “diretamente” pela via da aplicação da lei mosaica, como querem os “teonomistas”.”
O erro infantil apontado acima se irradia de forma inexorável por todo o texto ao falar do assunto, o que por si só já o desqualifica, mas uma coisa é importante se pontuar nesse trecho. O autor diz que a capacidade do homem de organizar a sociedade demonstra que Deus não pretende que a Lei dEle seja aplicada na terra.
Pergunto-me se o autor mora no mesmo planeta e país que eu. Alguém em sã consciência diria que as leis dos homens tem sido capazes de refrear a maldade e de criar uma sociedade justa? Além de defender a autonomia (a determinação do certo e errado pelo homem sem submissão a Deus, remontando o pecado de Adão) na esfera social, ainda recai no absurdo de dizer que o que acontece no mundo hoje em dia está de acordo com a vontade moral de Deus. Isso é simplesmente absurdo!!!
“Imagino que as leis que criamos por intermédio dos nossos representantes nas Câmaras, Assembléias, governos - democráticos ou não - são uma extensão da “Lei de Deus”, providencialmente usadas por Ele em prol dos seus desígnios secretos e eternos. Não concordo que a “lei mosaica” seja a única expressão da Lei de Deus, ou que tenha permanecido imutável, estagnada, tal como ditada a Moisés no deserto.”
Não, essa foi demais!!!! Será que a legalização do aborto, o casamento homosexual e coisas do tipo são extensões da vontade de Deus? Não vou nem falar mais nada sobre isso, não tem como argumentar contra um absurdo desses. O argumento é um tiro no pé por si só.
“Com temor e tremor eu jamais me arriscaria a afirmar a exclusividade da lei mosaica. E, mais do que isso, crendo na progressividade da revelação, no dinamismo que o próprio Deus infundiu ao homem e à sua criação não posso aceitar o regramento literal da lei mosaica para a atualidade.”
Além de dizer que os absurdos feitos pelos homens hoje são da vontade de Deus o autor mata o conceito de Sola Scriptura, pois com a sua “progessividade de revelação” e esticando ela até os dias de hoje e aos absurdos mais bárbaros dos homens, deixa implícito que a Bíblia não é a única fonte de revelação de Deus, pois se tudo que os homens fazem hoje até as coisas que vão contra a Bíblia fazem parte da vontade de Deus então a Bíblia fica obsoleta para seguir a “dinâmica da criação”, ou pelo menos não tem exclusividade enquanto revelação da vontade de Deus. Talvez por isso nem um versículo é citado no texto e todo pensamento do autor é baseado em achismos.
“fora a graça comum, Deus toca alguns, regenerando-os, transformando-os, fazendo com que “nasçam de novo”. E são estes que terão a incumbência de “salgar a terra” através da Luz de Cristo. Creio na influência dos regenerados a testemunhar Cristo muito mais do que a imposição da lei mosaica por si só. A influência benéfica desse “remanescente fiel que não dobrou os joelhos a baal” é que fará a diferença e não as pedras dos apedrejadores.”
Nessa parte final o autor demonstra sua ignorância quanto à teonomia e concorda com um dos seus preceitos básicos: o que modifica a sociedade é a conversão e não a imposição da lei. O estabelecimento da lei de Deus na sociedade é apenas um reconhecimento de uma maioria de Cristãos entre o povo de que Deus é o único capacitado para estabelecer de forma correta o que é certo e o que é errado e voluntariamente elege a lei de Deus como norteador da sociedade. A conversão vem sempre em primeiro lugar essa é a função da grande comissão. Recomendo o estudo do pós-melenismo para melhor compreensão do tema. Fica como recomendação de leitura os seguintes textos:
Um bem curto sobre o que a teonomia não é.
http://monergismo.com/greg-bahnsen/o-que-nao-e-teonomia/
E um sobre a Grande Comissão. http://www.monergismo.com/textos/evangelismo/grandeza-grande-comissao-prefacio_north.pdf
Assim eu encerro essa refutação, ficou bem claro os absurdos advogados pelo autor e seu desconhecimento da tese que visa criticar!!!
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